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Discursos delinqüentes

O discurso delinqüente, para prática idem, vai tomando conta do espaço público brasileiro numa velocidade vertiginosa. Governo e alguns líderes de oposição vão-se adaptando ao padrão que emana do Palácio do Planalto. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff se encarregaram de degradar um tantinho mais a República, fazendo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h57 - Publicado em 29 nov 2006, 06h55
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  • O discurso delinqüente, para prática idem, vai tomando conta do espaço público brasileiro numa velocidade vertiginosa. Governo e alguns líderes de oposição vão-se adaptando ao padrão que emana do Palácio do Planalto. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff se encarregaram de degradar um tantinho mais a República, fazendo pouco caso das instituições, da razão, da lógica. Lá de Washington, mas parecendo que estava nas nuvens, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), digredia sobre um certo jeito mineiro de fazer política, exaltando as glórias de sua terra na arte da negociação, reiterando a sua amizade pelo presidente Lula. Pode ser amigo de quem quiser. Deveria deixar claro que é, quando menos, adversário dos métodos petista. Ele é?

    Vamos a dois casos exemplares do que falo. Abaixo, vocês lêem que Dilma, comentando o contrato entre o Canal 21 (da Rede Bandeirantes) e a Gamecorp (de Lulinha, filho de Lulão), entregou-se a digressões sobre como documentos dessa natureza são comuns no mercado. A ministra, fingindo uma tolice que não tem e revelando a moralidade que tem, fez de conta que o problema era de natureza, sei lá, meramente contratual, legal. Evidentemente, a questão é outra: a empresa de que o filho do presidente é sócio não só recebeu, no passado, injeção de capital de uma concessionária pública (Telemar), de que o BNDES é sócio, como é fartamente financiada com publicidade oficial: tanto a institucional, do governo, como a das estatais.

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    A oposição piou? Só o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), até onde sei, cobrou explicações. O resto é de um silêncio sepulcral. Vai ver estão todos à espera da agenda de Lula. Como observa o professor Marco Antonio Villa (leia abaixo), não adianta “deixar o homem trabalhar”. Ele não tem a menor idéia do que fazer. Certa feita, as oposições acharam uma tática inteligente deixar Lula sangrar no cargo para colher o fruto que cairia da “árvore dos acontecimentos” (a expressão é de Marx). Deu no que deu. Pode parecer incrível: mas se está fazendo agora o mesmo cálculo. Cálculo que engoliu os calculistas da primeira vez. Que tem tudo para engoli-los de novo.

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    Lula entre os gentios
    Ontem à noite, em discurso na CNI (Confederação Nacional da Indústria), Lula deu uma pequena amostra de sua perdição (veja abaixo). Leiam este trecho: “Um país que não tem cidades com disposição de investir, Estados com disposição de investir, a União não pode investir. Um país que tem de cumprir um superávit que nós temos que cumprir, ainda tem a Lei de Responsabilidade Fiscal que nós temos que cumprir. Vocês percebem que precisa mais do que um economista, precisa de um bando de mágicos para que a gente tente encontrar uma saída para fazer esse país voltar a crescer. E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer.”

    Não fosse glossolalia, seria a fala de um esquizofrênico. Onde é que estão as sobras para Estados e municípios investirem? 67% das cidades brasileiras estão falidas. Observem que, claro, ele está responsabilizando os outros, como se estivesse cumprindo devidamente a sua parte. Não é difícil observar que ele põe a Lei de Responsabilidade Fiscal como um entrave para o crescimento. Estabelecidos os impedimentos, ele chega a uma conclusão: só mesmo um mágico para fazer o Brasil crescer. E depois anuncia: “E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer.” Ou seja: Lula acaba de anunciar que é um mágico! Se ficasse distraindo Dona Marisa tirando coelho da cartola, eu não dava a mínima. Mas é presidente da República. Ademais, o mágico da família é Lulinha. Quando o pai chegou à Presidência, era monitor de jardim zoológico. Menos de quatro anos depois, comanda uma emissora de TV.

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    Os “inimigos” ainda não estavam devidamente identificados. O pai de Lulinha Gamecorp Canal 21 Telemar da Silva tinha um outro alvo: a imprensa. “Eu posso fazer uma confissão aqui na frente de tantos governadores, de tantos empresários e de tantos ministros. Eu, se fosse levar em conta todas as desgraceiras vendidas no Brasil o dia inteiro na imprensa, eu não sairia de casa de manhã. Porque a impressão que eu tenho é que o Brasil tem dia que vai acabar e tem dia que não vai acabar”. Como se vê, na cabeça perturbada de Lula, o jornalismo não noticia os problemas; ele os inventa. Tal fala, no dia em que fica claro que seu filho é beneficiário direto de verba publicitária do governo e dos estatais, doura um escândalo com outro. E qual será reação da oposição nesta quarta? Provavelmente, nenhuma.

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    Mesmo ela, vê-se, tão cordata, tão amigável, tão afável, tão disposta a colaborar, levou a sua tunda. “(…) nós acabamos de sair de um episódio em que uma parte dos políticos brasileiros aprovaram 13º salário para o Bolsa Família. Estou falando de pessoas que fazem discursos dizendo que querem ser sérios e aprovaram 17% de aumento para os trabalhadores aposentados (…) como se aquilo fosse apenas uma peça de campanha, sem a conseqüência do dia seguinte da irresponsabilidade.” É o Lula que pedia 70% de reajuste para o funcionalismo no governo FHC e que concedeu 0,1% quando chegou ao poder. É o Lula chefe máximo do partido que recorreu ao STF contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

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    Não, não quero chamar a atenção para as bravatas de antes e as patuscadas de agora deste patriota. Esse Lula que ignora seu passado também é velho. Delinqüente é o discurso que tenta atribuir às oposições, já tão raquíticas, parte das dificuldades que o país enfrenta para crescer. O governo tem maioria na Câmara para barrar as duas medidas a que ele alude. Maioria que, não custa lembrar, custou e custa caro ao país num governo sem projeto, obrigado a lotear os cargos para conseguir o apoio de outros patriotas…

    Defini outro dia a era Lula como um governo de idiotas de esquerda apoiado por idiotas de direita. A cada dia, estou mais convencido disso. Acrescente-se, claro, o ingrediente do oportunismo nos dois grupos. A uns, Lula seduz com caraminguás de totalitarismo; a outros, com juros. E as oposições? Ah, continuam pisando nos astros distraídas.

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