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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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BEM, ROSSI DE NOVO: AGORA JORNALISMO, BLOGS, SEXO…

Eu detesto, juro, ter de dar o curso Massinha I de imprensa e opinião pública para Clovis Rossi. Depois de ter dito as batatadas que disse sobre a greve na USP — no seu tempo, escreveu, estudantes estavam sempre certos… —, volta a atacar nesta terça. Agora, o alvo são os blogs. Há um setor […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 17h26 - Publicado em 16 jun 2009, 08h47

Eu detesto, juro, ter de dar o curso Massinha I de imprensa e opinião pública para Clovis Rossi. Depois de ter dito as batatadas que disse sobre a greve na USP — no seu tempo, escreveu, estudantes estavam sempre certos… —, volta a atacar nesta terça. Agora, o alvo são os blogs. Há um setor do jornalismo que não aprende mesmo, feito o escorpião da fábula, que ferroa o sapo. Nunca ninguém me viu aqui a adotar a posição de certos delinqüentes e mãos-peludas, que anunciam o fim do jornalismo impresso. Eu não. Em primeiro lugar, acho a tese furada. Em segundo, não acho que seria bom. Haverá convivência dessas mídias — mas o jornalismo eletrônico, em contato mais próximo com o leitor, veio pra ficar.

Ele está, claro, de forma indireta, tentando desmerecer o blog que esculhambou seu texto — o meu. Bem, vou como gosto, brincando num vermelhinho e azul.

Os “bunkers” virtuais
SÃO PAULO – Carta do leitor Jorge Henrique Singh, aparentemente um estudante, publicada no domingo, ajuda a entender não apenas o quadro na USP como, mais amplamente, a catatonia da sociedade brasileira.
Diz Singh, em sua carta, que “os estudantes pesquisam, conversam e protestam em rede antes de se deixarem levar por pregadores ideológicos profissionais”.
Então tá, os estudantes retiraram-se para um “bunker” virtual em que “protestam em rede”. Enquanto isso, o que ele chama de “pregadores ideológicos profissionais” tomam conta da vida real (e da USP) -sem que os virtuais saiam um pouco de seu mundinho.
Tomam conta da vida real coisa nenhuma! Quando muito, tomam conta de certos setores do jornalismo. Na vida real, 79 mil dos 80 mil estudantes da USP estão… estudando! Esta é a vida real. Os “pregadores ideológicos profissionais” estão apenas tomando conta dos aparelhos. Onde é que o PSOL tem, proporcionalmente, mais adeptos? Na sociedade brasileira ou na USP? Onde é que um troço como a LER-QI poderia prosperar? Na sociedade brasileira ou na USP? Como pode o PC do B, eleitoralmente irrelevante no Brasil, mandar na UNE desde que ela foi refundada — com a diretoria sendo eleita em pleito indireto? Quem vive na irrealidade? Os alunos que hoje usam a rede para estudar, para se informar, para se comunicar, para se defender de embusteiros, ou a UNE aparelhada pelo PC do B? Assim, se há alguma irrealidade nessa história, é a da militância profissional e a dos jornalistas, como Rossi, que confundem uma Polícia submetida à Justiça com soldados ou milícias de uma ditadura. Os policiais na USP não são os milicianos de Ahmadinejad na Universidade de Teerã.

E que papo mais aborrecido esse de “catatonia” da sociedade brasileira! Que chatice! Que coisa mais démodé. Catatonia por quê? Eu sou um crítico acho que bastante severo do governo Lula — o que Rossi não é: ora está aqui, ora está ali, ora nem aqui nem ali… “Independente”, vocês sabem… Mas não acuso os brasileiros de “catatônicos” nem quando aprovam esmagadoramente o governo. Posso não concordar, posso lastimar os motivos, posso achar até burrice, mas “catatonia” por quê? Ao contrário até: há uma notável sintonia entre Lula e as massas. E isso diz muito de Lula. E diz muito das massas. É que Rossi é de um tempo em que o povo estava sempre certo, sabe? Sempre lutando… Ou então era catatônico. Não, Rossi. O povo, às vezes, é ativíssimo e ERRADO mesmo. Aliás, eu diria que ele costuma estar mais errado do que certo. Não é um tipinho de confiança.

