Há alguns anos, as desavenças entre os integrantes dos Novos Baianos haviam tirado dos fãs qualquer esperança de um retorno do grupo, até que, em 2015, após 27 anos, Pepeu Gomes e Baby do Brasil fizeram as pazes e se apresentaram juntos em um histórico show no Rock in Rio daquele ano. Desde então, o grupo vinha fazendo apresentações esporádicas e concorridíssimas com sua formação clássica, com Baby, Pepeu, Moraes Moreira, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor.
O imponderável, com sempre, insiste em atrapalhar e em 2020 deu-se a grande tragédia. Moraes Moreira morreu, aos 72 anos, vítima de Covid-19. Dois anos depois, Luiz Galvão, o grande poeta e principal letrista do grupo, morreu aos 87, por problemas cardíacos. Neste sábado, 16, os Novos Baianos, com Pepeu, Baby e Paulinho, retornam aos palcos em um show no festival Coala, no Memorial da América Latina, em uma celebração dos 50 anos do lançamento histórico Acabou Chorare, turnê adiada pela pandemia e agora retomada para homenagear os colegas falecidos.
Na noite desta quinta-feira, 14, a reportagem de VEJA acompanhou o ensaio que o grupo fez antes do show, em um estúdio de São Paulo, e conversou com o trio. Bem-humorados, eles demonstraram um entrosamento que só uma amizade de longa data, forjada por anos vivendo juntos em um sítio no Rio de Janeiro, poderia proporcionar. Baby era a mais espontânea e ditava o ritmo das canções. “Quero Preta, Pretinha com um andamento mais rápido. Parece que estou cantando uma valsa”, brincou. Pepeu, concentradíssimo na guitarra, acatou a decisão e Paulinho não perdeu um compasso. Cria do rock and roll, Pepeu deu um jeito de incluir um solo de Fire, clássico de Jimi Hendrix, em uma das canções. Galvão e Moreira, no entanto, são insubstituíveis e a falta deles é sentida a todo momento pelo trio. Confira a seguir os principais trechos do bate-papo:
Vocês apresentam neste sábado, 16, no festival Coala, a turnê comemorativa dos 50 anos do Acabou Chorare. Vocês vão fazer mais shows?
Baby do Brasil: Fizemos uma live durante a pandemia a pedido do Coala e agora os organizadores nos convidam novamente para um show ao vivo. Temos o maior carinho por esse festival. Embora nós três estejamos em apresentações-solo, abrimos uma brecha na agenda para realizar essa turnê. Estamos comemorando uma vitória porque a semeadura é opcional,
mas a colheita é obrigatória. Estamos no tempo de colheita. Depois do Coala, vamos fazer, pelo menos, outros cinco shows, mas não podemos contar tudo.
Pepeu Gomes: Eu conto. Estamos estudando shows no exterior também.
Percebi que vocês estão bastante entrosados. A amizade continua muito forte?
Baby: Nossa base é feita de amor. A gente pode até cair nos tapas se a gente quiser, mas jamais deixaremos de nos amar e caminhar um com o outro. Por quê? Porque os laços que nos unem são verdadeiramente laços de amor. Novos Baianos é “forever”.
Como vocês estão lidando com o luto pela morte de Moraes Moreira e Luiz Galvão?
Baby: Eu não consigo lidar com o luto. Eu não consigo acreditar na morte deles. Fui lá no velório e orei, gritei, levei as cartas que Pepeu e Paulinho escreveram antes. Eles estão vivos na nossa arte. É como se eles estivessem conosco. Mas não é fácil. Na minha cabeça é como se eles estivessem viajando. Gosto de pensar desse jeito porque eu não gosto desse sofrimento. Eles estão aqui, estão presentes.
Pepeu: Eu não superei a morte deles. Moraes era meu braço esquerdo. É ele que fazia a base para mim.
Paulinho: Novos Baianos não é mais nosso. É do povo brasileiro. Sempre que eu subir no palco eu subirei para homenagear o Moraes Moreira e o poeta Galvão. E também todos que já passaram pelos Novos Baianos. Nos últimos anos, eu tinha um relacionamento tão próximo com o Moraes que a minha mulher brincava comigo quando o telefone tocava. Ela dizia: “Seu namorado está te ligando”. Ele me ligava dez vezes por dia. Ainda escuto a risada dele. Outro dia comecei a fazer uma letra sobre ele.