Não podia faltar ao convite de um velho amigo para comparecer, domingo à tarde, ao aniversário do segundo neto. Ninguém merece. Mas este amigo é uma flor de pessoa. Feliz, argumentou que era uma festa evocativa com brincadeiras do nosso tempo: quebra-panela, cabra-cega, corrida de saco, corrida com ovo na colher, no final, o racha, com apenas um recreador para animar e colocar um mínimo de ordem na algazarra.
Mais dois avós completavam a torcida do jogo entre os times de verde, defendendo a esperança, o de branco, a paz. Pensem numa confusão. Arenga em cada lance duvidoso: foi fora, não foi: foi pênalti, não foi, os ânimo se exaltando e eu morrendo de medo se ser usado como VAR.
Terminou tudo bem: paz e esperança se confraternizando. A caminho do local de cantar parabéns, fiz o seguinte comentário: “Que lindeza o tempo de criança, inocente, amorosa, mas, ao mesmo tempo, a gente viu no jogo, voluntariosa, impaciente e querendo ganhar de todo jeito”.
Polidamente, o meu anfitrião, renomado psicanalista, fez uma gentil observação: “Krause, há uma diferença fundamental: ser criança é um dado cronológico, ser infantil é um modo de funcionamento psíquico. Este funcionamento desconhece limites, noção de perigo, percepção temporal, e não admite adiar realização dos desejos, por isso, quando é contrariado, tem uma crise de birra”. Em síntese, o lema infantil é ‘eu quero tudo, agora, sempre e muito’, senão tome xingamentos o que revela até a falta de educação doméstica”.
Valeu a lição. Cheguei a conclusão que, entre graves distorções, o Brasil sofre o transtorno do infantilismo: a infantocracia. É xingamento toda hora, de todos os lados, muxoxos, irritações despropositados, futricas intermináveis, ofensas pessoais, expressões chulas, tudo num linguajar que ofende a elegância do estilo e as mais elementares regras da língua de Camões.
O problema é que o infantocrata tanto pode enfiar o dedo na tomada de corrente como apertar o botão da ditadura. O infantilismo gera o ameaçador “perverso polimorfo”.
Os impropérios ganham mundos e submundos nas redes sociais. A novidade é a encrenca interminável por três letras que, até a eleição, não tinha a menor importância mas que, agora, rima com cifrão. Para coroar a baixaria, a mãe de alguém entrou na dança.
Aí eu me lembrei de Buru, o rei dos maloqueiros, quando ofenderam a mãe dele: “Não botem minha mãe no meio senão eu boto no…”. Deixa pra lá.