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A GRIPE SUÍNA DE NOVO E A QUESTÃO DA MÁ FÉ

Escrevi anteontem um texto sobre a gripe suína intitulado OS NÚMEROS PORCOS DA GRIPE SUÍNA NO BRASIL, e alguns leitores estão dizendo que fui injusto ao “sugerir” ou “dar a entender” que o Ministério da Saúde está mentindo sobre os dados etc. Epa! Eu nunca “sugiro” ou “dou a entender” coisa nenhuma! Ou afirmo ou […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h59 - Publicado em 28 ago 2009, 20h39

Escrevi anteontem um texto sobre a gripe suína intitulado OS NÚMEROS PORCOS DA GRIPE SUÍNA NO BRASIL, e alguns leitores estão dizendo que fui injusto ao “sugerir” ou “dar a entender” que o Ministério da Saúde está mentindo sobre os dados etc. Epa! Eu nunca “sugiro” ou “dou a entender” coisa nenhuma! Ou afirmo ou não afirmo. Posso até recorrer a alguma figura de linguagem — na verdade, recorro freqüentemente. Mas as minhas figuras sempre servem para deixar ainda mais claro o que eu penso, nunca para aumentar a ambigüidade. Naquele texto em particular, escrevi em negrito e maiúsculas: “OS DADOS OFICIAIS PODEM NÃO SER MENTIROSOS, MAS SÃO UMA MENTIRA.” Sintetizei num jogo de palavras uma opinião a partir dos dados. Não disse, pois, que o Ministério da Saúde está mentindo, escondendo deliberadamente a verdade, fabricando de modo industriado uma versão falsa. Se achasse isso ou tivesse elementos para tanto, diria. Parto do princípio de que a pasta informa o que tem a informar. E eu estou dizendo ao ministério e aos leitores: “Tem gato na tuba” — metáfora-clichê que serve para aclarar o que penso. Vale dizer: “Há boi na linha”. Agora sem metáfora e sem clichê: esses números não podem ser verdadeiros.

O Ministério ou qualquer outra pessoa podem tentar me explicar, e deve haver alguma explicação — quem sabe ela ajude, não é?, a que cheguemos a alguma forma importante de prevenção —, por que basta que se cruze a fronteira do Rio com o Espírito Santo, e não há mais um só óbito por gripe suína. Ou por que, em Minas, eles são apenas oito. Ou por que os baianos são especialmente resistentes. Sim, claro, existem os fatores climáticos, não ignoro. Mas os mesmos fatores climáticos, quando confrontados com os dados, não podem explicar certas diferenças até entre estados que estão na ponta da lista.

Dou um exemplo (lido com os dados disponíveis anteontem para não ter de refazer contas). No Rio Grande do Sul, há 0,9 morte por 100 mil habitantes; no Paraná, que lidera o número de óbitos por 100 mil, há 1,4. Pois bem, entre os dois estados, está Santa Catarina, onde esse índice é de 0,17. Por que a doença mata 8 vezes mais no Paraná e cinco vezes mais no Rio Grande do Sul do que em Santa Catarina, que fica no meio do caminho? Vai saber… Acho que a Bahia, apesar do calor, continua a desafiar a ciência. Pode-se morrer muito de dengue hemorrágica por lá (típica do clima quente, sei), mas também de meningite. Quando o assunto é gripe suína, no entanto, aí Rondônia pode matar quatro vezes mais.

Atribuí esses dados, obviamente alheios a qualquer lógica e razoabilidade, ao que chamei de “subnotificação”, o que, obviamente, não quer dizer má fé: subnotificação pode decorrer de incompetência, falta de estrutura, desídia das secretarias estaduais de saúde, método escolhido (ou o único possível, sei lá eu) para fazer a notificação… Em qualquer dos casos, ou numa mistura de todos eles, é preciso intervir. Estariam os dados represados em algum lugar e, de repente, vão aparecer?

Levei a sério quando Temporâo afirmou que mais de 70% dos casos de gripe eram do tipo “suína”; teria tomado o lugar da outra (ou das outras). A serem verdadeiros os dados sobre as mortes, só posso constatar que, em alguns estados, a ocorrência de gripe, suína ou não, é irrisória. Trata-se também de uma relação lógica.

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Não gosto, muita gente sabe disto, de certas abordagens do ministro José Gomes Temporão. Não mesmo! Algumas, na verdade, eu detesto — a sua militância em favor do que chama debate sobre a descriminação do aborto, por exemplo, é uma delas; acho que é só eufemismo; acho que ele quer mesmo é descriminar e evita chamar as coisas pelo nome que elas têm, coisa que repudio. Tudo pela clareza! Mas não sou oblíquo no caso da gripe suína para aquecer minhas divergências com ele. Estou afirmando que esses números não podem ser verdadeiros e que precisamos saber a verdade. Se, ao fim da jornada — e, espero, isto há de passar —, essas discrepâncias continuarem, então o país terá sido incompetente:
a) ou para chegar à verdade;
b) ou para descobrir o fenômeno que explica as diferenças, o que poderia ter-se constituído numa chave importante para entender o comportamento da doença.

Acredito, sim, que, se houvesse disposição para manipular e mentir, dar-se-ia um jeito de manter o país fora do topo — ou quase — no número absoluto de mortes. Mas esse ranking não me preocupa e pode não dizer grande coisa. A chegada do inverno no Hemisfério Norte pode jogar o Brasil lá para o fim da tabela.

Ainda que isso venha a acontecer, se os dados continuarem a ser estes que temos, com essas coisas inexplicadas e inexplicáveis, eles continuarão pouco confiáveis. Eu, com efeito, não tenho a menor simpatia por Temporão. Mas estou sempre disposto a colaborar com a saúde como um ministério.

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