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Por Felipe Branco Cruz
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Wanderléa a VEJA: “Os fãs têm uma visão generosa e me acham sempre jovem”

Em entrevista, a cantora fala do novo disco 'Wanderléa Canta Choros', relação com Erasmo Carlos, memórias da Jovem Guarda, moda, sensualidade e Rita Lee

Por Thiago Gelli 9 Maio 2023, 09h00

Wanderléa começou ainda criança ao lado do grupo Regional do Canhoto, cantando chorinhos como crooner mirim. Mas foi como a jovem roqueira de minissaia — inspirada pelo figurino de Jane Fonda em Barbarella — que a cantora de cabelo loiro e rebelde conquistou o Brasil. Desde a época da Jovem Guarda com Roberto e Erasmo Carlos, ela cantou nos mais diferentes estilos e quebrou uma barreira atrás da outra — seis anos antes de Demi Moore, ela foi a primeira a posar nua e grávida para uma capa de revista. Agora, aos 78 anos, ela retorna às raízes em Wanderléa Canta Choros, do Selo Sesc, primeira vez em que oficialmente entrega um capítulo de sua carreira adulta ao gênero. O álbum fica disponível em todas as plataformas nesta sexta-feira, 12, e seu retorno para os palcos está marcado para o dia 20, em São Paulo. No meio tempo, ela disponibilizou o single Delicado — e tirou um tempo para falar de carreira, família, poesia, luto, homenagens e o apelido que Rita Lee a deu em entrevista a VEJA:

O público acostumado à Wanderléa da Jovem Guarda pode se surpreender com sua familiaridade ao chorinho, mas explorar diferentes gêneros musicais não é novidade para você. Como você concilia fases artísticas? Comecei a carreira muito menina e tentei vários gêneros. Na rádio, eu ouvia os choros cantados por Ademilde Fonseca, que cantava muito rápido, e via aquilo como um desafio. Depois da Jovem Guarda, quando fiz discos com o Egberto Gismonti, sempre colocava um choro, porque era algo que remetia a minha infância. Gosto é das coisas diferentes, porque acho que sou mais intérprete que qualquer outra coisa.

E existe algum gênero ou estilo que se recusaria a gravar? Não, eu gosto de música que me toque, que me diga algo, que seja rítmica. Gosto da música que a garotada está fazendo justamente pelos ritmos, mas esse disco de choro traz uma poética das letras de nossos célebres autores. Em Acariciando — escrita por Abel Ferreira e Lourival Faissal —, cheia de delicadeza para falar de amor, canto “vivo a esperar por teu amor como o dia espera o sol e a noite dos sonhos espera o luar”. A única inédita do disco é Um Chorinho para Wandeca, de Douglas Germano e João Poleto, que escreveram “aviso para não te iludir, se você pensa aí que vou me despedir: se aquieta, acabei foi de começar”. Acho muito divertido, nos altos da minha carreira, ainda estou começando.

De todos os compositores cujas canções você já encarnou — e os que ainda faltam —, quais os seus favoritos? Gosto que a música caia bem, não que seja apenas uma novidade ou que venha de um autor importante ou da nova geração. Meus favoritos são, claro, todos os grandes escritores brasileiros, mas ainda gostaria de cantar a música dos mineiros e também de realizar um trabalho com as cantoras do rádio, para além do chorinho. Tenho uma série de projetos que quero fazer, e fico justamente pensando nos autores e nas melodias.

Você acompanha a produção brasileira atual? De modo geral, eu gosto. Tem muita artista nova, mas eu não saberia dizer os nomes. Minha filha Jadde fica me mostrando: “Olha essa! Agora aquela!”, mas tenho que ter mais familiaridade com elas.

Em 2019, você preparava um disco de inéditas com a gravadora Deck, que não chegou a ser feito devido a diferenças criativas. Atualmente, o debate acerca do poder que gravadoras possuem sobre o trabalho de artistas é muito acalorado. Você enxerga uma atitude impositiva no mercado fonográfico nacional? Não, acredito o contrário. Hoje, com a possibilidade dos artistas terem seus estúdios, a música está mais liberada. Com as plataformas e com os estúdios pessoais, as pessoas têm a possibilidade de criar cada vez mais de acordo com aquilo que as motiva. Por isso mesmo gostei da ideia de trazer os choros neste disco, para que a moçada também se inspire neste gênero e faça algo diferente a partir dele, que é uma coisa autenticamente brasileira.

