Outdoor pró-Trump mobiliza cidade mineira polo de imigração para EUA
Em Governador Valadares, simpatizante de Trump e "conservador extremista" financia propaganda; ele vive nos Estados
O mineiro Edson Delano, que vive nos Estados Unidos, tem muita gratidão pelo país que o acolheu e apreço tamanho por Donald Trump. O mineiro, que também tem cidadania americana, é eleitor do presidente republicano.
Essa empatia foi estampada em dois outdoors em apoio a Trump que ele financiou e mandou afixar nas ruas de Governador Valadares, cidade mineira que, desde a década de 1960, convive com a imigração de seus naturais para os Estados Unidos.
Instalado essa semana, o outdoor gerou polêmica nas redes. Em época de eleição americana é comum ver bandeiras do país de Trump e Joe Biden, seu oponente democrata, exposta nas janelas.
O outdoor traz uma foto de Trump com a inscrição “Make America great again” (“Faça a América grande novamente”). E ainda expressões como “por Deus, pela família, pela vida, por Israel, pelo Brasil”.
Delano não assina e há apenas uma indicação de quem pagou o produto: “sou direita, sou conservador”.
Agora, com a radicalização política inclusive no Brasil – Jair Bolsonaro é um aliado de Trump – o clima está mais acirrado.
Em Valadares, há grupos que pensam em acionar a Justiça, sabe-se lá com qual argumento, para tentar retirar a propaganda. Por outro lado, pululam mensagens de apoio à iniciativa de Delano.
“Parabéns pela ideia. Conte conosco. Se pudesse votar lá, votaria em Trump”, escreveu um dos entusiastas do republicano, numa série de mensagens postadas abaixo de uma foto do outdoor.
“É o complexo de vira-lata da direita brasileira. Espero que retirem logo de lá”, postou um pouco simpático a Trump.
Delano é evangélico, também simpatizante de Jair Bolsonaro e se define como um “conservador extremista”. Ele nasceu mesmo em São Geraldo da Piedade, cidadezinha colada a Valadares,
Estudiosa desse fenômeno de interesse dos valadarenses pelos Estados Unidos, a doutora em sociologia Sueli Siqueira diz que a instalação do outdoor não a surpreende. Diz ser comum os mineiros que vão tentar a vida lá enviarem produtos como as bandeiras, camisas e bonés com símbolos do país.
“Não me surpreende por sua perspectiva histórica. Valadares é um laboratório a céu aberto sobre esse tema. Foi o primeiro ponto que ocorreu essa imigração na década de 60. O boom se deu nos anos 80”.
A socióloga coordena um núcleo que estuda exclusivamente a questão da migração internacional na Universidade Vale do Rio Doce. Ela lembra que outdoors com outros tipos de mensagens já foram afixados pelas ruas da cidade, como um que oferecia serviço de velório por videoconferência. Seria para o brasileiro que mora nos Estados Unidos acompanhar o sepultamento de um familiar que vive no Brasil.
E outro que oferecia vagas nos Estados Unidos, com conteúdo todo em inglês.
Siqueira acompanhou a recente deportação de brasileiros ilegais nos Estados Unidos, que eram colocados em aviões e ‘devolvidos’ ao Brasil. Foram vários voos com muitos valadarenses a bordo. Ela criticou essa ação.
“Não foram respeitados os direitos humanos dessas pessoas. O imigrante é um trabalhador, não só o brasileiro e nem só quem vai para os Estados Unidos. É o caso dos refugiados na Europa.