Guerra na Ucrânia revela o flerte autoritário do populismo mundial
À direita e à esquerda autocratas aplaudem Putin ou revelam um silêncio cúmplice
O ataque militar da Rússia contra a Ucrânia expôs o raciocínio autoritário daqueles que apoiam ou preferem a neutralidade perante o massacre promovido por Vladimir Putin.
Escrevi “raciocínio” para dar o benefício da dúvida, mas talvez não seja o caso. Para este colunista é bem difícil encontrar algum argumento racional entre aqueles que silenciam diante da morte intencional de vidas humanas.
As ideologias nada explicam. À esquerda, Nicolás Maduro, da Venezuela, apoiou a iniciativa do russo. Cuba preferiu silenciar. À direita, a resposta não foi diferente. Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, chegou a destacar uma qualidade de Putin – ele estaria sendo “inteligente”. Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, já disse que seu país não deve tomar lado em relação ao conflito.
No Brasil, o presidente também tem evitado se posicionar contra a agressão russa. Não é hesitação. Desde que visitou o país, com direito a foto sorridente ao lado de Putin, Bolsonaro se colocou de vez, e deliberadamente, na contramão da opinião prevalecente no mundo ocidental civilizado e democrático.
O que explica essa atitude é, provavelmente, uma variação daquele antigo ditado que diz que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. No caso da Venezuela e de Cuba é possível se identificar um viés ideológico, pois a ação de Putin significaria um golpe contra os Estados Unidos, a nação que simboliza o capitalismo.
No caso de Bolsonaro, a questão passa pelo pessoal. Ele não gosta dos democratas de Biden, e presta vassalagem ao republicano Trump, a quem considera um modelo da ultradireita.
A bancada do PT no Senado Federal publicou uma nota que investe mais tempo na condenação norte-americana do que na solidariedade à população ucraniana.
À esquerda e à direita, o autoritarismo de Putin exerce um fascínio tão forte quanto a repulsa provocada em líderes de países que foram palco da Segunda Guerra Mundial.
Ataques, invasões e guerras são temas para serem analisados pela perspectiva da geopolítica. Nesses cenários, os amadores, mesmo irrelevantes, podem ser perigosos. A história nos mostra que não existe neutralidade quando vidas humanas estão em jogo. Quem é neutro se torna cúmplice e será cobrado pelas futuras gerações.