A vitória de Joe Biden sobre Donald Trump é uma vitória da democracia e dos democratas do mundo inteiro contra a barbárie. Mas quero falar especificamente das consequências para a região mais estratégica do Brasil, assim deveria ser entendida por todos os brasileiros e infelizmente ainda não é, que é a Amazônia.
Nós temos um compromisso com a luta contra o aquecimento global. Precisamos da floresta em pé para cumprirmos o que foi decidido, em 2015, na conferência de Paris. Temos a certeza de que a grande prosperidade da Amazônia, do Amazonas, de Manaus e de grande parte ou de todo o Brasil está na exploração do banco genético mais rico do mundo presente na nossa região. É explorar e desenvolver uma indústria de biodiversidade, rentável e capaz de realmente distribuir riqueza, gerar empregos e nos transplantar para a economia 4.0 inclusive, nos colocando em dia com as exigências da quarta revolução industrial.
Temos uma política ambiental supostamente dirigida, se é que posso usar essa expressão, pelo senhor Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, que deveria ter sido demitido há muito tempo dessa função. Talvez ele sirva para outra coisa, mas ele não é digno de dirigir um assunto que não entende e quando entende o faz pelo lado dos grandes empreendimentos de agronegócio.
Deixo claro que sou admirador do agronegócio. É fundamental para o equilíbrio da balança comercial brasileira e a faz superavitária. Então, nada contra, mas tudo contra quando se trata de agronegócio na Amazônia, assim como tudo contra o garimpo na região. Sou contra o garimpo por ser uma atividade criminosa, predatória, poluidora e que ainda esconde mortes de quem descobre o ouro, ou seja, é uma barbaridade.
Comparativos muito claros, mostram que o açaí dá mais dinheiro com a árvore em pé do que plantar soja, por exemplo. O gado tem uma produtividade muito baixa, quando se fala de uma cabeça de gado por hectare. Todas essas atividades que levam à derrubada de árvores podem render algum dinheiro por 20 ou 30 anos, talvez, o que não significa nada na história de um país, enquanto a floresta é eterna e assim deve permanecer.
Se a floresta é destruída porque preferem o agronegócio, como fizeram no sul do Pará, isso não nos interessa. Isso significaria o esvaziamento e o empobrecimento dos nossos rios. A floresta deixaria de gerar as nuvens que fazem os rios voadores banharem de chuva o nordeste, o sudeste, a Argentina e o Uruguai, por exemplo.
Deixaríamos de oferecer, talvez, o maior contributo dentre todos que contribuem para o aquecimento global se dar nos parâmetros previstos pela conferência de 2015, do clube de Paris.
A vitória de Biden significa, com certeza, o prestígio ao clube de Paris e a sensibilidade para com a Amazônia. Ele já acenou que poderia reunir o mundo para prover US$ 20 bilhões para o Brasil, com o objetivo de enfrentarmos, de maneira conveniente, as queimadas e as derrubadas de árvores na nossa região.
Então, é deixar bem claro a soberania nacional, sem dúvida, brasileira sobre a região que é “terra brasilis”, mas de interesse planetário. Quem não compreender isso está fora de sintonia com o mundo que vivemos.
Na realidade, só há uma forma de garantir a soberania brasileira sobre a Amazônia: é fazendo uma boa governança sobre a região e governando em consonância com os anseios de um povo, e de nações espalhadas pelo mundo inteiro, que tem interesse em não ver a terra se tornar, pelo aquecimento global, um local impossível de se conservar a vida humana.
Considero que a vitória de Biden sobre Trump é a vitória da democracia contra o autoritarismo, da inteligência contra o obscurantismo, da razão contra a loucura, do bom senso contra a demência, uma vitória que prenuncia, enfim, muitas mudanças em muitos países, pela própria influência que os Estados Unidos da América exercem sobre o mundo, inclusive no Brasil.
Arthur Virgílio é prefeito de Manaus