No livro “Um cavalheiro em Moscou”, que permaneceu por quase um ano na lista de best-sellers do The New York Times, seu autor, Amor Towles, apresenta com humor e leveza um elogio aos valores e tradições deixados para trás pelo avanço da história.
Nobre acusado de escrever uma poesia contra os ideais da Revolução Russa, Aleksandr Ilitch Rostov, “O Conde”, é condenado à prisão domiciliar no sótão do hotel Metropol, lugar associado ao luxo e sofisticação da antiga aristocracia de Moscou.
Com sua experiência de vida, carregada de sabedoria, Rostov comenta com um de seus interlocutores: “Se um homem não dominar suas circunstâncias, ele é dominado por elas”. Uma pérola de realismo e de capacidade de liderança. Tem tudo a ver com o dramático momento que estamos vivendo.
Seria bom que nossas lideranças, muito especialmente o presidente da República, meditassem no conselho do prisioneiro do hotel Metropol. A perda de domínio das circunstâncias pode transformar a liderança em algo vazio e perigoso.
Os fatos mostram que o presidente Bolsonaro não está sabendo lidar com as suas circunstâncias. Afasta-se dos seus ministros, desconfia do seu entorno e vai, aos poucos, reduzindo o leque de interlocutores a um pequeno universo de vozes concordantes. A opinião de seus filhos têm hoje mais peso do que o conselho de ministros competentes e leais. A presença de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, em recente reunião do Ministério acendeu uma luz mais do que amarela. Confundem-se as circunstâncias e as estações. A racionalidade vai sendo superada e a emoção toma conta do processo.
Não sou daqueles que enxergam Bolsonaro pelo filtro da crítica corrosiva e de um antagonismo ideológico visceral. Reconheço que o presidente da República soube montar uma excelente equipe. Muito superior às da era petista. Tem gente séria trabalhando: Paulo Guedes, Sergio Moro, Luiz Henrique Mandetta, Tarcísio Gomes Freitas, Tereza Cristina, general Heleno, o porta-voz da presidência general Rego Barros, entre outros.
Jair Bolsonaro, com suas virtudes, seus defeitos e seu estilo “presidente mesa de bar”, soube captar o pulsar profundo da sociedade. Sua mensagem -na política, na economia, na segurança pública, na defesa dos valores- foi ao encontro de um sentimento latente na alma nacional. Soube falar com o Brasil profundo.
Seu grande equivoco é o de permanecer em clima de confronto permanente. Não se dá conta de que o futuro do Brasil e o seu próprio destino depende de menos alarido e mais governo.
Não tem sentido o presidente da República fazer contraponto ao seu ministro da Saúde em caminhada dominical pela zona comercial de Brasília. Não é o lugar adequado. Sua preocupação com a economia e com o desemprego, justa e urgentíssima, deve ser trabalhada e alinhada com seus ministros.
O Brasil espera que o presidente domine as suas circunstâncias
Carlos Alberto Di Franco. Jornalista. E-mail: difranco@ise.org.br