Comissões do Congresso são ambientes controlados e por isso acolhedores e favoráveis aos que ali comparecem espontaneamente para depor. Foi como convidado, e não convocado, que o ministro Sérgio Moro falou por mais de 8 horas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Moro saiu de lá do mesmo jeito que entrou – repetindo o que sempre disse desde que o site The Intercept começou a divulgar conversas que lhe são atribuídas com procuradores da Lava Jato. E sem que nenhum dos senadores que o interrogou tenha acrescentado nada ao que se sabe. Ponto, portanto, a favor de Moro.
Ponto contra: por negar-se simplesmente a dizer que jamais tratou com procuradores nos termos que lhe são imputados, Moro desperdiçou a chance de convencer os que desejam acreditar que ele de fato se comportou como juiz isento, imparcial e neutro como a Constituição manda que fosse.
Como juiz, Moro cobrou a testemunhas e delatores de crimes que recordassem o que viram, ouviram ou disseram há muitos anos. Não fosse assim e ele não poderia crer nos seus depoimentos. Como ex-juiz, Moro sente-se dispensado de pelo menos recordar o que não disse há dois ou três anos.
Disse ou não disse que melhor seria deixar em paz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para não melindrar uma pessoa tão importante que sempre apoiou a Lava Jato? Moro poderá não lembrar se usou a expressão “melindrar”, mas impossível que não lembre se comentou com um procurador algo sobre o ex-presidente.
A ida à Comissão de Constituição e Justiça do Senado ainda não foi a hora da verdade para Moro. Por isso, ele será chamado mais adiante a depor outra vez. Até lá, The Intercept promete divulgar novas e comprometoras conversas de Moro com procuradores. O pesadelo do ex-juiz está longe de terminar.