O Ibovespa, principal índice do mercado financeiro, acumula alta de cerca de 26% em 2023, o que — com poucas horas de negociação restantes — configura a maior alta para a bolsa desde 2019, quando o ganho foi de pouco mais de 31%. O último ano surpreendeu positivamente analistas de mercado do Brasil e do mundo, superando expectativas e marcado por fatos inesperados, vide a guerra entre Israel e Hamas. “É interessante comparar a foto com o filme. Para quem apenas vir uma foto do início do ano e uma do fim do ano, 2023 foi extremamente positivo, com dados macroeconômicos excepcionais. Mas quem viu o filme, ou seja, acompanhou o decorrer do ano, percebeu uma travessia muito desafiadora”, diz Daniel Cunha, estrategista-chefe da BCG Liquidez.
O analista lembra que o crescimento do PIB, o Produto Interno Bruto, do Brasil deve superar em três vezes o esperado pelo mercado no início do ano, uma excelente surpresa, e o controle da inflação também se deu de maneira melhor do que a esperada. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos passaram longe de uma recessão, diferente do temido por parte do mercado. Apesar dos resultados finais, Cunha pontua que o decorrer do ano foi desafiador. “Foi um ano muito volátil, com o início de um novo governo, por exemplo. Havia uma descrença muito grande em relação ao ministro (Fernando) Haddad, que acabou fazendo um trabalho razoável”, diz.
Dada a volatilidade dos acontecimentos que marcaram 2023, analistas não tiveram uma tarefa fácil para compreender os rumos da economia. Trata-se de um ano em que houve pouca “visibilidade” de previsões, necessária para gerar retorno financeiro. Um fato relativamente isolado e, independente disso, estarrecedor, foi o medo acerca de uma quebradeira geral de bancos nos Estados Unidos, no início do ano. Em março o Silicon Valley Bank colapsou em menos de 48 horas, mas, felizmente, o fenômeno não se alastrou em grande proporção.
Ao contrário, observaram-se bons resultados na economia americana. Havia dúvida se o controle da inflação no país se daria de maneira suave ou aos solavancos. “O fato é que a economia americana mal desacelerou e conseguiu reduzir a inflação, algo bem especial”, diz Cunha. Os bons ventos dos EUA compensaram, em alguma medida, uma grande decepção com a economia chinesa, que performou aquém do esperado. O mercado esperava que a atividade do país asiático decolasse com sua reabertura pós-pandemia da Covid-19 e se frustrou.
Cortes de juros expressivos são esperados para 2024, especialmente em países desenvolvidos, em um movimento de continuidade em relação aos bons frutos colhidos neste ano. O tamanho dos cortes a serem promovidos pelos bancos centrais mundo afora será um dos principais elementos a serem observados por analistas. Já na política, a quantidade de eleições marcadas para o próximo ano promete tensão para quem lida com macroeconomia. Pleitos em Taiwan, México e nos EUA, que vão definir seus próximos chefes de governo, além da eleição para o parlamento europeu, podem trazer consequências monumentais para os rumos do mundo.
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