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GRAMÁTICA: ao bom leitor, com Camões e afeto; ao petralha, um pontapé pedagógico no traseiro: com bibliografia

O leitor Thiago já me mandou duas vezes um comentário sustentando que cometi um erro ao empregar a vírgula no trecho abaixo: O caso é de tal sorte escandaloso, que um sem-terra não deixa de ser sem-terra mesmo que tenha… terra!!! No último, ele escreve: NÃO PRECISA PUBLICAR. Oi, Reinaldo! Só para lembrar novamente que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h43 - Publicado em 6 out 2009, 21h11

O leitor Thiago já me mandou duas vezes um comentário sustentando que cometi um erro ao empregar a vírgula no trecho abaixo:

O caso é de tal sorte escandaloso, que um sem-terra não deixa de ser sem-terra mesmo que tenha… terra!!!

No último, ele escreve:

NÃO PRECISA PUBLICAR.
Oi, Reinaldo! Só para lembrar novamente que oração consecutiva não leva vírgula.
“O caso é de tal sorte escandaloso, que um sem-terra não deixa de ser sem-terra mesmo que tenha… terra!!!”
Logo, essa vírgula aí não deveria existir. Juro!!!!

Comento
Ele não é agressivo, não. Está sinceramente empenhado em corrigir o que considera um erro. Vamos lá. Com efeito, Thiago, regra geral, não se usa vírgula em orações c0nsecutivas — e aquela, à falta de melhor definição, pode ser considerada consecutiva.

Quando as subordinadas vêm depois da principal, as vírgulas são quase sempre dispensáveis. Mas podem ser usadas, sim — inclusive nas consecutivas —, especialmente quando as duas orações têm sujeitos distintos. Mas não só nesse caso.

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Quem chega a esse detalhe da gramática conhece as estrofes 37 e 38 do Canto V de Os Lusíadas, famosíssimas porque preparam a aparição do Gigante Adamastor:

Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
“Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?”

Viu a consecutiva ali, Thiago? E separadinha por vírgula. Eu não sou Camões, é bem verdade. Mas eu e ele temos o direito de usar vírgula antes de oração consecutiva — a depender do caso. Em Gramática Essencial da Língua Portuguesa, Luiz Antonio Sacconi dá dois exemplos de orações consecutivas, ambos com vírgula:
Falei tanto, que fiquei rouco
Era tal seu entusiasmo, que desmaiou

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Só uma coisa, Thiago: o seu cuidado — “não precisa publicar” — é desnecessário. Não me importo que me corrijam. Aliás, conto sempre com o leitor para melhorar este blog.

Substantivos transitivos
Empreguei outro dia aqui a expressão “substantivo intransitivo”, e um petralha resolveu me chamar de ignorante, claro: “Oh, só os verbos podem ser intransitivos ou transitivos”. Vá estudar, animal! O conceito é empregado por alguns gramáticos para distinguir substantivos que requerem (ou não) complementos. Para se entender, aliás, o que é exatamente um “complemento nominal” e o que o distingue, em alguns casos, do adjunto adnominal, é preciso trabalhar com a noção de transitividade do substantivo e do adjetivo. Aqui, na página 63 da coluna que abre à direita, vocês encontram uma explicação dada por Celso Pedro Luft em Moderna Gramática Brasileira. Não é um conceito com que se trabalhe usualmente no segundo grau. Mas o vagabundo que chega com aquela agressividade tem de, ao menos, fazer antes uma pesquisa.

É um prazer responder a leitores como Thiago. E também é um prazer responder ao petralha. O primeiro é o prazer da conversa instrutiva — pra ele e pra mim. O segundo é o prazer do chute no traseiro. Quem disse que eu não gosto de chutar? Mas sempre chuto com bibliografia. Vale dizer: não deixa de ser um pontapé instrutivo. Já que, a exemplo de Lula, eles têm sono quando pegam um livro, eu os instruo com a  minha botina pedagógica.

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