O prato feito de Bolsonaro
O cardápio servido pelo governo anda escasso e salgado para boa parte dos brasileiros
“Eleição para presidente é que nem self service: não adianta pedir camarão se não tem camarão; cordeiro, se não tem cordeiro. É o que tem na mesa. Em estando na mesa, você vai ter de escolher o melhor ou o menos pior. E assim foi feito em 2018: eu ganhei.”
O presidente Bolsonaro não é de frases buriladas, mas não se pode dizer que não contenham sabedoria. Essa aí de cima ele soltou há pouco, falando a uma plateia de empresários. Deixando de lado o evidente caráter autodepreciativo da sentença e pegando carona somente na imagem escolhida, dá pra dizer que o prato feito servido até agora pelo presidente aos brasileiros anda indigesto – ou vazio, dependendo da posição do comensal na pirâmide social.
Segundo pesquisa encomendada pelo BGT Pactual à FSB, 55% da população deixou de comprar carne vermelha, 13% riscaram arroz e feijão do cardápio e 33% abriram mão de frutas, verduras e legumes. A razão, como sabemos, são os preços pra lá de salgados.
A inflação está disseminada em praticamente todos os segmentos de produtos e serviços. Mas a dos alimentos, que chegou a 3,38% em abril de acordo com o IPC/Fipe, vem escalando e tem um impacto muito mais intenso nos estratos mais populares. O presidente já se queixou que o Auxílio Brasil não teve o efeito que esperava: alavancar sua popularidade entre os mais pobres.
Olhando para a mesa desse brasileiro, ele talvez encontrasse a explicação no vazio reinante. O voto dessa gente é quase uma vingança, um prato que se come frio.