Vale para a USP, vale para o conjunto da vida em sociedade. Basta ver a quantidade de “protestos em rede” que giram em torno dos escândalos políticos sem conseguir comover os autores, que preferem a vida real (e a bufunfa real).
É verdade. Antigamente, no tempo de Rossi, a televisão é que era acusada de — ai, meu Deus, lá vou eu para o vocabulário jurássico — ALIENAR a CRAÇE TRABAIADORA. Agora é a Internet. É… Não fosse ela, as massas estariam nas ruas, prontas a enforcar o último burguês com a tripa do último padre…

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Faz pouco, o colunista do “New York Times” Nicholas D. Kristof produziu um belo texto mostrando que a esmagadora maioria dos blogs ou demais instrumentos em rede trava um diálogo de “nós com nós mesmos”, ou seja, com quem pensa da mesma maneira (no caso dos Estados Unidos, democratas com democratas, neocons com neocons e por aí vai).
Ih, que demora para chegar ao ponto, não? Tá descontente com os blogs, né? Com algum em particular? Pois é, jacaré… O mundo mudou. E, como diria o bardo caolho, não mudou como “soía”. Essa história de que blogs falam apenas para convertidos é uma besteira monumental. O que eles fazem é trazer o leitor para mais perto do autor. Descobrir que o leitor existe é um choque? Pois é…

Vejam o meu caso. Dizer que sou lido apenas por quem concorda comigo é uma mentira. Antes todos os meus leitores concordassem. Eu seria mais esperançoso, hehe. Mas os que odeiam também não saem daqui. E pouca gente sabe que a maior parte, o que é revelado pelo número de acessos na comparação com o número de comentários, é de gente que lê e não comenta nada — como, aliás, acontece com os jornais. Mais: a Internet é mesmo uma rede. O texto é publicado aqui e, minutos depois, já se espalhou em centenas de outros blogs.

Gente como Rossi adoraria que só houvesse vida inteligente no jornalismo impresso, onde ele pode posar de aiatolá. Mas é falso. Lamento pelos desgostosos: mas eu reuni num livro relativamente grande parte ínfima dos textos que publiquei na Internet. Só textos sobre política, com boa acolhida de público (foi um dos mais vendidos no ano passado) e de crítica. Daria para fazer mais um dez. Acho que os textos impressos de Rossi não suportam uma coletânea. E não que lhe falte a chance de ser profundo, não é mesmo?

Não há verdadeiramente diálogo se por este se entender um debate entre ideias diferentes. Há um monólogo em que se ouvem apenas vozes com a mesma entonação, uma espécie de onanismo virtual, sem contato com o sexo oposto (no caso, as ideias opostas).
Oba! Eu adoro essas metáforas sexuais para tentar desqualificar os adversários. Vamos ver. Rossi, este gigante do jornalismo impresso — ele é mesmo alto pra chuchu — acusa blogueiros de onanistas, e isso parecerá apenas, assim, severidade. Se eu escrevesse que o sexo solitário ainda é melhor do que a refugada de Baloubet du Rouet, alguns não entenderiam. E quem entendesse poderia achar uma grosseria…

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De todo modo, a metáfora é a favor dos blogueiros — ao menos daqueles que têm leitores. Um blogueiro com leitores é um verdadeiro fauno!!! O que mais se parece com masturbação? Escrever e estar em contato permanente com quem lê, ouvindo todos os sussurros, todos os gemidos (huuummm…), todos os vivas de satisfação, todas as vaias de protesto, todos os “quero-mais”, ou acomodar o traseiro na cadeira, escrever a primeira ligeireza que vem à cabeça e ainda reagir com o fígado quando contraditado porque surpreendido pendurado na brocha? Escolhida a metáfora, sou obrigado a declarar: neste blog, a gente faz sexo o dia inteiro. É um escarcéu permanente.

Com isso, desperdiçam-se as possibilidades de democratização oferecidas pela internet. Há, sim, uma imensa cacofonia de vozes, mas, na outra ponta, os ouvidos se fecham para aquelas que não são agradáveis, por desafiarem certezas cultivadas nos “bunkers” virtuais.
Tolice! O diálogo é outro, “companheiro”. O diálogo — e, às vezes, coisa nem tão nobre (mas isso acontece também em jornais e revistas) — se dá entre os blogs. Buscar uma abordagem simpática à esquerda na minha página, por exemplo, é perda de tempo mesmo. Mas eu aviso que é. Não fico posando de pluralista de um lado só. “Direitista”, “conservador”, “neocon” ou sei lá o quê, este sou eu, esta é minha leitura. Que os navegantes confrontam com outras leituras. Há quem entre aqui apenas para saber o que não pensar, entendeu? “Vou lá ler o Reinaldo só para ser contra o que ele diz”. Mas e os jornais e revistas? Não têm também eles suas respectivas linhas editoriais? E têm todo o direito de tê-las. Mais do que isso: têm a obrigação.

Pena que os problemas se resolvam é na vida real.
É verdade, Rossi. Na vida real dos 79 mil que continuam estudando e que foram tratados como alienados e reacionários. Ou essa gente não merece crédito? Quanto à Internet — no caso, os blogs —, entendo os motivos que levam algumas pessoas a supor que os meios impressos são mais íntimos da profundidade. Mas primeiro apresentem a profundidade. Ou isso não passa (ver posts abaixo) de um daqueles pisões do Airton, o zagueiro do Flamengo. Não é jogo. Sexo, então, nem pensar…

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