Deu de tudo (ou quase) no concorrido e badalado comes e bebes na casa do ministro, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Antônio Dias Toffoli, por diversos e dessemelhantes motivos, (a depender da fonte e dos interesses dos convivas). Vão de prosaicas justificativas, tipo encontro de ”palmeirenses” (o dono da casa e o presidente da República) para ver pela TV o jogo Palmeiras x Ceará pelo brasileirão; ou comemorar a surpreendente indicação do desconhecido “desembargador” (as aspas são do ministro Marco Aurélio Mello) Kássio Nunes Marques, para a vaga do referencial decano Celso de Melo, que se afasta duas semanas antes de completar 75 anos de idade.
Lá se vai uma semana do abraço caloroso do mandatário do Palácio do Planalto, no ministro que recém deixou a chefia do poder judiciário, com força e impacto simbólicos capazes de causar choro, ranger de dentes e mágoas na provocadora ativista e fã bolsonarista, Sara Winter, que jogou a toalha. E levar o pastor evangélico, Silas Malafaia, a uma dura pregação condenatória ao amigo e atual dono do poder (que sentiu o golpe e os estragos causados em suas hostes religiosas e digitais).
As repercussões não param. Aqui e ali surge mais informação sobre “o sábado na casa de Toffoli”. Uma das mais interessantes revela que o notório advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – que até já frequentou o STF de bermudas –, foi o único dos convidados a usar máscara de proteção contra o corona vírus. Para uns, parecia a incrível Casa D`Irene, “com gente que vem e gente que vai” (da famosa canção italiana de Nico Fidenco). Para outros, uma espécie de “A Festa do Bolinha”, sucesso antológico da Jovem Guarda, a reunião de “tanta gente assanhada, como nunca se viu igual”.
Na mansão do ministro do STF estiveram, além de Bolsonaro, muitos outros figurões da atual cena política nacional, com assentos destacados nos três poderes da República. Holofotes para o Procurador Geral da República, Augusto Aras, tido como inimigo insidioso e corta-cabeças de condutores e integrantes de peso da Lava Jato; Kássio Marques, o indicado por Bolsonaro para a vaga de Celso de Mello (ainda no cargo). E Davi Alcolumbre, presidente do Senado que batalha por uma brecha legal, para continuar, por mais um mandato, no comando do Congresso. Ele é figura considerada crucial para sabatina de aprovação do nome que poucos conhecem ou ouviram falar, antes da súbita ascensão ao palco político principal da cena nacional.
Por enquanto, a bola está com Bolsonaro que, depois da festa, nesta quarta-feira, disse que não pensa em acabar com a Lava Jato. “Eu já acabei com a Lava Jato, porque em meu governo não há mais corrupção”. Em sua bravata pretensiosa , o mandatário abdica da bandeira que contribuiu, decisivamente, para levá-lo ao Palácio do Palácio, onde não esconde querer continuar depois de 2022.
Das reações, a mais emblemática, até aqui, é a do ex-juiz Sérgio Moro, condutor e figura referencial da mais importante operação de combate a corruptos e corruptores da historia do país, que marcou posição com frase lapidar postada nas redes sociais: “As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Vale a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”. Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br