Nem todos os candidatos que venceram eleições presidenciais no país desde a redemocratização lideravam a corrida em abril do ano eleitoral. Em abril de 1994, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso tinha 21% e perdia para Lula, com 37%. Da mesma forma, as pesquisas de abril de 2010 davam algo em torno de 28% para Dilma Rousseff, que estava atrás de José Serra, que tinha cerca de 40%. Na eleição mais pulverizada de todas até agora, o vencedor Fernando Collor passou a liderar a disputa justamente em abril de 1989, mas apenas com 17%.
Apesar de arriscada a comparação de uma eleição com outra, dadas suas diferentes circunstâncias, um traço parece constante: nenhum candidato com 1%, 2% ou pouco mais, em abril do ano da eleição, ganhou tanto fôlego em menos de seis meses e venceu. Ainda que se dê o desconto de que a circunstância de 2018 é para lá de estranha – o sujeito que lidera as pesquisas com o dobro do segundo colocado foi preso e será impossibilitado de concorrer – não se pode esperar algo diferente: o pelotão que está hoje com 1% ou pouco mais, a chamada turma da rabeira, tem chance próxima de zero de chegar lá.
Isso inclui os governistas Michel Temer e Henrique Meirelles e os representantes do centro e da centro-direita que já se apresentaram como pré-candidatos, como Rodrigo Maia, Flávio Rocha, Paulo Rabello de Castro, Guilherme Afif. Álvaro Dias, com cerca de 5%, ainda pode alimentar uma esperançazinha, ainda que remota.
À esquerda, Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos estão em situação parecida. Dois outros nomes, ainda não candidatos mas testados em pesquisas como “postes” de Lula – Fernando Haddad e Jaques Wagner – também trafegam na faixa dos 1%. Mas não podem ser eliminados porque, uma vez ungidos, teriam um forte motor de crescimento. Até onde, não se sabe.
Mas o que se espera para os próximos meses, até agosto, é que a “turma da rabeira” sofra forte desidratação. Desistências, barganhas e alianças, devem reduzir o número de candidatos dos atuais vinte para algo em torno de oito ou dez. Afinal, mesmo quando se tira dinheiro do bolso, fica caro ser candidato a presidente. Não é brincadeira.
Ainda é cedo para dizer quem vai se beneficiar com isso. Em tese, a centro-direita pode se aglutinar em torno do mais viável (ainda) dos candidatos do establishment, o ex-governador Geraldo Alckmin, dando-lhe o fôlego que falta para chegar ao pelotão intermediário dos candidatos – aqueles que alcançam algo em torno de 10%.
Desse segundo pelotão, que além de Alckmin pode vir a ter também a presença de um dos “postes”de Lula, deve sair o futuro presidente do Brasil: Jair Bolsonaro, Marina Silva, Joaquim Barbosa, Ciro Gomes. Façam suas apostas porque a hora é essa.
Helena Chagas é jornalista desde 1983. Exerceu funções de repórter, colunista e direção em O Globo, Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil. Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (2011-2014). Hoje é consultora de comunicação