Bolsonaro é o grande beneficiário da desistência de Doria
Tucano seria um duro adversário para Bolsonaro e a gestão negligente do Planalto na pandemia
Jair Bolsonaro ganhou um presente do PSDB nesta segunda, quando João Doria anunciou sua saída da disputa ao Planalto. Conhecido por sua capacidade de comunicação e de articulação de discursos, Doria poderia até não levar a corrida presidencial, mas seria um duro adversário para o presidente.
Doria travaria na campanha um confronto direto contra o negacionismo de Bolsonaro na pandemia. O governante que defendeu a ciência e atuou para trazer a vacina — para preservar vidas e para manter a economia funcionando durante a pandemia — enfrentaria o presidente que atrasou a compra de vacinas, boicotou as negociações do Butantan com a China e desprezou a ciência, estimulando o uso de medicamentos sem eficácia.
Doria, o responsável pela vacinação, enfrentaria Bolsonaro, que até hoje nega o imunizante. Teria os feitos econômicos de Henrique Meirelles em São Paulo para rebater a principal desculpa de Bolsonaro, de que o isolamento na pandemia é a causa de todas as falhas e dificuldades da atual gestão no Planalto. Mesmo com toda a crise provocada pela pandemia, Doria conseguiu colher realizações no estado. Com Doria na campanha, os eleitores teriam um duelo de ideias de um candidato que seguiu a ciência e a gestão política contra outro candidato que apostou no conflito e no caos para não assumir responsabilidades.
Assim como Bolsonaro lucrou com a saída de Sergio Moro, que seria o candidato que poderia responsabilizar o presidente pelo enterro do combate à corrupção, agora Bolsonaro lucra ao não ter que enfrentar Doria e sua gestão na pandemia. Como já fez em tantos momentos, ainda tentará entortar a narrativa dos fatos para dizer que ele, Bolsonaro, foi o grande responsável pela vacinação no país, dado que o governo federal pagou pelos imunizantes.