Laryssa Borges, repórter de Veja
O governo brasileiro mantém há meses uma cooperação confidencial com o FBI no caso do egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, suspeito de atuar como “agente e facilitador” da organização terrorista Al-Qaeda.
A equipe mais restrita de Sergio Moro guardava a sete chaves um detalhado relato do caso de Mohamed Ahmed Ibrahim e havia recebido ordens para rascunhar a controversa portaria 666, editada no final de julho e que prevê a “deportação sumária de pessoa perigosa”. Apesar das suspeitas de que o texto mirava o jornalista Glenn Greenwald, ele foi desenhado para dar respaldo jurídico à expulsão do egípcio do Brasil.
Mohamed Ahmed é casado há cerca de dez meses com uma brasileira, e a portaria de Moro não atinge pessoa estrangeira casada ou com filhos brasileiros. O problema é que autoridades suspeitam que se trata de um casamento de fachada. A dissolução do vínculo matrimonial por suposta fraude abriria caminho para que ele fosse deportado.
Em maio, Ibrahim se disse vítima de perseguição no Egito e pediu refúgio a Bolsonaro. O governo brasileiro considerou verossímil a história contada pelo egípcio e o aprovou em um dos critérios para a concessão de refúgio: o de indicadores internos de credibilidade.
Mas logo o governo encontrou inconsistências na documentação apresentada pelo egípcio e desconfiou. No Registro Nacional de Estrangeiros, por exemplo, a data de entrada dele no Brasil é de fevereiro de 2017, mas o próprio Ibrahim, em depoimento ao Ministério da Justiça, relatou que entrou no país em março do ano seguinte após ter conseguido um visto de entrada em Istambul. Às autoridades, ele não soube explicar a diferença de datas.
Um informe confidencial da Polícia Federal terminou de sepultar qualquer chance de Ibrahim ser acolhido como refugiado político: bem antes de qualquer alerta público do FBI, a Polícia Federal disse ao MJ que o egípcio estava sendo investigado pela Divisão Antiterrorismo por vinculação a organizações extremistas. A PF estava sendo alimentada por informações confidenciais de órgãos de inteligência estrangeiros.
As informações da PF foram cruciais para o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) se negasse a dar guarida ao egípcio. Diz a autarquia ligada a Sergio Moro: “Não é possível falar em injusta perseguição quando o requerente é ligado a organização terrorista”. Ahmed Ibrahim recorre da negativa de refúgio, mas é dado como certo que não conseguirá reverter o veredicto.