Espionagem: Fiquei tão indignado que, hoje, ao acordar, cantei o Hino Nacional em frente ao retrato de Dilma. Ou: Será que a presidente que está aí já foi chipada?
Fiquei tão indignado com reportagem de ontem do Fantástico que a primeira coisa que fiz hoje, ao acordar, foi cantar o Hino Nacional e reverenciar a imagem da presidente Dilma Rousseff, que tenho numa espécie de santuário, num cantinho aqui de casa. Não! Não tirei ainda o retrato de Lula. Continua lá também. Todos os […]
Fiquei tão indignado com reportagem de ontem do Fantástico que a primeira coisa que fiz hoje, ao acordar, foi cantar o Hino Nacional e reverenciar a imagem da presidente Dilma Rousseff, que tenho numa espécie de santuário, num cantinho aqui de casa. Não! Não tirei ainda o retrato de Lula. Continua lá também. Todos os dias, sou grato ao fato de essa gente nos salvar de diabólicos dissabores e das tramas engendradas por aquele nosso inimigo do Norte. É evidente que se trata de um superfaturamento do caso, que será, pois, superfaturado pela política. Deixem-me ver… Mais duas semanas, e a popularidade de Dilma chega a uns 45%, por aí… Uma luta contra uzamercânu pega bem. Sabem como é? Só não somos uma potência pra valer porque eles nos atrapalham…
Vi e revi a reportagem. Conversei com gente da área:
1: nada prova que tenha mesmo havido invasão ao conteúdo das mensagens;
2: o que se tem ali é uma seleção de um monitoramento muito mais amplo, pinçado para criar um caso político.
3: a reportagem, de que, parece, Glenn Greenwald (aquele que acha que os próprios EUA são culpados pelos ataques terroristas havidos em Boston), é um dos autores, é feita sob medida para provar uma tese do jornalista do Guardian que mora no Brasil (e que não é correspondente do jornal NO Brasil): a NSA faz espionagem com objetivos puramente comerciais e econômicos; nada teria a ver com o combate ao terrorismo.
É claro, e ninguém está a dizer o contrário — eu tampouco —, que o governo brasileiro tem de cobrar explicações e coisa e tal. Mas não é menos verdade que o país está servindo de palco e território de uma corrente de pensamento, de que Greenwald é hoje um ativo militante, que localiza nos EUA uma espécie de centro da conspiração mundial contra o bem, o belo e o justo.
Não é a minha praia, não é o que eu penso, não acho que se chegue, por esse caminho, a um bom lugar. Greenwald tem uma causa, e o Brasil é o território incidental que lhe serve de plataforma — adicionalmente, seu marido mora aqui, o que justifica seu domicílio. Ai, ai… Até parece que os americanos, ou quem quer que seja, precisam de uma NSA para defender seus interesses no Brasil.
Existem, sim, disputas em curso, mas passam por outros caminhos. As Fundações Ford da vida e congêneres estão hoje em todo canto, multiplicam-se em ONGs as mais variadas, e financiam movimentos de índios, de preservação das florestas e afins. Isso, sim, é fato materialmente verificável, constatável, visível. Não é necessário ficar inferindo esquemas muito mirabolantes…
Mas tá… Esse negócio vai agora inflamar o sentimento nacionalista. A depender do que role, ficaria bem até mesmo um pronunciamento público de Dilma Rousseff, aquela que trouxe pra dentro do Brasil um pedaço da tirania cubana, assegurando que vai nos proteger das maldades do Império Americano. Enquanto isso, Edward Snowden, lá da Rússia, outro paraíso democrático, continuará a alimentar a luta de Greenwald contra o Mal!
É bom não esquecer, e se está esquecendo, que toda essa conversa inútil deriva de um crime: Snowden roubou informações secretas e as passou a Greenwald, que as seleciona e divulga segundo seu interesse. Que país, incluindo o Brasil, resistiria a esse tipo de divulgação?
Mas, para lembrar Olavo de Carvalho (ver resenha), estamos diante de um caso que deixa o “Idiota Coletivo” excitado. Lutar contra os EUA, contra o “poder”, o faz sentir-se membro de uma comunidade, entendem? Então não somos nós mesmos, como povo, os responsáveis por nossos desacertos — nem por nossos votos. Como asseveravam todas as teorias conspiratórias que circulam na Internet, existia mesmo “O Sistema”.
Não tenham dúvida: não fosse esse monitoramento, os aeroportos já estariam privatizados há tempos e funcionando às mil maravilhas; há muito os nossos portos estariam operando com eficiência; os investimentos estariam garantindo um crescimento sustentável da ordem de 4,5%, 5%; a inflação estaria dentro da meta; o sistema de saúde não seria o descalabro que é, e nossas escolas estariam educando as nossas crianças, em vez de funcionar como postos de distribuição de merenda superfaturada. Não fosse esse monitoramento, o Brasil já teria celebrado dezenas de acordos comerciais, como faz o resto dos emergentes, em vez de esperar um acordo global que não chega nem chegará…
Mas quê! Glenn Greenwald descobriu tudo: os Homens de Negro da NSA estavam no meio do caminho. Ou eles chiparam o cérebro de Dilma Rousseff ou, sei lá, por meio de ondas de um raio qualquer, a levaram a conspirar contra os interesses nacionais. Pois é… Comecem a pensar nisto: e se a Dilma que vemos não for a Dilma que pensamos? Considerando o desempenho do seu governo, parece-se razoável supor que seja uma abduzida a serviço de nossos concorrentes internacionais.
Que preguiça dessa história!