Assine VEJA por R$2,00/semana
Reinaldo Azevedo Por Blog Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

A internação compulsória de crianças e adultos de rua viciados é uma questão de humanidade, sim; essa é a agenda relevante no que diz respeito às drogas

O poeta e crítico Nelson Ascher foi quem melhor me definiu ao escrever uma resenha elogiosa — o que é um privilégio e tanto vindo de quem vem — a um livro meu: quando gosto, digo “sim”; quando não gosto, digo “não”; se sim, “sim”; se não, “não”. Eu tenho certo pavor daquelas zonas cinzentas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h49 - Publicado em 31 Maio 2011, 18h26
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O poeta e crítico Nelson Ascher foi quem melhor me definiu ao escrever uma resenha elogiosa — o que é um privilégio e tanto vindo de quem vem — a um livro meu: quando gosto, digo “sim”; quando não gosto, digo “não”; se sim, “sim”; se não, “não”. Eu tenho certo pavor daquelas zonas cinzentas que não são nem “bola” nem “bule”. Por isso, digo com algum humor, chega a ser patético que me considerem aqui e ali um “tucano”. Não mesmo! Dirá alguém: “Ah, você continua um extremista; a verdade está sempre no meio”. Uma ova! A verdade possível, que é a da política, é que está sempre no orbital entre o certo e o errado. Mas eu não sou político. Eu não preciso fazer concessões.

    Publicidade

    A Lei da Gravidade é uma verdade extremista. Ela existe. Não dá para negociar com aqueles que dizem que ela é uma falácia, não é? Nesse sentido, sou também extremista. Ou as coisas existem ou não existem. Ou, por exemplo, o Código Florestal permite mais desmatamento ou não permite. Não permite — é até o contrário. Eu posso provar o que digo; os que sustentam o contrário não podem. A eles cabe acreditar na Marina. Eu sei o que está escrito. Mas meu assunto é outro.

    Publicidade

    Se gosto, digo “sim”; se não, então “não”. Eu não gosto da personagem política Sérgio Cabral. Eu o considero o político mais parecido com Lula dos que estão aí na praça, embora ele tenha curso universitário — mas também tem cara de quem gostava, como se dizia nos livros antigos, da “gazeta”. Exibe um lado fanfarrão que me desagrada. E também é dotado se um exagerado senso de oportunidade que me parece vicioso, compondo um “ismo” — daí eu considerar que ele tem um pé no “populismo”. É o garoto-propaganda de uma das maiores farsas compradas pelo jornalismo nas últimas décadas: as tais UPPs. Também defende de modo que considero ligeiro, irresponsável, algumas teses que repudio: descriminação do aborto e das drogas, por exemplo. Em suma, está longe de ser alguém que eu admire como político e como produtor de pensamento.

    Mas tomou uma decisão correta em relação às crianças viciadas em crack que perambulam pelas ruas do Rio, a capital: a internação compulsória. A medida, na verdade, é da Prefeitura do Rio, cujo titular é Eduardo Paes, que opera em parceria com o governador. É o correto! Aliás, acho que é preciso um movimento nacional — que envolva no debate o Ministério Público e a criação de ouvidorias para acompanhar esse processo — para que crianças, jovens e adultos de rua, vítimas do crack e do óxi, sejam retirados das ruas, COMPULSORIAMENTE, SIM!

    Publicidade

    Os óbices a esse procedimento podem até fazer a honra dos manuais politicamente corretos, mas não uma estupidez, uma perversidade com esses seres miseráveis, que perderam qualquer condição de arbitrar sobre a própria vida. As crianças, então, nem se diga: já não a tinham antes em razão da inexperiência. Deixar essas pessoas ao relento, entregues à lei do cão, significa expô-las a toda sorte de violência e arbitrariedade. Os nefelibatas que se opõem a essa medida porque a consideram arbitrárias estão rejeitando o que consideram o arbítrio do estado em benefício do arbítrio do traficante, do chefe de rua, do gigolô. Esses meninos e meninas de rua são seres emocionalmente destruídos, molestados moralmente, freqüentemente molestados sexualmente, expostos aos abusos mais vis.

