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Ah, Zé de Abreu está inseguro… Pô, se a gente não puder mais caluniar as pessoas, onde vamos parar, não é mesmo?

Ah, que coisa fofa! O ator global José de Abreu está se sentindo oprimido, gente! Ele descobriu que existe Justiça no Brasil e que nem mesmo um ator da principal emissora do país pode sair por aí caluniando e difamando as pessoas. Pô, nesse ritmo, onde vamos parar, não é mesmo? Ele concedeu uma entrevista […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h15 - Publicado em 14 Maio 2013, 08h55

Ah, que coisa fofa! O ator global José de Abreu está se sentindo oprimido, gente! Ele descobriu que existe Justiça no Brasil e que nem mesmo um ator da principal emissora do país pode sair por aí caluniando e difamando as pessoas. Pô, nesse ritmo, onde vamos parar, não é mesmo? Ele concedeu uma entrevista a um desses sites do regime para reclamar. Fechou a sua conta do Twitter. Diz que está se sentindo inseguro. Vai mais longe: diz sentir tanto medo hoje dos ministros do Supremo quanto sentia dos generais da ditadura, numa prova evidente de que não sabe, então, a diferença entre ditadura e democracia.

Qual é o busílis? Zé de Abreu não descobriu ainda que ele tem o direito de achar que seus adversários reais ou imaginários são feios, bobos, desengonçados, chatos, errados, reacionários, o que for. Mas ele não tem o direito de atribuir a terceiros crimes que não cometeram: é calúnia. Também não tem o direito de difamá-los e de injuriá-los. Pode fazê-lo se quiser. Mas terá de responder por isso. Para casos assim, a democracia, não a ditadura, oferece leis que desagravam o ofendido, punindo o ofensor. Mas é possível que esse entusiasta de José Dirceu realmente não tenha descoberto ainda a diferença entre lei e crime, entre vício e virtude.

É um dos males de certas celebridades no Brasil. Acreditam que a visibilidade, a fama, o sucesso, o aplauso desse ou daquele fazem delas uma categoria superior de pessoas. Besta, José de Abreu não é. Passou boa parte de seu tempo no Twitter atacando a “mídia golpista” e pessoas que a ela seriam ligadas, mas nunca se referiu, por exemplo, às empresas da Organizações Globo. Não! Golpistas eram apenas os veículos de outros grupos de comunicação. Da Globo, esse homem corajoso e destemido só fala bem. Faz sentido. Nessa entrevista, ele deixa claro que não se candidatará a deputado porque, se eleito, teria um salário muito menor. Zé de Abreu é o fortão do Bairro Peixoto quando se trata de atacar os “patrões” do salário alheio. Um verdadeiro revolucionário!

Qual é o caso? Há algum tempo, este senhor publicou o seguinte no Twitter: “E o Gilmar Mendes que contratou o Dadá? 19 anos de cadeia pro contratado. E pro contratante? Domínio do fato?”. Mendes entrou com uma queixa-crime. Acabou havendo um acordo. Ele se comprometeu a parar de ofender o ministro e a pagar uma multa de R$ 10 mil para uma instituição de caridade. Sim, é claro que ele iria perder. A razão é simples: o ministro jamais contratou Dadá. Era só uma mentira que o ator-celebridade estava espalhando na rede. E, por alguma razão, ele julga ter esse direito. Nota à margem: Dadá participava, isto sim, era do núcleo de pré-campanha de Dilma Rousseff, que estava tentando fazer um dossiê contra adversários. Reportagem de VEJA denunciou a baixaria, e o grupo foi desbaratado.

