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Arthur Nestrovski deixa Osesp após 13 anos como diretor artístico

Parte das atribuições serão repassadas para o suíço Thierry Fischer, regente titular da Orquestra

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 out 2022, 18h54

O compositor e crítico musical Arthur Nestrovski, que há 13 anos ocupava o cargo de diretor artístico da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), anunciou nesta quinta-feira, 27, que vai deixar o cargo. A partir da temporada de 2024, parte das suas funções como diretor artístico e responsável pela curadoria da programação serão direcionadas para o maestro suíço Thierry Fischer, regente titular da orquestra desde 2020.

Caberá a Fischer articular e implementar a visão de longo prazo para todos os corpos artísticos da Fundação. As demais atividades da Direção Artística serão distribuídas entre Fischer e sua equipe e Marcelo Lopes e o time da Direção Executiva, com intensa colaboração em frentes como os Programas Educacionais e projetos de difusão pelo estado. Como forma de marcar a conclusão do ciclo de Nestrovski e comemorar as conquistas de seus 13 anos como Diretor Artístico, Fischer dedicará o concerto de encerramento da temporada, em 18 de dezembro, ao colega, em que regerá a Nona Sinfonia de Beethoven.

O anúncio foi feito à equipe da fundação por meio da leitura de uma carta. Nestrovski foi convidado para o cargo na Osesp em 2010, após um convite de Fernando Henrique Cardoso, presidente do conselho. No texto de despedida, o músico destacou as diversas conquistas que ele alcançou no período que ficou à frente da Orquestra, como a chegada de Marin Alosp, que ocupou a regência titular entre 2012 e 2019 e o prestígio que ela adquiriu no exterior.

Leia a seguir a íntegra da carta: 

Faz 15 dias, a Osesp e o Coro da Osesp, regidos por Marin Alsop, se apresentaram no Carnegie Hall, em Nova York. Carregados de sentidos –artísticos, institucionais, até ecológicos (no programa “Floresta Villa-Lobos”)–, pode-se dizer, sem exagero, que esses foram dois concertos históricos. A seu modo, fechavam um ciclo virtuoso iniciado com Marin uma década atrás, que nos levou, pela primeira vez, ao festival BBC Proms, em Londres, à Philharmonie de Berlim, ao Festival de Lucerna e a muitas outras das principais salas de concerto ao redor do mundo, do Brasil à China. A seu modo, também, marcavam o fim de outro ciclo, pessoal, como diretor artístico da Fundação Osesp.

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A decisão vinha sendo amadurecida há bom tempo, em conversas com o presidente Pedro Parente e outros membros do Conselho de Administração, além do diretor executivo Marcelo Lopes, meu grande parceiro nesses 13 anos de tantas realizações. Quando fui convidado a assumir o cargo, em 2010, pelo então presidente do conselho, Fernando Henrique Cardoso, a principal tarefa era assegurar a continuidade e garantir a estabilidade do projeto. A história da Osesp de lá para cá fala por si. Com todos os percalços da vida brasileira, sem contar a pandemia de Covid-19, que abalou o mundo inteiro, aqui estamos, no meio de mais uma temporada de alto nível, chegando de uma turnê internacional e com grandes planos para o futuro. A qualidade artística só cresceu, assim como o prestígio da Osesp.

Entre muitas outras conquistas, vale destacar a chegada de Marin Alsop, como regente titular, depois de três anos de transição com Yan Pascal Tortelier. Fomos pioneiros na contratação de uma regente mulher, o que só nos dá motivo de orgulho. A passagem do bastão, de Marin para Thierry Fischer, conduzida com serenidade, profissionalismo e transparência, é outro motivo de satisfação para todos nós.

Ao longo de mais de uma década, a direção artística buscou implantar renovadamente o senso de curadoria, coordenando múltiplas frentes de atuação (artísticas, educativas, editoriais) e almejando assim dar relevância ao trabalho da Osesp, seja no cenário paulista e nacional, seja, em alguma medida, internacional. Também a programação de concertos seguiu neste espírito, conjugada ao desejo de levar os quadros artísticos mais longe. Nossa lista de regentes e solistas convidados faria inveja a qualquer grande orquestra; e a construção do repertório manteve acento inovador, conversando com nosso tempo, sem deixar de cultivar o cânone, como bem compete a um conjunto dessa dimensão.

Entre muitos outros projetos ligados à música brasileira, merece destaque a gravação das sinfonias de Villa-Lobos, acompanhada de uma edição corrigida das partituras, sob a direção do maestro Isaac Karabtchevsky, trabalhando com nosso centro de documentação musical. Estamos agora engajados no projeto “Música do Brasil” (Naxos/Itamaraty), com quatro álbuns lançados e outros três em breve. A lista de obras encomendadas a compositores brasileiros, de 2010 para cá, chega a 60 títulos, aos quais se somam as coencomendas internacionais, outra iniciativa pioneira entre nós.

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A temporada 2023 já foi divulgada. As linhas gerais da temporada 2024 também estão definidas. As coisas estão em ordem. Olhando em retrospecto, só posso agradecer pela experiência incrível de tanto trabalho, com tantos parceiros e interlocutores: músicos, conselheiros (gestão FHC, gestão Fábio Barbosa, gestão Pedro Parente), sucessivos governadores e secretários de estado, equipes da fundação, artistas convidados e seus representantes, patrocinadores, membros da mídia, assinantes e público em geral, literalmente milhares de pessoas com quem tive a alegria de conviver, ao longo de tanto tempo –e aos quais não posso deixar de acrescentar, em outro plano todo especial, minha mulher Claudia Cavalcanti e nossas filhas. Mas um dos aprendizados que levo é justamente reconhecer a hora em que cabe à instituição renovar as reservas de energia para tocar um projeto como este. E também, do ponto de vista pessoal, a hora de voltar a projetos próprios e a uma vida com outras demandas, agora sem a infinita carga de dedicação à Osesp.

Inauguramos hoje um acervo que leva meu nome, na mediateca da Sala São Paulo; uma coleção de quase 2.000 livros de música, literatura e outras áreas. É meu presente de despedida, em agradecimento pelo que vivi nesta casa e também como aposta no futuro, torcendo para que a Osesp tenha sempre condições de seguir seu caminho como merece.

Viva a Osesp, viva a música! E viva o ideal que nos anima, patrimônio imaterial coletivo, que nos cabe defender, hoje talvez mais do que nunca.

Arthur Nestrovski

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