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O poder da zona oeste (por André Gustavo Stumpf)

De tropeço em tropeço, Bolsonaro esticou a corda e a colocou ao redor do próprio pescoço

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 30 jul 2020, 18h51 - Publicado em 25 jun 2020, 11h00
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  • Pacheco, personagem de Eça de Queiroz, “não deu ao país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia, mas tinha um talento imenso”. Bolsonaro é um Pacheco sem talento, mas com acuidade visual para enxergar a possibilidade de vencer a eleição.

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    Adotou discurso liberal, o que nunca foi, e prometeu austeridade no momento que o brasileiro se sentiu logrado pelos governos petistas. Construiu o fenômeno eleitoral, conduzido pelos que organizariam, mais tarde, o gabinete do ódio.

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    As notícias falsas dominaram a campanha. Deu certo. Obteve 57 milhões de votos e tirou o Partido dos Trabalhadores do poder. Modificou o cenário político brasileiro. O capitão, expulso do Exército, conseguiu ser eleito deputado estadual e depois exercer sete mandatos de deputado federal. Passou 28 anos na Câmara dos Deputados, sempre no fundo do plenário, sem apresentar projetos.

    Vale a pena retornar no tempo. No feriado de 12 de outubro de 1977, o Palácio do Planalto amanheceu protegido por soldados e atiradores de elite em posições estratégicas. O presidente da República decidira exonerar seu ministro do Exército, Sylvio Frota, que era abertamente contra o processo de abertura lenta e gradual na política brasileira. Naquele dia ocorreu o confronto decisivo entre os partidários da democracia e os defensores do regime fechado conduzido pelos militares.

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    O presidente Geisel enviou emissários ao aeroporto de Brasília onde ocorreu o estica e puxa político-militar. Uns eram convencidos a ir para o quartel general do Exército, outros para o Palácio do Planalto. O presidente venceu o confronto, determinou a exoneração de seu Ministro do Exército, que foi substituído pelo general Fernando Bethlem. Este lance pavimentou o caminho para o general João Baptista Figueiredo subir a rampa do Planalto e promulgar a anistia. Coube aos integrantes da chamada linha dura amargar a derrota, cuidar das feridas e resmungar no fundo da cena política.

    Os perdedores se espalharam pela babel brasileira. Uns se envolveram com o negócio das drogas, que no final dos anos setenta passou a ter maior presença no Brasil. Os jogos de azar atraíram alguns, outros decaíram para o grupo de ladrões profissionais do erário público e milicianos que infestaram áreas não protegidas pelos governos locais e nacional, além de militares indignados. O jovem militar Jair Bolsonaro sempre se manifestou contra a anistia. Este tipo de pensamento continua a existir na sociedade brasileira.

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    Até hoje há opositores da anistia de junho de 1979. Essa posição implica em não admitir a convivência pacífica dos antagônicos no mesmo espaço político. O presidente Bolsonaro pertence a esta turma. Ele nunca escondeu a admiração pelo coronel Brilhante Ustra, acusado de ser torturador de presos políticos, nem sua alergia a assuntos ligados ao meio ambiente e a questão de gênero. Gosta de exercer o poder e ter a palavra final. Nomeia com prazer e demite com humilhação, inclusive generais.

    Nada o detinha, até agora.

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    Encontrou o limite. Esbarrou no Supremo Tribunal Federal. O sinistro Abraham Wientraub agrediu ministros da Suprema Corte. Essa é a última atitude que se deve assumir no Brasil. É suicídio. Bolsonaro calculou mal. Teve que recuar, enviar emissários para conversar com o Ministro Alexandre de Moraes, em São Paulo. Levantou a bandeira branca. O impeachment está ao alcance da mão de Rodrigo Maia.

    O presidente gosta de falar todos os dias para o grupo de apoiadores que batem palmas e gritam palavras de ordem. Os jornalistas abandonaram o espaço. Apareceram oportunistas que pedem favores. Emergiu também a crítica no meio da massa. O quadradinho tende a desaparecer.

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    De tropeço em tropeço, o presidente Bolsonaro esticou a corda e a colocou ao redor do próprio pescoço. Somou-se ao desmando, seu absurdo e inconsequente comportamento perante a pandemia.

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    Os sucessores da linha dura militar, aqueles que eram contra a abertura democrática e a anistia, chegaram ao Palácio do Planalto. Corrupção significa dinheiro ilícito. A administração Bolsonaro & filhos aponta para algo ainda mais sério. Milícias aliadas ao discurso moralista, com vinculação evangélica e apoiadas por militares seduzidos pelo poder.

    Personagens estranhos como o famoso Queiroz, rachadinhas, lavagem de dinheiro, Fake News mantidas por verbas públicas e particulares e a promoção do ex-Ministro da Educação para o Banco Mundial, indicam que os chefetes da zona oeste do Rio de Janeiro criaram um momento crítico na história do país.

    Eles assumiram o poder.

     

    André Gustavo escreve no https://capitalpolitico.com/

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