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As ruas, e só elas, podem pôr fim ao “acordão”. O Brasil mandou seu recado: Dilma e o PT fora do governo, em nome da lei

Não é segredo pra ninguém — nem o governo fez grande esforço para escondê-lo — que a semana passada, em Brasília, abrigou várias feitiçarias. De súbito, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado — um potencial alvo de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, tanto quanto Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara —, surgiu como condestável da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 00h42 - Publicado em 17 ago 2015, 07h09
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  • Protesto em Brasília: sinal verde para o povo. Só os guarda-sóis dos carrinhos de sorvete são vermelhos Foto: Cristiano Mariz/Veja.com)

    Protesto em Brasília: sinal verde para o povo. Só os guarda-sóis dos carrinhos de sorvete são vermelhos (Foto: Cristiano Mariz/Veja.com)

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    Não é segredo pra ninguém — nem o governo fez grande esforço para escondê-lo — que a semana passada, em Brasília, abrigou várias feitiçarias. De súbito, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado — um potencial alvo de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, tanto quanto Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara —, surgiu como condestável da República e fiador de uma tal agenda da estabilidade. No papel, a articulação é poderosa: Janot livra a cara de Renan, que arruma os votos de que precisa o procurador e, de quebra, ainda seduz uns dois ou três sob a sua influência no TCU, com Cunha isolado. Atenção! Erram os que acham que Michel Temer foi personagem ativa nesse arranjo. Não foi, não! Dilma não engoliu, embora tenha dito o contrário, aquela fala do vice, segundo quem é preciso haver alguém que “reúna e una o país”. Renan e Dilma tentaram um “strike”, derrubando todos os pinos do boliche com uma única tacada. Mas acho que não vai dar certo.

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    A “virada” que o governo tentou caracterizar não se deu só aí. No TSE, Luiz Fux pediu vista na ação em que o PSDB acusa a campanha de Dilma de abuso de poder político e de poder econômico e de uso de recursos oriundos de propina da Petrobras. O placar já estava dois a um, e um terceiro voto já era dado como certo. São necessários apenas quatro para que se abra a investigação.

    No STF, Roberto Barroso, numa decisão, para dizer pouco, heterodoxa, considerou que a Câmara não transgrediu a Constituição ao votar as contas de Itamar Franco, FHC e Lula, mas que transgrediria caso votasse as de Dilma. Segundo ele, isso tem de ser feito em sessão conjunta da Câmara e do Senado. Ou por outra: tão logo o TCU entregue o seu parecer, quem conduziria o escrutínio seria o neoconvertido Renan Calheiros, não o oposicionista Eduardo Cunha.

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    Isso tudo, meus caros, já estava nas ruas neste domingo. Um ministro do TCU, que consta da lista do governo como aliado, ficou muito impressionado com o alcance dos protestos. Nem a sua família aceita que ele aprove as contas de Dilma. Diz, ademais, que não é verdade que o governo petista fez o que era costume. A contabilidade é uma soma de horrores. É muito provável que Renan não consiga entregar os votos do TCU que  prometeu — daí a importância de ser ele a conduzir a votação, não Cunha. Nesta terça, o presidente da Câmara entra com um agravo regimental e pede que o pleno do Supremo se manifeste a respeito, já que a decisão de Barroso é em caráter liminar.

    O protesto deste domingo não se limitou a pedir a saída de Dilma — por impeachment, renúncia ou cassação de mandato no TSE. Todas as lideranças que se alternaram ao microfone dos carros de som — e isso não era menos verdade entre os que estavam no asfalto — denunciavam o acordão, apontavam seus protagonistas e deixavam claro que ele já era de domínio público. A sociedade de verdade rejeitava a sociedade do conchavo, do arranjo, dos embargos auriculares, das conversinhas de corredor, dos interesses inconfessáveis.

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    Se o governo apostava que a semana passada havia marcado o ponto de inflexão e de que teria início, então, a reversão de seu destino, errou de forma monumental. O que o acordão fez foi ampliar a lista de pessoas que agora estão no radar dos movimentos de rua. Ninguém vai engolir calado os conciliábulos e mutretas para salvar esse ou aquele. As ruas também não caíram na conversa de que tudo não passa de uma tramoia envolvendo empreiteiros ladrões e funcionários corruptos da Petrobras. Cada um dos brasileiros que protestaram neste domingo sabe que é um projeto de poder que está sendo desmontado, esmiuçado, saindo das sombras para vir à luz.

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    Sim, meus caros, as ruas — e só as ruas — podem mandar para o espaço o acordão da semana passada, com o qual o governo imaginou que poderia sair das cordas. Era patético ouvir neste domingo os capas-pretas do PT, que passaram pelo Instituto Lula, a louvar o que teria sido o começo da redenção do governo Dilma. Não foi não!

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    Mais: se, nas duas outras manifestações, as palavras de ordem ainda eram um tanto difusas, com o impeachment como um item da pauta, desta feita, ficou muito claro que a reivindicação se concentrou, sim, na saída da presidente. O acordão foi denunciado e justamente satanizado porque se entendeu, corretamente, que ele busca impedir esse desfecho.

    E que se note: ninguém é ingênuo. Conversei com muita gente na rua. Todos sabem que as coisas não se resolvem do dia para a noite e se mostram dispostos a resistir. Os três grandes protestos havidos até agora — 15 de março, 12 de abril e 16 de agosto — são justamente as três maiores manifestações políticas havidas na história do Brasil. E outras virão.

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    Os brasileiros estão cansados, sim. Mas não de ir à luta. Querem saber? Mal começaram. O acordão não foi engolido pelas ruas. E seus personagens todos correm o risco de partilhar o mesmo círculo do inferno. Ponham fim à impostura, senhores! A população já percebeu.

    Texto publicado originalmente às 3h30
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