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Glauber Rocha no Senado: “Se entrega, Corisco”

Othon Bastos no papel de Corisco O lema de Gabeira para “pegar” Renan Calheiros, lembrou bem a jornalista Lúcia Boldrini, é o mote da música “Perseguição”, de Sérgio Ricardo e Glauber Rocha, trilha do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber, feito em 1963 e exibido em 1964. É assim: Se […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h24 - Publicado em 17 set 2007, 18h34
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    Othon Bastos no papel de Corisco
    O lema de Gabeira para “pegar” Renan Calheiros, lembrou bem a jornalista Lúcia Boldrini, é o mote da música “Perseguição”, de Sérgio Ricardo e Glauber Rocha, trilha do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber, feito em 1963 e exibido em 1964. É assim:

    Se entrega Corisco!
    Eu não me entrego não
    Eu não sou passarinho Pra viver lá na prisão

    Se entrega Corisco eu não me entrego não
    Não me entrego ao tenente
    Não me entrego ao capitão

    Eu me entrego só na morte de parabelo na mão
    Se entrega Corisco
    Eu não me entrego não! Eu não me entrego não
    Eu não me entrego não.

    A brincadeira é boa, mas pode ser um pouco condescendente com o jagunço de terno. Por que digo isso? Segue a síntese do filme, para quem não viu, que está no site Tempo Glauber:

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    O argumento de Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma síntese de fatos e personagens históricos concretos (o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, Antônio Conselheiro e Antônio Pernambucano (jagunço ou assassino de encomenda de Vitória da Conquista). O vaqueiro Manuel se revolta contra a exploração de que é vítima por parte do coronel Morais e mata-o durante uma briga. Foge com a esposa Rosa da perseguição dos jagunços e acaba se integrando aos seguidores do beato Sebastião, no lugar sagrado de Monte Santo, que promete a prosperidade e o fim dos sofrimentos através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Ao presenciar o sacrifício de uma criança, Rosa mata o beato. Ao mesmo tempo, o matador de aluguel Antônio das Mortes, a serviço dos coronéis latifundiários e da Igreja Católica, extermina os seguidores do beato. Em nova fuga, Manoel e Rosa se juntam a Corisco, o diabo loiro, companheiro de Lampião que sobreviveu ao massacre do bando. Antônio das Mortes persegue de forma implacável e termina por matar e degolar Corisco, seguindo-se nova fuga de Manoel e Rosa, desta vez em direção ao mar.

    Num artigo de16 de agosto de 1964 no semanário L’Expresso, o escritor italiano Alberto Moravia (1907-1990) escreveu o seguinte a respeito do filme:

    “Assim, o Santo Sebastião e Corisco representam Deus e o diabo, ambos deformados e transtornados pela solidão do sertão. De maneira característica, a solução do problema social representado por figuras como o Santo Sebastião e Corisco é confiada à carabina infalível de Antônio das Mortes, matador profissional, figura sinistra, melancólica e lógica de assassino visionário, o qual imagina que, uma vez eliminados o diabo (Corisco) e Deus (o Santo Sebastião), haverá então a guerra de libertação, ou melhor, a revolução, que redimirá o sertão. É assim que Antônio das Mortes fulmina o profeta e o bandido. Manuel, símbolo do povo brasileiro, escapa, testemunha viva da verdade das teses do filme.”

    O Corisco de Glauber não deixava de ser produto de um conjunto de circunstâncias que não dependiam de sua escolha, como um mandacaru. O Corisco do Senado já é o resultado de uma visão bem mais cínica, planejada. E não será eliminado por Antônio das Mortes. Tem de ser banido pela lei.

    Se entrega, Corisco!

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