Se antes a reforma da Previdência Social não seria aprovada, como não foi em dezembro último, muito menos o será no final de fevereiro próximo como imagina, deseja ou aposta o governo do presidente Michel Temer. Ou melhor: a parte do governo disposta a acreditar em fadas e duendes.
Haveria aprovação com relativa folga de votos se a reforma tivesse sido apreciada pelo Congresso no primeiro semestre do ano passado, ou talvez no início do seguinte. Foi então que a 7 de março, à falta do que fazer à noite, Temer recebeu às escondidas no subterrâneo do Palácio do Jaburu a visita do dono do Grupo J&F.
Deu no que deu (“Tem que manter isso, viu?”). E no que veio depois – duas denúncias que promoveram Temer à condição de o único presidente da República do Brasil a ser denunciado por corrupção no exercício do cargo. Corre o risco de ainda ser alvo de mais uma em breve, o que o tornaria um tríplice coroado. A conferir.
A Câmara dos Deputados salvou Temer de ser processado. Mas a boa vontade que havia ali com a reforma da Previdência esgotou-se com a aproximação da data das eleições deste ano. Não deu para aprová-la em dezembro último como Temer quis. Não dará para aprová-la com a volta em fevereiro de deputados e senadores à Brasília.
Não só a eleição estará mais perto, o que toca terror nos políticos à míngua de votos, como agora um dos pais da reforma, o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, age, fala, comporta-se como candidato a presidente da República. Politicamente, depois de Temer, ele é quem mais teria a ganhar se a reforma fosse aprovada.
Deputados e senadores não vão querer encher a bola de Meirelles. Primeiro porque ele é estranho ao ramo, e os que são do ramo detestam intrusos. Segundo porque Meirelles não é um cidadão, digamos, prestador de favores, garantia de que uma vez eleito seria permeável à política franciscana do que “é dando é que se recebe”.
A desidratada reforma da Previdência, quase reduzida à fixação de uma nova idade para a aposentadoria de homens e mulheres, ficará para o próximo governo. O que o futuro presidente, do alto dos milhões de votos recém-conquistados, pedir logo de saída ao Congresso, lhe será dado. Mudemos de assunto, pois.