    Continua após a publicidade

    O que querem esses imbecis sob  o pretexto de defender os direitos humanos? Reformar a sociedade primeiro, desde o fim, para depois tomar uma providência e interromper este ciclo de exploração que é também econômica? Alguns dirão que Cabral e Paes estão apenas remodelando a operação que supostamente tirava mendigos das ruas da antiga Guanabara, matava-os e os jogava no rio da Guarda, no governo Carlos Lacerda. Isso nunca aconteceu. Era apenas uma das muitas difamações que a esquerda lançava contra Lacerda.

    Publicidade

    Pode até ser, então, que governador e prefeito estejam apenas ocupados em ter uma cidade mais limpinha, com crianças cuja miséria não ofenda os turistas. Não vou entrar em motivações subjetivas. O que sei é o seguinte: se as crianças — e espero que se estenda aos adultos — tiverem um bom tratamento, realmente profissional, que se dedique à sua recuperação, o que é um trabalho difícil, então vale a pena.

    Os meus amigos sabem que há anos defendo que se faça isso em São Paulo. É claro que as coisas por aqui são mais complicadas. No Rio, os padres de passeata do PT e setores importantes da imprensa apóiam os governos Paes e Cabral. Em São Paulo, Julio Lancelotti, o Cavaleiro do Obscurantismo Caridoso, considera que qualquer tentativa de tirar crianças da rua é expressão do higienismo conservador e direitista. E conta com aquele suporte bucéfalo da imprensa paulistana — aquele, vocês sabem, que ignora os fatos.

    Publicidade

    Em São Paulo, mendigos e crianças maltrapilhas, entregues à desgraça, viraram “Povo de Rua” ou algo assim — uma categoria sociológica, enfim. Quem conhece o problema sabe que a esmagadora maioria dessas pessoas tem sérios distúrbios mentais. Já os tinha antes de morar ao relento, consolando-se com o crack e agora com o óxi.

    Continua após a publicidade

    Será, em suma, preciso enfrentar essa mistura de Foucault com água benzida (nesse caso, é “benzida”, não “benta”) pelo capeta para conseguir fazer a coisa certa; será preciso mesmo enfrentar os “bacaninhas” da imprensa — para os quais “fumar maconha é um direito” (não é! ) — para fazer a coisa certa. E por quê? Ora, se eles acham que queimar a erva é só uma questão de gosto, por que não o seria a fumaça da “pedra”? Mas algum governante terá de ter a coragem de fazê-lo. E contará com o apoio da população. Quem perdeu a capacidade de decidir não pode tomar a… decisão!!! A imprensa “lancelottista” não serve de referência porque, sob o pretexto de ser libertária, é liberticida. Ou uma criança viciada em crack tem a capacidade de escolher alguma coisa?

    Publicidade

    É um assunto delicado, eu sei. Por isso mesmo, é preciso tomar todas as medidas prudenciais para que o trabalho obedeça ao máximo rigor técnico, respeitando os direitos das crianças e dos adultos viciados. Mas é inadiável.

    Essa, sim, é uma agenda humanista, que atende aos interesses dos que perderam tudo, inclusive a liberdade de escolha, e da maioria da população. Descriminação de drogas é  uma quase tertúlia literária que interessa aos descolados da Vila Madalena, de Ipanema e da imprensa. É de humanismo que estamos falando?  Então vamos efetivamente socorrer aqueles que sofrem.

    Cabral e Paes foram espertos e saíram na frente. O que lhes passa pela alma não é problema meu desde que as crianças recebam um tratamento decente. Sou assim: se concordo, digo “sim”; se não, “não”. Esse, sim, é um exemplo a ser seguido no Brasil inteiro.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.