Abaixo a falsa mitologia sobre a formação do povo brasileiro! Chega de ficar dando pirueta na frente dos estrangeiros! Viva o povo vertical, com os dois pés no chão!
Os textos que escrevi sobre a capoeira estão dando o que falar na Internet e dividindo opiniões. Continua uma avalanche de gente a me lembrar que se trata de uma expressão cultural de resistência, vinda com os escravos etc e tal. Eu sei! A minha crítica é dirigida à fetichização da tal “expressão cultural” e […]
Os textos que escrevi sobre a capoeira estão dando o que falar na Internet e dividindo opiniões. Continua uma avalanche de gente a me lembrar que se trata de uma expressão cultural de resistência, vinda com os escravos etc e tal. Eu sei! A minha crítica é dirigida à fetichização da tal “expressão cultural” e à falsa verdade de que a dança, ou luta, está tão presente na nossa vida como, sei lá, o futebol por exemplo — que chegou por aqui bem depois…
Aliás, eis aí: o que gerou, entre nós, mais saber e formas próprias de expressão? A capoeira, que veio com os escravos, no período de formação do Brasil, ou o futebol, que aportou alguns séculos depois, com os ingleses, consagrando um anglicismo na língua do qual ninguém mais se dá conta?
E olhem que eu não acho que a gente deva botar moleques e meninas fazendo embaixadinha para os Obamas e as Obaminhas… Nelson Freire não bate bola e também é Brasil. Para Tio Rei, se houvesse meninos favelados que tocassem oboé, sua presença num evento político-turístico seria tão legítima quanto a dos meninos que dançam capoeira.
O chato é que ninguém sobe a favela para levar oboé, Kant ou gramática. Há uma certa tendência a ensinar ao povo aquilo que ele pode aprender sozinho: bater bumbo, dançar capoeira, fazer rap — notem que misturo expressões que seriam “nossas” com outras que vieram de fora.
Eu me aponho é à folclorização de nossas origens para despertar a atenção daquele que, no fundo, consideramos superior, como se não pudéssemos competir com ele no campo da razão e só nos restasse o charme daquela velha picardia e esperteza. Lula transformou esse sentimento em arrogância, que é o complexo de inferioridade na sua fase agressiva. Declarou-se melhor do que os outros e pronto!
Gente, eu conheço todas as virtudes da capoeira! Eu só estou dizendo que ela não representa o Brasil. Aliás, eu não sei direito o que representa o Brasil. Quando Dilma visitar os EUA, que expressão folclórica ou primitiva lhe será apresentada como síntese e sumo do povo americano? Provavelmente, nenhuma! Não são dados a esse tipo de coisa!
Eu acho que a gente precisa parar com isso, entenderam? Por que precisamos dizer ao “outro” quem nós “RE-AL-MEN-TE” somos? Nós, RE-AL-MEN-TE somos um monte de coisa! Como Obama estava aqui para falar de negócios, seria muito mais legítimo um desfile do que temos conseguido produzir de tecnologia de ponta na indústria, no agronegócio, nos serviços…
No dia em que antropólogos americanos — ou haitianos, tanto faz — chegarem aqui para um colóquio, então a gente dança, canta, pula, faz pirueta, bate bumbo, acorda os espíritos com tabaco, bebe cauim, chama Anhangá, a Cuca, o Saci-Pererê, o Boitatá, o boto, a Loura do Banheiro…