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‘Nada Será como Antes’: doc celebra legado do Clube da Esquina na MPB

Grupo liderado por Milton Nascimento e Lô Borges inovou a MPB nos anos 1970 com sua alquimia musical ousada

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 mar 2024, 08h00

No princípio dos anos 1970, quando era um jovem músico mineiro de 19 anos, Lô Borges viveu sua primeira grande aventura: mudou-se para o Rio contra a vontade dos pais, passando a dividir um apartamento com o amigo Milton Nascimento — então já uma estrela da MPB. A missão era ambiciosa: gravar um disco junto não só de Milton, mas de uma turma numerosa que incluía seu irmão Márcio e os amigos Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Toninho Horta, Wagner Tiso, Robertinho Silva e Flávio Venturini. O processo de gravação foi caótico. Os músicos chegavam ao estúdio carioca em horários diferentes, e cada um completava o trabalho do outro sem nenhuma ordem. Enquanto isso, Milton e Lô escreviam as letras e as inseriam depois. A gravadora EMI-­Odeon não gostou, mas bancou a aventura por insistência de Milton. Quando o álbum Clube da Esquina saiu, em 1972, com sua capa prosaica que mostra dois garotos sentados à beira de uma estrada, a crítica torceu o nariz. Para além do número absurdo de canções, 21 no total (foi, aliás, o primeiro disco duplo gravado em estúdio no país), a curiosa mistura de Beatles com bossa nova, pitadas de jazz, rock progressivo e ritmos latinos e africanos soava desconexa demais para os ouvidos brasileiros da época.

Com o passar dos anos, contudo, a impressão que se tinha daquelas composições mudou radicalmente. E como: a obra hoje é cultuada aqui e no exterior e, em 2022, foi eleita por críticos e jornalistas como melhor álbum brasileiro de todos os tempos. A diretora Ana Rieper reconta essa jornada no documentário Nada Será como Antes — A Música do Clube da Esquina, em cartaz nos cinemas. Diferentemente de outros inúmeros documentários e livros já lançados sobre o álbum, Rieper faz um resgate afetivo dos músicos que participaram da gravação, reunindo-os em Belo Horizonte para um bate-­papo regado a cafezinho, bolo de fubá e pãezinhos de queijo. “Fizemos uma construção poética e respondemos à pergunta: de onde veio a inspiração deles?”, diz ela.

PÉROLA - A capa do álbum cultuado de 1972: mistura criativa de bossa nova, Beatles, jazz e ritmos africanos
PÉROLA - A capa do álbum cultuado de 1972: mistura criativa de bossa nova, Beatles, jazz e ritmos africanos (//Divulgação)

Aos 81 anos, Milton Nascimento é a grande ausência do filme, contornada por Rieper com entrevistas antigas do cantor. “Quando íamos gravar o relato dele, a pandemia inviabilizou”, justifica a diretora, que iniciou a produção em 2015. Não se trata, portanto, de revelar imagens inéditas ou gravações raras da época, e sim de explorar a musicalidade e a fraternidade daquele grupo que ressoa até hoje, embora tenha deixado só dois discos (o segundo sairia seis anos depois). O Clube da Esquina acabou se revelando inovador não só por sua vibrante alquimia: foi pioneiro naquele formato meio solto e improvisado de banda que hoje se chama de “coletivo”.

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No filme, os irmãos Borges ganham protagonismo: Lô e Márcio contam divertidos causos e mostram pontos da capital mineira que marcaram sua geração, como a famosa esquina onde os músicos se encontravam. Algumas pérolas também permeiam o doc, como um relato de Duca Leal, musa inspiradora de Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, e uma entrevista com o baterista Robertinho Silva, que versa sobre a africanidade da percussão nas canções. Os músicos revelam ainda como o saxofone de John Coltrane e o trompete de Miles Davis, bem como os hits da fase progressiva da banda Genesis, influenciaram suas composições. O clássico mineiro estava, sem dúvida, à frente de seu tempo.

Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886

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