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“À Espera dos Bárbaros” – o poema

Citei abaixo À Espera dos Bárbaros, do poeta grego Constantino Kaváfis (1863-1933) — foto. Vale a leitura (no caso de pesquisar no Google, use também a grafia “Konstantinos”). Muita gente (e eu também) o inclui entre os cem mais belos poemas de todos os tempos. Homem da antigamente plural Alexandria — de fato, era um […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h33 - Publicado em 7 abr 2007, 19h00
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  • Citei abaixo À Espera dos Bárbaros, do poeta grego Constantino Kaváfis (1863-1933) — foto. Vale a leitura (no caso de pesquisar no Google, use também a grafia “Konstantinos”). Muita gente (e eu também) o inclui entre os cem mais belos poemas de todos os tempos. Homem da antigamente plural Alexandria — de fato, era um grego nascido no Egito —, Kaváfis foi uma espécie de saudosista do mundo helênico. À época, a cidade era um protetorado da Inglaterra, onde ele foi estudar, voltando depois à terra natal. Homossexual, boa parte de sua poesia, publicada postumamente, evidencia suas aventuras amorosas pelos “catres” de Alexandria. Mas é no desencanto ilustrado, culto e pessimista dos poemas de evocação história que está o melhor de sua produção. Tenho cá uma antiga tradução do português Jorge de Senna (90 e Mais Quatro Poemas) de que gosto muito. Tive a sorte de tê-la em mãos ainda muito jovem, vendida pelo saudoso “Seu Jaime”, um português que tinha um sebo magnífico. Uma parte de suas preciosidades, ele a oferecia nas Letras, da USP, em 1980. Seu Jaime, fiquei sabendo, já morreu. Não existe mais. Como a Alexandria de Kafávis. Como o curso de Letras da USP.
    Segue o poema À Espera dos Bárbaros, na tradução de José Paulo Paes.

    O que esperamos na ágora reunidos?

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    É que os bárbaros chegam hoje.

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    Por que tanta apatia no senado?
    Os senadores não legislam mais?

    É que os bárbaros chegam hoje.
    Que leis hão de fazer os senadores?
    Os bárbaros que chegam as farão.

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    Por que o imperador se ergueu tão cedo
    e de coroa solene se assentou
    em seu trono, à porta magna da cidade?

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    É que os bárbaros chegam hoje.
    O nosso imperador conta saudar
    o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
    um pergaminho no qual estão escritos
    muitos nomes e títulos.

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    Por que hoje os dois cônsules e os pretores
    usam togas de púrpura, bordadas,
    e pulseiras com grandes ametistas
    e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
    Por que hoje empunham bastões tão preciosos
    de ouro e prata finamente cravejados?

    É que os bárbaros chegam hoje,
    tais coisas os deslumbram.

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    Por que não vêm os dignos oradores
    derramar o seu verbo como sempre?

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    É que os bárbaros chegam hoje
    e aborrecem arengas, eloqüências.

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    Por que subitamente esta inquietude?
    (Que seriedade nas fisionomias!)
    Por que tão rápido as ruas se esvaziam
    e todos voltam para casa preocupados?

    Porque é já noite, os bárbaros não vêm
    e gente recém-chegada das fronteiras
    diz que não há mais bárbaros.

    Sem bárbaros o que será de nós?
    Ah! eles eram uma solução.

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