Eita! Gilberto Carvalho diz, de novo!, que José Trajano, da ESPN, e seus melancias às avessas da Disneylândia estão errados: não foi a “elite branca de SP” que vaiou Dilma! Ministro, no entanto, ignora os fatos para constranger a imprensa
Nunca tratei aqui Gilberto Carvalho (foto), secretário-geral da Presidência, como o meu homem público predileto, como sabem. Já o critiquei bastante, o que também é notório. Mas há uma coisa sobre ele que eu nunca disse — porque não acho: que seja burro. Não é mesmo! Ao contrário. Eu o conheço faz tempo, desde quando […]
Nunca tratei aqui Gilberto Carvalho (foto), secretário-geral da Presidência, como o meu homem público predileto, como sabem. Já o critiquei bastante, o que também é notório. Mas há uma coisa sobre ele que eu nunca disse — porque não acho: que seja burro. Não é mesmo! Ao contrário. Eu o conheço faz tempo, desde quando ele era o braço-direito de Celso Daniel, em Santo André — ele me conhece também —, e sei que é muito inteligente, ainda que sua inteligência seja posta a favor de teses que abomino. Daí que esteja tentando consertar a burrada que alguns companheiros seus — inclusive os da imprensa — andaram fazendo quando afirmaram que os xingamentos e vaias a Dilma, no Itaquerão, são coisa da “elite branca de São Paulo”. Carvalho, que está certo neste particular, concorda, ora vejam, com Reinaldo Azevedo: ele acha que isso é mentira! Parabéns, ministro! Também acho. Mas ele aponta essa mentira por maus motivos, o que vou explicar daqui a pouco.
Em entrevista a Natuza Nery, na Folha desta segunda, Carvalho repete o que dissera na quarta em entrevista aos blogueiros chapas-brancas, que fazem os chamados “blogs sujos”, financiados pelo governo federal e por estatais. Segundo ele, esse negócio de culpar a elite branca é “um erro de diagnóstico”. E, com acerto, afirma: “Quando você não tem um bom diagnóstico, não tem um bom remédio”. É o que escrevi na quinta neste blog e comentei, no mesmo dia, na Jovem Pan. Carvalho chega a citar o show do Rappa, lembrado por mim num post de 15 de junho, a saber: na madrugada do dia 1º, o público que acompanhava o show do grupo em Ribeirão Preto já havia premiado a presidente Dilma com os mesmos xingamentos que se ouviram no Itaquerão. Segue o vídeo para quem ainda não viu.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=ajPrJe3_9Gg%5D
Trajano desolado
Desolados com essa avaliação do chefão petista devem estar o tal José Trajano, da ESPN, e sua equipe de melancias às avessas da Disneylândia: vermelhos por fora e verdinhos por dentro. O comentador de futebol não só acha que as vaias decorreram da elite branca de São Paulo como afirmou, vejam vocês!, que tanto a manifestação como os protestos de que a própria emissora foi alvo partem dos leitores de Reinaldo, eu mesmo, Demétrio Magnoli, Augusto Nunes e Diogo Mainardi.
Carvalho é mais do que um prosélito vulgar, desses que saem por aí puxando o saco do governo para ganhar seu rico dinheirinho. Ele é um articulador do poder. Se interessa a um governo a fama de amigo dos negros, dos índios, dos chamados “oprimidos”, não interessa a de inimigo dos “brancos”. É preciso ser muito imbecil para cair nessa conversa — que, reitero, começou na imprensa, muito especialmente na ESPN. Parte do PT, inclusive Lula, adotou a tese em seguida.
O Planalto dispõe de pesquisas e sabe que Dilma não ganhou um miserável voto com isso. Aquela história de que o xingamento tinha sido bom para a presidente, que chegou a ser veiculada em alguns jornais, era mentirosa. E Carvalho confessa isso mais uma vez.
“Ah, Reinaldo, então o ministro está, desta vez, com uma boa tese?” É claro que não! Na entrevista à Folha, a exemplo do que disse para os blogs sujos, ele insiste na existência de uma espécie de conspiração da mídia contra o governo e contra o PT, o que é mentira. Esse complô é que seria responsável pelas manifestações contra o governo.
Essa tese do complô está na raiz da iniciativa do partido de criar uma lista negra de jornalistas. De resto, trata-se de uma bobagem autoevidente: afinal, o PT está no seu terceiro mandato e tem boas chances de emplacar o quarto, o que lhe daria 16 anos ininterruptos de poder. Das duas uma: ou esses supostos conspiradores são muito incompetentes, ou o governo sabe vencê-los com facilidade. Num caso ou noutro, então, não deveriam preocupar ninguém.
A verdade é que há milhões de pobres e remediados — brancos, pretos e pardos — descontentes com o governo por sua própria conta. Carvalho sabe disso. Só não o admite porque, entre as suas tarefas, está constranger a imprensa e jogá-la na defensiva para que o partido lucre com o seu esforço — o da imprensa — de provar que ele está errado. E quem não cai na sua conversa e não tenta provar que é inocente do crime que não cometeu vai parar numa lista negra.