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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Cineasta petista propõe a estatização de Maria Bethania e ataca os “brancos de São Paulo”

Jorge Furtado, diretor de cinema e TV, um dos “artistas” mais aquinhoados com as leis de “incentivo” à cultura (no post acima deste, vocês lerão, daqui a pouco), figura de destaque entre os “intelequituais” petistas, saiu em defesa do blog de Maria Bethania. Ele em vermelho; eu em azul. A gritaria contra o blog de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h32 - Publicado em 18 mar 2011, 19h18

Jorge Furtado, diretor de cinema e TV, um dos “artistas” mais aquinhoados com as leis de “incentivo” à cultura (no post acima deste, vocês lerão, daqui a pouco), figura de destaque entre os “intelequituais” petistas, saiu em defesa do blog de Maria Bethania. Ele em vermelho; eu em azul.

A gritaria contra o blog de Maria Bethânia é uma mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo.
A gritaria contra a gritaria contra o blog de Maria Bethania é mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo.

Ignorância, porque parte de idéia absolutamente falsa de que os produtores do blog – que pretende exercer a tarefa vital de divulgar a poesia – recebeu ou vai receber este dinheiro do governo. Juro que tenho saudade do tempo em que se lia fato ou ficção, hoje o que mais há são equívocos e mentiras, que não são um nem outro. O fato é que a única coisa que os produtores do blog receberam do governo foi a autorização para se humilhar, pedindo a empresários, de porta em porta, que considerem a possibilidade de, ao invés de entregar parte de seus impostos ao governo, patrocinar, com a vantajosa exposição de suas marcas, um blog de uma extraordinária artista brasileira, blog este que tem como objetivo divulgar a poesia, não há tarefa mais nobre.
Ignorância porque parte da idéia absolutamente falsa de que renúncia fiscal não é dinheiro público. E é. Juro que tenho saudade do tempo em que autores de ficção cuidavam de ficção, deixando os fatos para aqueles que têm competência técnica para apurá-los. Se “captar” financiamento é humilhação, Furtado é, então, uma das pessoas mais “humilhadas” do Brasil, já que poderia ser considerado o rei do incentivo, como se verá no post seguinte. Tanta humilhação lhe tem rendido fama e uma vida folgada. A ignorância — na melhor das hipóteses — faz Furtado afirmar que os empresários entregam o dinheiro ao “governo”. Não! Entregam-no ao Estado para ser usado em benefício da população. O objetivo, ao menos, é esse. Haver malandro que rouba dinheiro público não perdoa o compadrio no Ministério da Cultura.

Nada garante que os produtores do blog terão sucesso em sua jornada de mendicância entre a elite empresarial brasileira, freqüentemente iletrada.
Vejam como ele cospe no prato em que come! Se bem que Furtado, um senhor esperto, diria que iletrados são apenas aqueles que não lhe dão dinheiro para seus filmes.

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O mais provável é que consigam apenas uma parte desta verba e tenham que redimensionar o projeto, o que seria uma pena. Na minha opinião, o governo brasileiro deveria tirar do seu caixa o dinheiro (1,3 milhões de reais, uma ninharia perto da roubalheira do Detran gaúcho, dos pedágios paulistas, da máfia do governo Roriz/Arruda no DF, etc, etc…) e entregar para a Maria Bethânia, junto com um buquê de rosas e um cartão, pedindo desculpas pela confusão.
Furtado ignora, ou finge ignorar, que o governo não produz nada — muito menos dinheiro. Seus recursos pertencem aos brasileiros e saem do seu trabalho. Os colegas cineastas de Furtado nos EUA geram receita para o estado e para os americanos. No Brasil, Furtado integra a categoria do que “captam” dinheiro do estado e dos brasileiros, via renúncia fiscal, para fazer as suas obras. Em benefício do povo, é claro! É uma pena que socializem só suas metáforas mixurucas com a brasileirada. O fon-fon, eles embolsam. Vejam que, para este valente, Maria Bethania deveria ser um item do Orçamento: como uma ponte, uma usina, a saúde ou a educação. Dilma deveria fazer um “PAC Maria Bethania”.
Em tempo: o pedágio de São Paulo faz o estado ter as dez das dez melhores estradas do Brasil, com quase 90% da malha estadual em condições ótimas ou boas.  É um modelo que salva vidas. Há o outro, o do PT.  Os números do Carnaval provam ser um modelo assassino. Curiosamente, ao listar as lambanças, Furtado deixou pra lá o mensalão do seu partido.

