O produtor que quisesse comprar fertilizantes depois do início da guerra não estava conseguindo sequer cotação de preços. Nesta quinta-feira, 03, no fim do dia, alguns preços na faixa dos 1000 dólares por tonelada surgiram, segundo Jeferson Souza, especialista em fertilizantes da consultoria Agrinvest Commodities. Isso representa uma alta de cerca de 20% sobre um preço de fertilizante que já estava nas alturas. Em um ano, os preços dos diferentes tipos de fertilizantes já tinham subido entre 100% e 220% porque o gargalo é bem anterior à guerra. Os produtores do Mato Grosso, por exemplo, que normalmente já teriam 70% dos fertilizantes comprados para a safra 22/23 agora só estão 60% contratados. Muitos deles deixaram para fechar contratos neste ano esperando uma queda do dólar e mesmo dos preços dos produtos. Mas com a guerra esta situação tende a se agravar.
A Associação dos Produtores de Soja já está recomendando a produtores que usem apenas a reserva de solo no plantio deste ano. Ou seja, sem fertilizantes.
Para tentar reduzir um pouco a dependência russa no curto prazo, o governo vai tentar negociar com canadenses para ampliar a compra dos fertilizantes. Mas os fornecedores já disseram que não vão aumentar significativamente a produção porque não podem correr o risco de a guerra acabar e normalizar a entrega da produção russa. A ministra da agricultura, Tereza Cristina, disse em entrevistas que o Brasil está tranquilo para a safra 2022/2023 e que teria estoques de passagem de fertilizantes até outubro. Mas a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que foi citada pela ministra como uma das fontes de informação, informou nesta quinta-feira, 03, que os estoques são suficientes até março.
Os produtores de Mato Grosso precisam ter os fertilizantes entregues em suas terras até fim de agosto, início de setembro. Isso significa que precisam garantir a compra até junho e julho. Ou seja, tudo passa a depender do tempo de duração da guerra. O relógio está correndo.
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