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Veja a íntegra do discurso da derrota que Bolsonaro não fez

Fábio Faria enviou e-mail com pronunciamento a um dos ajudantes de ordens do então presidente no dia seguinte ao segundo turno

Por Nicholas Shores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 22h56 - Publicado em 9 ago 2023, 09h30

Na penca de e-mails trocados pelos ajudantes de ordens de Jair Bolsonaro e entregue à CPMI do 8 de Janeiro, chamou atenção uma mensagem de Fábio Faria, à época ainda ministro das Comunicações, com um discurso em que o então presidente reconheceria a derrota nas eleições de 2022 – mas que nunca foi lido publicamente.

O texto chegou à caixa de entrada de Daniel Lopes de Luccas, um dos subordinados de Mauro Barbosa Cid em seu período à frente da Ajudância de Ordens da Presidência da República, às 16h01 de 31 de outubro de 2022, dia seguinte ao segundo turno. O e-mail, obtido pelo Radar, foi revelado inicialmente pelo jornal O Globo.

A frase que indicava tratar-se, efetivamente, de um discurso reconhecendo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e jamais dita por Bolsonaro – “não contestarei o resultado das eleições” – vinha afundada em um misto de pregação antissistema e do que seria a exaltação, pelo então mandatário, de seu próprio mandato presidencial.

“Desde o primeiro dia do meu governo, em sintonia com o meu passado, não aderi ao sistema, que juntou forças para me combater”, dizia um trecho. “Todos são testemunhas do quão desigual foi o processo eleitoral. Começaram por tornar elegível alguém condenado em várias instâncias do Poder Judiciário”, prosseguia.

Bolsonaro fez sua primeira aparição pública depois da confirmação da vitória de Lula em 1º de novembro de 2022. Sem reconhecer abertamente o resultado da eleição presidencial, afirmou que continuaria “respeitando a Constituição”.

Alguns trechos daquela fala de pouco mais de dois minutos lembram o esboço de discurso preparado por Fábio Faria, como o agradecimento inicial aos 58 milhões de eleitores e a exaltação à representação da direita no Congresso, com a citação idêntica, no pronunciamento hipotético e no que de fato aconteceu, aos seus “valores”: “Deus, pátria, família e liberdade”.

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Leia, abaixo, a íntegra do discurso da derrota:

“Quero agradecer aos mais de 58 milhões de brasileiros que confiaram a mim o seu voto nas últimas eleições: vencemos em 4 das 5 regiões do Brasil e tivemos 400 mil votos a mais que em 2018.

A representação no Congresso Nacional e os governadores eleitos demonstram a força de nossos princípios e valores: Deus, Pátria Família e Liberdade.

Assumi o governo em 2019 com o Brasil vivendo imensa crise moral, social e econômica, fruto de gestões passadas. De 2019 para cá, enfrentei catástrofes ambientais e a maior emergência sanitária da história da humanidade. Socorremos a nossa população e preservamos empregos.

Desde o primeiro dia do meu governo, em sintonia com o meu passado, não aderi ao sistema, que juntou forças para me combater.

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Todos são testemunhas do quão desigual foi o processo eleitoral. Começaram por tornar elegível alguém condenado em várias instâncias do Poder Judiciário.

Mascararam a exitosa retomada econômica do Brasil em relação ao mundo pós-pandemia; ao contrário, focaram na desconstrução das minhas falas e em falsas narrativas:

> Todos assistiram a manipulação dos institutos de pesquisas e da grande mídia para induzir os eleitores brasileiros a voto útil em meu opositor no primeiro turno;

> No segundo turno, o temor era um possível aumento da abstenção. Sem precedente na história das eleições brasileiras, determinaram que todos os governadores e prefeitos oferecessem transporte gratuito para eleitores. Sempre defenderei que todos tenham amplo direito ao voto, mas não posso concordar com casuísmos que alteram as regras do curso do processo eleitoral.

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> Além disso, foi cerceada a liberdade de expressão: todos os grandes perfis de direita foram suspensos das redes sociais; empresários apoiadores perseguidos e censurados enquanto o outro candidato veiculava fake news sobre o salário mínimo e o décimo-terceiro salário, diariamente em programas de rádio e televisão por todo o Brasil, em prejuízo da minha candidatura. Enquanto isso, nós tivemos menos inserções de rádio, tivemos vídeos suspensos em menos de 24 horas, o que demonstra, ao nosso ver, falta de isonomia.

> Mesmo assim, a diferença no resultado da votação em favor de meu adversário foi de apenas 1,8%: estou certo de que se houvesse imparcialidade e igualdade de tratamento o resultado seria muito diferente.

Por 4 anos fui acusado injustamente de querer dar um golpe. E o que aconteceu foi exatamente o contrário.

Eu sempre disse que o Brasil está acima de tudo e Deus acima de todos e que daria minha vida pelo Brasil. Por esse motivo, não contestarei o resultado das eleições.

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Meu amor pelo país, pelo povo brasileiro e pela democracia são maiores. Defenderei nosso legado, sempre firme em meu compromisso com o Brasil. 

Seguirei lutando ao lado do povo por nossa liberdade. O meu governo devolveu o Brasil ao caminho da prosperidade, e temos ampla base no Congresso Nacional para defender nossos valores e nossa bandeira.

Somos uma grande nação. Jamais desistirei do Brasil e peço que vocês também não desistam.”

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