Preconceito contra a internet, porque – como muito bem lembrou o Andrucha, na Folha: “Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça”. A distinção que alguns ainda fazem entre os meios cinema, televisão e internet seria engraçada se não fosse um empecilho ao desenvolvimento do país. Preconceito também contra os nordestinos, Nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista, enfim, os eleitores de Kassab e Serra, gente que lê e cita a revista Veja e beija imagens de santo para ganhar voto e acha que poesia é “uma besteira”.
O último refúgio de quem não tem argumentos é acusar o outro de preconceito. Doravante, todo paulista, porque paulista, estará proibido de criticar baianos porque baianos. Na mão inversa, mas com o mesmo sentido moral, sempre que um baiano criticar um paulista, ele estará necessariamente certo. Furtado, pelo visto, não gosta de São Paulo, que ele chama de “enclave branco direitista”, o que, desde logo, sugere que os negros estão mais próximos da esquerda e, claro!, concordam que se dê dinheiro para Bethania declamar. E, por que não?, para Furtado fazer filmes. Furtado não trata São Paulo com esse desdém por nada. Ele é um chapa antigo do PT. Se filiado ou não, pouco importa. No próximo post, vocês verão.

Mau-caratismo, porque a “polêmica” criada pela notinha da Mônica Bergamo assanha, para variar, o furor udenista que almeja – e obtém – manchetes moralizadoras. “Eu sou melhor que você”, gritam o lobão e também os três porquinhos, unidos em sua santa cruzada. Um publicitário engraçadinho – mais um – fez um blog que lhe garantiu seus 15 minutos de fama, espinafrando a Bethânia. “Criei o blog porque não recebi uma bolada do MinC e achei injusto”, comenta o pândego. Pergunta: era para ser um piada? Ele pediu algum dinheiro ao MinC? Em caso afirmativo, apresentou algum projeto? Qual seria? Com que objetivo? As críticas e piadinhas sobre o caso me fazem lembrar de uma das considerações de Hamlet, matutando se vale a luta ou é melhor acabar com a agonia: “o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis”. (Na tradução do Millôr.)
Mau-caratismo é recorrer a subterfúgios para meter a mão no dinheiro público. Ora, se Furtado quer falar sobre os atributos dos heróis, um desses atributos é, necessariamente, zelar pelo bem coletivo, ainda que com sacrifício pessoal. Furtado, um homem do século 21, não do 19, acha que o tributo do atributo é grana, não reconhecimento.

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Chega a ser constrangedor ter que relembrar aos mais jovens que Maria Bethânia é uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos. Seus incontáveis discos e shows são um valioso patrimônio nacional, seu trabalho de divulgação de dezenas de compositores brasileiros ao longo de sua carreira são uma herança que ela deixa ao Brasil. Bem vale alguns barris do pré-sal. Talvez tenham sido os show de Bethânia, lá nos anos 70, meus primeiros contatos com a poesia de Fernando Pessoa e também com a prosa-poética de Clarice Lispector. Vai aqui, a ela, meu muito obrigado.
Mundo afora, os artistas costumam ser gratos ao público que cativam porque este os aceita, compreende e admira. No Brasil, parece, a relação tem de ser outra: a população é que se torna devedora de seu artista e, segundo entendo, deve lhe pagar uma pensão. Nos último cinco anos, Bethania obteve autorização para “captar” R$ 10,5 milhões! Haja reconhecimento! É compreensível. Afinal, este é o país em que o sujeito decide pegar em armas para depor um regime — é uma escolha legítima, como  decidir tomar sorvete de uva — e, derrotado, pede indenização ao estado. Se vitorioso fosse, teria cobrado o preço de sua vitória em cabeças; como perdeu, pede pensão!

Furtado está defendendo Bethania? Não! Está defendendo a si mesmo. Se um baiano, um paulista ou um pernambucano quer abrir uma pastelaria, precisa investir capital no empreendimento e esperar o retorno. Pode recorrer ao um empréstimo; a depender do valor, há banco público que cobra juros ligeiramente abaixo dos de mercado. Mas ele terá de pagar por isso.

Quando Bethania quer declamar ou quando Furtado quer fazer filmes, eles não precisam desembolsar um tostão porque não são gente reles como os pasteleiros. Basta-lhes enviar um “projeto” para o Minc. Se aprovado, “captarão” dinheiro de renúncia fiscal e farão a sua obra. Não importa quanto ela renda, à diferença do pasteleiro, não precisam devolver um centavo aos cofres públicas. Foi investimento em arte — vocês sabem, “arte” é, como categoria moral, superior a pastel. Na verdade, é o pastelão do espírito!

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Se a pastelaria for à falência, má sorte do empreendedor. Terá de pagar pelo empréstimo mesmo assim. Já declamadores e cineastas não precisam “dar certo”. Se o público rejeitar o seu “trabalho”, tudo bem! Basta apresentar o próximo projeto. Há quem ache que o mundo precisa mais de cineastas do que de pasteleiros… Eu estou entre aqueles que reconhecem em ambos duas coisas:
a – em primeiro lugar, cada um deles decidiu ser o que é e não deveria atribuir ao estado a responsabilidade por suas escolhas individuais. Assim, não tenho de financiar nem o pasteleiro nem o Furtado;
b – ambos têm sua função social: há a hora da poesia e a do pastel. No Brasil, Platão expulsaria certos tipos de artista da República, mas só depois que pagassem a conta!

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