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Os donos da bola

Quem quer que seja eleito, é crucial respeitar as regras do jogo

Por Sérgio Lazzarini
Atualizado em 12 out 2018, 07h00 - Publicado em 12 out 2018, 07h00
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  • Nas brincadeiras de futebol da minha infância, havia a figura do dono da bola. Não só queria mandar no jogo como também, a qualquer sinal de que o resultado lhe seria desfavorável, botava a bola embaixo do braço e ameaçava acabar com a partida. Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, teremos dois pretensos donos da bola, que representam grupos extremos e com histórico de preocupantes declarações. Por isso é bom, desde já, deixar bem claro o que não vale fazer nesta reta final de campanha e também quando um deles assumir o governo.

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    Primeiro: não vale minar a credibilidade do processo. O PT de Haddad já havia dito que eleição sem Lula é fraude. Bolsonaro não cansa de contestar as urnas eletrônicas. Logo após o resultado do primeiro turno, disse que problemas na votação impediram que o Brasil conhecesse, naquele momento, o seu futuro presidente. Com o acirramento da competição e dos ânimos durante o segundo turno, é importante que os donos da bola respeitem o que a população decidir. Aquele que perder deverá se perguntar se reclamaria do placar da mesma forma caso tivesse ganho.

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    Segundo: não vale fugir do confronto de ideias. É preciso ir a campo para discutir propostas concretas. Por exemplo, no Brasil há um problema severo de gastos e sua principal causa tem nome: Previdência. A população segue envelhecendo, e nosso sistema pouco se adaptou. Porém, afora menções vagas e esparsas a esse tema pelos candidatos, ainda não tivemos um debate profundo sobre ele. Na direção oposta, contra todos os números, vários congressistas eleitos acham que a Previdência está equilibrada. Como os dois lados dizem ter a solução para os problemas do país, duas coisas podem acontecer: ou haverá um novo estelionato eleitoral, ou teremos mais um presidente inoperante, que vai culpar a herança maldita dos governos passados e tudo o mais à sua volta.

    Terceiro: assumindo o governo, não vale insinuar teorias conspiratórias e destruir os poucos avanços institucionais que tanto demoramos a conquistar. Os países se deterioram quando, por uma “causa”, a população se encanta com o poder de mando de alguém que quer impor sua vontade no tapetão. Os donos da bola encontrarão jogadores que podem ir bem contra o que querem ou pensam: Judiciário, Congresso, órgãos de controle e mídia, entre outros. O PT pensa que a Lava-Jato é um complô para destruir o partido. Bolsonaro já disse que quer ampliar o número de ministros no Supremo Tribunal Federal, para colocar gente do seu gosto. Parecem arroubos inconsequentes, mas uma piscadela ao autoritarismo rapidamente se transforma em paixão ardente e com final sempre infeliz. O caminho que escolhem os estadistas se dá pelo respeito irrestrito às instituições. E assim se mantém o sistema de freios e engrenagens que move e protege as melhores nações — nem sempre com decisões que agradam a um grupo, mas seguindo e fortalecendo as regras do jogo.

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    Sob essa ótica, não serão os donos da bola que vão salvar o Brasil. É o próprio Brasil, com suas instituições, que passará pela prova de se salvar dos excessos de quem quiser mandar na partida. E, quem sabe, sairá mais forte disso.

    Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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