Pois bem, agora Zé de Abreu decidiu dar uma de coitadinho. Na tal entrevista, leem-se coisas como estas, em vermelho. Comento em azul:

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(…)
Você chegou a dizer que não iria se retratar e iria até o fim do processo para discutir liberdade de expressão. Por que resolveu selar um acordo agora?
O Código Penal não é o lugar para discutir liberdade. A partir do momento que ele vira um processo, é o Estado e o Gilmar Mendes, porque é um crime contra a honra, contra mim. Eu, obviamente, seria condenado, o juiz vai dar uma pena. O lugar para discutir isso era o Código Civil. As duas vezes que ele me processou foi por uma palavra, uma coisinha. Um twitter. Não um conjunto. Se eu for pegar todo mundo que me xinga de ladrão, de petralha, mensaleiro, sócio do José Dirceu ou coisas mais pesadas. Se for pegar esse tipo de coisa, tem centenas de milhares. Mas isso não dá para considerar. O que a gente está escolhendo é gente que fala coisas sérias. Mas é difícil, tem sete que tem pelo menos dez mensagens bem pesadas.
Deixem-me ver se entendi direito: o Zé de Abreu, parece, reivindicava o direito de caluniar Gilmar Mendes. Descobriu que as democracias não dão essa licença a ninguém — isso é coisa de ditaduras. Aí ficou chateado. E agora decidiu que ele próprio vai processar os que, segundo ele, o ofendem. Coerente este senhor, muito coerente.

Então você pretende processar essas pessoas?
Pois é, acho que sim. Porque aí é a maneira de discutir se pode escrever tudo ou não. Já me provaram que eu não posso escrever tudo que quero. Então também não quero escutar tudo que não quero. Tem que ver até onde isso vai. Porque ser processado pelo Gilmar Mendes, que, na semana passada, era o homem mais poderoso do Brasil, pelo menos para a mídia… Você vê aquele monte de senadores, de todos os partidos, Pedro Simon (PMDB-RS), Ana Amélia (PP-RS), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a Marina Silva (Rede) foi lá na casa dele pedir (senadores foram ao Supremo para declarar apoio à liminar do ministro que impediu a tramitação do PL 14, de 2013, que restringe o acesso dos novos partidos ao tempo de rádio e TV no horário eleitoral e também aos recursos do fundo partidário). Quer dizer, todo mundo virou o baba-ovo dele e eu vou brigar sozinho?
Que fique claro, hein! Zé de Abreu está criticando a mídia, mas não os veículos das Organizações Globo, tá, pessoal? Ele acha que “todo mundo virou baba-ovo” de Mendes porque o ministro, vejam que absurdo!, exerceu o seu direito constitucional. Zé de Abreu não descobriu ainda que, se alguém caluniar a presidente Dilma, por exemplo, será processado pela… presidente Dilma — e dentro das regras da democracia. Zé de Abreu não descobriu ainda que, se alguém disser que Dilma é feia ou boba (para ser franco, no gênero, não acho nem uma coisa nem outra), não comete crime nenhum; se acusá-la de se associar a um criminoso, aí a coisa é diferente. Zé de Abreu não descobriu ainda que afirmar que a presidente pertenceu a grupos terroristas é só matéria de fato; chamá-la de terrorista ainda hoje, aí já é crime.

Num outro momento da entrevista em que decide passar da condição de ex-caluniador à de vítima, lemos isto:
Mas por que você fechou sua conta [no Twitter]?
Sou muito compulsivo. Vejo uma injustiça escrita e vou para cima. Não consigo ficar pensando dez vezes antes de apertar o botão. Eu não sei mais o que eu posso dizer. Fiquei inseguro.
Ah, entendi. Na sua ânsia por Justiça, ele acaba caluniando as pessoas e acha que isso é liberdade de expressão. Se não pode caluniar, aí bate aquela insegurança… Eu contribuo para torná-lo mais seguro, mesmo sem ser seu psicanalista. Informe-se, meu senhor, sobre os chamados crimes contra a honra. Evite-os e então diga o que bem entender. Assim é nas democracias. As ditaduras, senhor José de Abreu, é que não oferecem essas garantias. Enquanto José Dirceu não der as cartas, inclusive na Globo (como ele pretende…), acontecerá assim.

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