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Dilma em seu momento Odorico Paraguaçu. Ou: vamos botar ordem nessa etimologia!

A companheira Dilma Rousseff viveu hoje o seu momento Odorico Paraguaçu, o já lendário prefeito de Sucupira, que gostava de inovar no uso dos advérbios. Leiam o que segue. Volto em seguida. Dilma diz que governo está “noturnamente” atento à inflação A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira que o governo não vai “aquecer” o […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h11 - Publicado em 26 abr 2011, 19h21

A companheira Dilma Rousseff viveu hoje o seu momento Odorico Paraguaçu, o já lendário prefeito de Sucupira, que gostava de inovar no uso dos advérbios. Leiam o que segue. Volto em seguida.

Dilma diz que governo está “noturnamente” atento à inflação

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira que o governo não vai “aquecer” o debate econômico. Declarando por duas vezes que cumpre seus compromissos, ela voltou a dizer que não permitirá um descontrole da inflação. “Todo aumento da inflação vai exigir que o governo tenha uma atenção bastante especial sobre as suas fontes e causas. Então eu quero dizer a esse conselho: o meu governo está diuturnamente, e até noturnamente, atento a todas as pressões inflacionárias, venham de onde vier, e fazendo permanente análise dela”, disse Dilma. Em um discurso forte na primeira reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) de seu governo, Dilma pediu que os empresários e a sociedade confiem nas medidas adotadas pelo governo para o controle da alta de preço. Segundo a presidente, parte das cobranças por novas medidas é motivada por calor e paixão do debate.

“Compreendo que alguns tenham dúvidas a respeito. Compreendo quando setores da sociedade, no calor do debate econômico, duvidem de tudo, cobrem diariamente novas medidas, insistem na ação cotidiana na cobrança de novas e novas medidas contra tal ou qual desequilíbrio. Mas compreender o calor e a paixão que envolvem normalmente o debate não pode significar para o governo aquecê-lo mais do que é necessário”, disse. A presidente reforçou o discurso do ministro Guido Mantega (Fazenda) e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que o cenário mundial vive um surto inflacionário. “É preciso enfrentar os desafios colocados a nós tanto pela conjuntura nacional quanto pela conjuntura internacional. Coexistem nesse momento velocidades diferentes e assimétricas na recuperação dos países após a maior das crises das últimas décadas.”

E completou: “os países emergentes que, é bom que se reconheça, sustentaram a dinâmica econômica no pior momento da crise agora são pressionados por políticas de expansão intensa da liquidez internacional, geradora de desequilíbrios não só cambiais, mas também de desequilíbrios inflacionários. Isso é importante que nós tenhamos consciência e clareza”.

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Bons problemas
Em sua fala, a presidente minimizou a situação das obras dos aeroportos e conflitos em grandes obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para a presidente, esses são bons problemas. Ela disse que os conflitos em grandes obras mostram que o país voltou a investir. “Sabemos que muitos dos problemas que vivemos hoje, e temos compromisso de enfrentar e resolver, podem ser chamados de bons problemas”, disse.

A presidente disse ainda que “é sempre melhor enfrentar os problemas do crescimento, do que enfrentar os problemas do desemprego, da falta de renda, da falta de investimento e da depressão econômica”. Sobre o atraso nas obras dos aeroportos nas cidades que vão receber a Copa, a presidente afirmou que o governo está atento, mas está avaliando medidas de curto, médio e longo prazo, que não terão efeitos apenas para os eventos esportivos.

Durante a reunião, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) anunciou que Dilma autorizou a Secretaria da Aviação Civil a definir os critérios para a concessão das obras dos aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF). O ministro disse ainda que o governo vai acelerar os estudos para as concessões das obras nos aeroportos em Cofins (MG) e no Galeão (RJ). Dilma afirmou ainda que o governo vai oferecer bolsa para brasileiros estudarem no exterior na área de exatas. Serão 75 mil bolsas até 2014. A presidente disse que se houver o engajamento do setor privados poderão ser 100 mil bolsas nesse período.

Comento
A parte séria do discurso presidencial não foge ao habitual em política. Quando tudo vai bem, isso se deve à genialidade dos governantes; quando os problemas aparecem, é porque a conjuntura internacional se mostra desfavorável. O primado só não vale para adversários; nesse caso, tem-se o contrário: o bem deriva da sorte e do acaso, e o mal, dos erros, da incompetência ou da má fé. Isso tudo é chato e demasiadamente humano.

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Não obstante, os problemas enfrentados na área de infra-estrutura, especialmente a aeroportuária, derivam, sim, da inoperância do governo Lula — e de Dilma Rousseff em particular. A área estava sob a guarda da então superministra. Tenta-se fazer a toque de caixa o que poderia ter sido feito com planejamento. A ideologia impediu que se fizessem antes as concessões para os aeroportos. Agora, quem as apressa é a necessidade. Mas vamos ao mais saboroso.

Dilma erra no significado, embora a sua “Odoricada” possa merecer uma apreciação etimológica. O adjetivo “diuturno” não se refere a “dia” — não é sinônimo, por exemplo, de “diariamente” ou de “dia após dia”. O “diuturno” é aquilo que se prolonga no tempo, que subsiste, de dia ou de noite. Uma preocupação diuturna vai além das 18h, atravessa a noite e a madrugada. Se Guido Mantega, por exemplo, tem um “problema diuturno”, ele certamente dormirá antes de resolvê-lo. É o mesmo significado do adjetivo “diutinus”, em latim.

Ensina Francisco Torrinha, no “Dicionário Latino Português”, que o adjetivo “diuturnus”, sinônimo de “diutinus”, sofreu a influência de “diurnus”. Resulta do cruzamento dessas duas palavras, mas o significado permanece inalterado: é aquilo que se prolonga no tempo, jamais o que acontece durante o dia.

Assim, prafrentemente, Dilma pode se contentar com o “diuturnamente” para designar o modo como ela se ocupa da inflação, embora, muito guidamente, o governo pareça não saber o que fazer nem diária nem noturnamente… Culpa da tal “expansão intensa da liquidez internacional”. Obviamente!

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