A nova objetividade: abaixo o principal; viva o secundário!
Ai, ai… Juro que nada tem a ver com eventuais afinidades eletivas ou escolhas, mas a verdade é que anda difícil acompanhar o noticiário. E olhem que este escriba lida com isso profissionalmente há quase 30 anos — tenho 49, antes que alguém pergunte. Leitor diário de jornal, sou desde os 14. A letra ainda […]
Ai, ai… Juro que nada tem a ver com eventuais afinidades eletivas ou escolhas, mas a verdade é que anda difícil acompanhar o noticiário. E olhem que este escriba lida com isso profissionalmente há quase 30 anos — tenho 49, antes que alguém pergunte. Leitor diário de jornal, sou desde os 14. A letra ainda era miúda… Nesta madrugada, escrevi um texto sobre questões que me chegam para trabalhos universitários. Muitos, entrevistadores, há exceções, não querem saber o que eu penso, mas o que eu penso do que eles pensam. Surrealismo puro! Vamos ver. É claro que a cobertura jornalística não pode omitir o fato de que, segundo as pesquisas, a petista Dilma Rousseff está na frente e vence no primeiro turno — mas isso não pode se confundir com dar a eleição por resolvida. E também não pode comprometer a objetividade que as reportagens dizem ter.
Uma nota rápida antes que continue. Já publiquei alguns bons furos aqui, como sabem. Mas não é isso que persigo. Quem visita meu blog busca, na maioria das vezes, a minha opinião — uns gostam, outros detestam, raros são indiferentes. Ninguém entra aqui por engano. Mas me digam: o que leva repórteres e editores a informar que “Serra tenta colar na campanha de Anastasia em Minas”? Não pertencem, por acaso, ao mesmo partido? É impróprio que façam campanhas juntos em Minas? O especioso não seria a tentativa de descolamento. Bem, é que Serra está atrás. Se é assim, então qualquer coisa que se diga sobre ele há de ser filtrada por esse fato. Se Anastasia não cita o presidenciável, eis uma evidência da crise; se estão juntos, eis uma… evidência da crise.
Querem outro exemplo? O tucano foi hoje de manhã à porta da Associação Comercial de São Paulo, onde há um “impostômetro”, um painel que registra em tempo real o tamanho da arrecadação de impostos. A carga superou, nesta segunda, estratosféricos R$ 800 bilhões. Pouco antes de atingir tal marca, o painel parou, o que nunca havia acontecido antes. Sabotagem? Vai saber. O fato é que se procurou relacionar, de algum modo, a paralisação da máquina às dificuldades da candidatura tucana… Até Dilma Rousseff resolveu tirar uma casquinha, o que foi registrado com gosto. Serra fez uma caminhada, o painel volto a funcionar, e o registro estava lá: mais de R$ 800 bilhões de impostos.
Mas qual era mesmo a notícia do dia, além de tentar relacionar tudo o que diz respeito à petista ao fato de ela estar na frente e tudo o que diz respeito ao tucano ao fato de ele estar atrás? A questão tributária. Dilma se disse favorável a uma “reforma tributária”. Qual? Ela não disse. Até porque não tem a menor idéia mesmo. A reforma tributária, ao lado da reforma política, é uma dessas expressões que enchem a boca dos políticos, mas que nunca saem do papel. E olhem que, freqüentemente, é o caso de dar graças por isso! Na última tentativa do governo federal, a proposta poderia ser sintetizada assim: “Uma tentativa de quebrar São Paulo”. A proposta não sai do papel porque todos querem ganhar.
Serra disse que uma reforma não é necessária; que é possível racionalizar o sistema alterando a legislação que está aí. E criticou a adversária: “A Dilma acha que a carga tributária no Brasil é boa. Mas eu acho que é muito alta e, como presidente, eu vou diminuir essa carga principalmente dos produtos de consumo das famílias mais pobres, e também para estimular os investimentos, que são necessários para gerar empregos”. Ele se referiu a um elogio que a petista já fez ao sistema vigente no Brasil. Lula já fez o mesmo, ironizando os que defendem carga mais baixa.
O provável é que o relevante fique para lá. Abaixo o principal! Viva o secundário!