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Tempos vulgares

“A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”

Por GAUDÊNCIO TORQUATO
Atualizado em 30 jul 2020, 19h25 - Publicado em 22 set 2019, 10h00
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  • Peço licença às leitoras e leitores para substituir minha análise política semanal por ligeiras linhas sobre o espírito do nosso tempo. Começo com o alerta feito por Nietzche em seu retiro nos Alpes suíços em 1880: “Vejo subir a preamar do niilismo”. Prenunciava a chegada de tempos medíocres e vulgares.

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    “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Nesses tempos de baixeza moral, a atestar que o estágio civilizatório de um povo nem sempre segue o rumo da grandeza, urge dar novo sentido à frase acima de Karl Marx. A história se repete uma, duas, cinco ou mais vezes, e portando novas tragédias.

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    Olhe-se ao redor. Um clima de emboscada nos segue com agressões de todos os tipos. Insegurança nas ruas, gangues em todas as regiões, balas perdidas, querelas por pequenos incidentes – um esbarrão nos ônibus, um palavrão no trânsito.  Fosse só isso, seria até suportável.

    Mas os tempos são mais sombrios e abatem a moral de nossa gente. Oportunistas e carreiristas se abrigam em guetos na administração pública. Larápios se disseminam e corroem as riquezas da Nação. Em pleno tempo de Lava Jato, apoiam-se em modelagens tecnológicas para sugar bens do Estado.

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    A honradez cede lugar às artimanhas. Profissionais da política trocam a missão de bem servir à sociedade, ideal aristotélico, por uma profissão bem remunerada. Servir-se em lugar de servir. Muitos trocam a palavra e sua índole moral por uma prebenda.

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    Corações e cérebros escamoteiam a verdade, arrumam desculpas para explicar a mudança de posição em importantes decisões. As circunstâncias determinam o ir e vir. Firmeza de propósitos? Quimera.

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    Nessa paisagem de folhas secas, grupos se digladiam em redes sociais com xingamentos e acusações, multiplicando fake news em um cabo de guerra imaginário. Debater em um fórum de ideias? Não. O ódio racha a sociedade, a bílis escorre. É um jogo de soma zero.

    Frios, apáticos, cegos, milhões não enxergam os horizontes do amanhã de prosperidade, caso substituíssem a mentira pela verdade, o deboche pelo respeito, o oportunismo pela oportunidade de ajudar os carentes, a indignidade pelo zelo, a torpeza pela civilidade. O que se vê são impostores e hipócritas.

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    A injustiça impera, apesar do Judiciário, do Ministério Público e dos sistemas de controle. O espetáculo motiva operadores do Direito, interessados apenas na visibilidade. A hipocrisia dá o tom. A maldade se bifurca na encruzilhada dos malfeitores. O primeiro germe da perfeição moral se manifesta quando alguém pratica o bem, ensina coisas certas, admira as virtudes. Mas esse germe é escasso, convenhamos.

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    O país se locupleta de pessoas refratárias a gestos dignos. Que navegam no pântano. Caçadores de fama, aproveitam o niilismo para surfar nas ondas do favorecimento. Resta pinçar o timoneiro Simon Bolívar, que há 170 anos perorava: “Não há boa fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os tratados são papéis, as constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida, um tormento. A única coisa que se pode fazer em nossa América é emigrar”.

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    Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político 

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