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84% das mulheres NÃO acham a magreza importante? Ah, conta outra!

O feminismo não tolera as peculiaridades do feminino e ataca todos que não se juntam às suas fileiras

Por Maicon Tenfen 7 mar 2018, 09h24
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  • Na edição impressa desta semana, Veja divulgou uma pesquisa baseada em 2000 questionários que demonstra a disparidade entre o que dizem e o que pensam as mulheres hoje em dia. A chamada da matéria dá o tom geral da interpretação dos dados: “após décadas de feminismo, as brasileiras estão com a mente bem mais aberta, embora o coração ainda aceite comportamentos que reforçam valores do passado”. O que mais chama atenção são os números relacionados à estética corporal: enquanto 84% consideram a “magreza” pouco ou nada importante em termos de realização, 81% (quase a mesma quantidade) acreditam que “o feminismo combina com roupa sexy e maquiagem”. Não tapemos o sol com a peneira: são justamente os padrões impostos pela indústria da moda — combatidos pelas 84% que rebaixam a importância da “magreza” — que ensinaram o mundo a relacionar a autoestima feminina a um corpo magro e saradinho.

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    De onde vem essa contradição? Só pode ser do medo causado pela palavra “feminismo”, a nova cruz que as mulheres precisam carregar. Ainda que sejam evidentes as preocupações das pessoas com as dietas, na hora de responder o questionário as entrevistadas se sentiram inibidas para assumir um traço de vaidade combatido pelo feminismo atual. A voz da censura — ilustrada pela imagem de uma militante com o dedo em riste — está ecoando na cabeça das mulheres: “não se atreva a revelar que você se submete à objetificação do corpo feminino para a satisfação dos desejos espúrios de machos predadores etc. e tal”. É uma lógica perversa e paradoxalmente machista. Um homem que vai à academia para perder a barriga seria portador de uma “vaidade do bem”. Uma mulher que faz a mesma coisa estaria sabotando a causa que pretende salvar as mulheres de uma masmorra milenar.

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    É que se instalou uma enorme confusão entre o “feminismo” e o “feminino”. Enquanto o feminismo é um movimento político com altos e baixos, o feminino é um conjunto de valores relacionados a um gênero humano, a mulher. Os dois podem convergir, como nas lutas por direitos iguais, mas também podem divergir de maneira flagrante. É o que ocorre a cada vez que o feminismo radicaliza o seu discurso e invade o cotidiano das mulheres. Policiar o desejo e ditar regras de comportamento, uma prerrogativa de igrejas e famílias, tornaram-se o sonho totalitário do feminismo, que não tolera as peculiaridades do feminino e ataca todos que não se juntam às suas fileiras. Em outras palavras, a mulher que começou a se libertar de pais, padres, pastores, namorados e maridos de repente colide com uma supervisão muito mais “autorizada” e autoritária.

    A historiadora Rachel Soihet, citada na mesma matéria da Veja, diz que “as forças conservadoras tanto insistiram que o feminismo ganhou a pecha de movimento de mulheres feias e mal-amadas”. Isso não pode ser verdade, ainda que o movimento não se caracterize necessariamente pela beleza. A pesquisa indica que o feminismo é um movimento de mulheres jovens, com pouca vivência prática, que ainda não passaram por experiências mais desafiadoras como a maternidade e a construção de uma carreira. Nessa fase é mais fácil aderir às palavras de ordem e mais difícil perceber as contradições de uma agenda política. Basta começar a vida adulta de verdade para que os radicalismos sejam balanceados. Ou basta que as militantes leiam. A internet está cheia de ex-feministas que acabaram se decepcionando com a sombra opressiva do feminismo.

    Talvez essa seja a grande vantagem do movimento. Passar por ele seria uma etapa necessária de aprendizado e maturação. Você se torna feminista para combater os homens em particular e ex-feminista para combater o autoritarismo em geral.

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