Radares ultra-sensíveis, da política e do poder, instalados em pontos estratégicos entre Salvador e Brasília – nos palácios do Planalto (Brasília) e de Ondina (Bahia) – captam sinais intermitentes de que algo se movimenta em velocidade entre nuvens, (além dos aviões de carreira), em rotas opostas do espaço aéreo brasileiro e internacional. São vôos de reconhecimento que decolam do Planalto Central do País e do Nordeste, e começam a receber rastreamento de máxima atenção, diante dos ruídos e riscos de colisões de imprevisíveis conseqüências.
Começa pelos preparativos finais e enxugamento de agenda, com vistas ao embarque do presidente da República, na próxima semana, para Nova York, onde Jair Bolsonaro fará o discurso de abertura da 23ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e promete tratar “com informações, conhecimento histórico e números”, do explosivo tema da preservação ambiental e da soberania na região da Amazônia Legal, em dias incendiários e encrespados. Viaja convalescente da quarta cirurgia a que se submeteu, para livrar-se das sequelas deixadas pela facada que levou ainda em campanha. Tudo indica, porém, que chegará a NY livre de cadeira de rodas ou de maca ( cuja possibilidade admitiu), mas preso a uma pesada carga de expectativa global que se criou – do aliado norte-americano Donald Trump, ao inesperado adversário francês, Emmanuel Macron.
Enquanto isso, governadores insurgentes, dos 9 estados do Nordeste , cuidam das preliminares de outro vôo, que agita radares e preocupa controladores de espaços aéreos interno e internacional. A viagem da caravana de chefes regionais, capitaneada pelo petista Rui Costa, da Bahia, que abre espaços na agenda da política nacional e na chamada grande imprensa, na condição de nova figurinha carimbada, da vez, “das esquerdas” do País. Ou “da direita das esquerdas”, como alguns, dentro de seu partido, e de linhas auxiliares – ao lado de adversários declarados – já o catalogam. Por ironia, ciúme ou despeito, em face da sua repentina ascensão e liderança.
O fato é que Rui Costa “pegou o pião na unha” (no dizer regional) na recente reunião dos governadores nordestinos, em Teresina, Piaui, do comunista Flávio Lino (PC do B), onde ficou acertada, para novembro, a viagem deles em caravana, à Europa (Alemanha, França, Itália e Espanha), com o propósito já anunciado “de apresentar o Nordeste a investidores estrangeiros”. Chefe consensual da delegação, o petista baiano deu detalhes do périplo, em entrevista a repórteres da UOL, da Folha, depois de participar de um evento na capital paulista.
“A gente quer mostrar ao mundo que existem outros brasis, além do Brasil do governo federal”, brandiu Costa. “Nós queremos dizer que existe um Brasil diferente, que há governantes diferentes, que valorizam o meio ambiente, a diversidade humana. Mostrar que o Brasil não é esta coisa temporária que ocupa o governo federal”… Mais não digo, nem é preciso, a não ser que isso, no dizer nordestino, “é o mesmo que chamar um cabra para a briga”. No caso, o presidente Bolsonaro. Nos próximos dias, é bom ficar de olho nos vôos para os Estados Unidos e para a Europa. E nos sinais dos radares. Afinal, como ensinava Ibrahim Sued, “cavalo não desce escada”.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br