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Das minissaias a seu icônico ensaio nu grávida em 85, você se consagrou como ícone sexual e da moda. Hoje, você acredita que ainda seja possível provocar? Nós fizemos tanta coisa nos anos 1960, de tudo. Com Barbarella, de 1968, eu disse: “Nossa, isso é maravilhoso. Quero fazer igual e quero ter uma minissaia igual à dela.” Agora está tudo liberado, as mulheres estão muito mais soltas e não existe tanta repressão, ou então elas a enfrentam com atitude, são mais poderosas, então não há nada que me espante. Fico feliz com a colocação das mulheres jovens.

Quantos dos seus visuais mais famosos você manteve consigo? Sempre me preocupo muito com o visual. Tenho ainda boa parte do guarda-roupa da Jovem Guarda. Minhas filhas têm vontade de montar uma exposição — e acho que deveria acontecer sim. Para o show deste disco, devo colocar uma roupa clássica, porque acho o choro sofisticado. Deve ser algo esvoaçante e comprido, mas não sei ainda. 

Seu pai e sua avó se opuseram a sua carreira musical por motivos de gênero. Desde então, o machismo na música mudou? As coisas vão se modificando pela atuação das mulheres. Acho que o homem está se tocando mais. Vejo meu genro e meu marido, que já era de trocar fralda, cozinhar junto e atuar no cotidiano da família. Anteriormente, a mulher fazia tudo e o marido queria tudo na mão. Com a Jovem Guarda, nós forçamos uma modificação porque a participação dos jovens foi muito forte e a sociedade teve que ceder um pouco mais. Desde então, as relações estão se formando cada vez mais de uma maneira amigável e companheira, mas ainda tem muita coisa a acrescentar. 

Nessa etapa de sua carreira, você sente o etarismo por parte do público? Acho que o público sempre me recebe muito bem. Não fico muito preocupada com isso. Acho divertido, na verdade, que eles me achem sempre jovem. O tempo passa para todos, e eles têm uma visão muito generosa da minha imagem.

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Muitos dos seus contemporâneos foram eternizados no cinema, e você mesma foi vivida por Malu Rodrigues no filme Fama de Mau, focado na história do Erasmo. Você gostaria de ver uma biografia sua no cinema? A Malu é maravilhosa. Assisti ao filme comendo pipoca junto do Erasmo e gostei muito. Ela é uma grande cantora e uma grande atriz. Já tenho contrato para outros projetos em filme e streaming, mas a pandemia congelou tudo. Agora, quem sabe — mas eu não sou muito de perseguir projetos, penso neles e deixo que venham naturalmente. Na hora, estou sempre pronta.

O apelido “Ternurinha” nem sempre foi de seu agrado, tal como Rita Lee já declarou achar “Rainha do Rock” uma alcunha cafona. Existe outro nome de sua preferência? Isso me lembra uma história. Me lembro que estava um dia junto da Rita e da Paulinha Toller, [cantora e ex-vocalista da banda Kid Abelha]. Estávamos as três conversando, aí a Rita falou para a Paula: “Essa é a mãe do rock.” Em resposta, falei que a Paulinha era nossa prole, a filha do rock, e perguntei “Rita, e você?” Ela respondeu: “Eu sou a madrasta”. Bem Rita, né?

Dos discos de vinil aos CDs, fitas e streamings, qual é o melhor jeito de ouvir um álbum? É o vinil. Eu procuro os discos antigos, eles têm uma sonoridade melhor, mas, na medida do possível, a gente escuta pelo celular, porque não dá para carregar uma vitrola — “vitrola” é ótimo, né? Aqui em casa temos uma acústica toda preparada para ouvir vinil, aí eu ligo tudo e me delicio com o som.

Não posso deixar de citar, infelizmente, a partida de Erasmo Carlos em 2022. Hoje, o luto é um pesar ou combustível para sua arte? Sofri com o luto muitas vezes na vida e descobri que a melhor maneira de lidar com ele é encontrar os amigos e familiares que se foram na forma de entidades encantadas, que estão sempre nos acompanhando aqui. Espero que, depois da nossa passagem, possamos reencontrar nossos amados. Eu não consigo imaginar o Erasmo longe. Para mim ele está muito vivo, seja no meu coração, no meu afilhado [Leonardo Esteves, filho de Erasmo], no que fizemos juntos ou em tudo que ele deixou como um dos maiores compositores do Brasil. Me recuso a imaginar o Erasmo não estando conosco — ele continua presente na minha vida até hoje.

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