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É religião? 2 – Quando a falência da razão encontra o cinismo

Leiam o que vai abaixo. A notícia estava na edição de hoje do Estadão. Volto depois: Por Wálmaro Paz: O pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Fábio Guimarães da Silva Pereira queimou, durante um culto, duas imagens da história missioneira cadastradas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele havia […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h17 - Publicado em 19 out 2007, 18h41
Leiam o que vai abaixo. A notícia estava na edição de hoje do Estadão. Volto depois:

Por Wálmaro Paz:

O pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Fábio Guimarães da Silva Pereira queimou, durante um culto, duas imagens da história missioneira cadastradas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele havia retirado as estátuas da casa de uma família que era fiel depositária das peças em troca de orações para curar um doente. O pastor responde por crime contra o patrimônio histórico na 3ª Vara Cível de São Borja, no Rio Grande do Sul.Pereira alegou que a queima de imagens é uma pratica comum nos cultos da Universal. Mas garantiu não saber que as duas imagens, uma do Senhor Morto e outra de São Pedro, eram cadastradas no Iphan.

A denúncia ao Ministério Público foi feita pelo diretor de Assuntos Culturais do município, Fernando Rodrigues, no mês passado, quando a família Ayala Chagas resolveu fazer a doação para o museu municipal de oito imagens de madeira das quais era guardiã. Na ocasião, Oraides Chagas informou Rodrigues de que o pastor havia levado as duas imagens. Orientado pelo Iphan, o diretor procurou a Polícia Federal e o Ministério Público, que representou contra o pastor.

São Borja é um dos Sete Povos das Missões, fundado em 1636 pelos jesuítas como uma redução de índios guaranis. Dessa época, restam apenas 82 peças no estilo barroco jesuítico, todas tombadas pelo Iphan. Dessas, 35 estão no Museu Municipal Aparício Silva Rillo, 13 encontram-se em poder da Igreja Católica e as outras 34 estão espalhadas por casas de família que já detinham a posse delas.

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A família Ayala Chagas, moradora de um bairro pobre da cidade, conservava em seu poder oito imagens que foram salvas de um incêndio em uma capela próxima de sua casa na primeira metade do século passado. Oraides Chagas contou que havia cinco gerações eles vinham cuidando das estátuas em um pequeno oratório na sala da residência. Com a doença de seu marido, Leôncio Ayala Chagas, que sofria de câncer, Oraides recorreu às orações do pastor para curá-lo. Em troca, ele exigiu as estátuas para queimá-las em um culto. Chagas morreu de câncer em julho e os filhos procuraram o museu para fazer a doação com o objetivo de salvar as outras estátuas.

Voltei
E sobre — eu quis escrever “sobre” mesmo — esse escombro moral, essa delinqüência teológica, essa violência religiosa, esse crime cultural, que se erige a seita do bispo Edir Macedo. O pastor cometeu, com seu gesto apalhaçado, uma penca de crimes — a começar, é evidente, do cultural. Mais: incentiva a intolerância religiosa.

É o charlatanismo que se aproveita da ignorância; é a vigarice que se apossa do desespero. Algo a fazer quanto a isso? Já escrevi aqui algumas dezenas de vezes. As pessoas são livres até para se deixar enganar; até para acreditar em milagreiros picaretas; até para se deixar roubar. O que não pode é o estado, aí sim, fazer de conta que coisas como essas não acontecem e conceder emissoras de TV a quem adota essas práticas. Aí não.

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O cretinismo que tomou conta da imprensa se diverte em noticiar os “sucessos” da Rede Record, que, quem sabe?, um dia ameacem a TV Globo. Eis aí os novos “iluministas” contra o suposto imperialismo global. Eis a sua moral profunda dessa gente. É de práticas como essa que saiu o dinheiro que comprou a Rede Record e que formou a Record News. Ou, então, gostaria que os membros da seita me provassem que não.

A empresa religiosa de Edir Macedo se expandiu, não é? Hoje finge tolerância e urbanidade, mas, nos rincões do Brasil, evidencia quais são os seus métodos. Não chuta santos. Queima-os. Um amigo me mandou um DVD com a entrevista que Paulo Henrique Amorim fez com o seu patrão, Edir Macedo. Comecei a ver, mas não consegui avançar — talvez ainda volte. É sério: faltou-me estômago. Interrompi. Era como se miasmas de algo muito maligno começassem a se espalhar na sala de TV. Nada de místico, não. Era apenas um momento em que a falência da razão se encontrava com o mais escancarado cinismo.

O que vai acontecer com o pastor e com a IURD? Muito provavelmente, nada.

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