Texto do dia 22/07/2016
No seu terceiro mês de existência, o governo do presidente Interino Michel Temer já adquiriu duas fortes marcas, uma boa e outra ruim. A boa: eventuais crises políticas entram no Palácio do Planalto com determinado tamanho e saem dali bem menor.
A marca ruim: é o governo, e mais ninguém, que cria situações capazes de desgastá-lo. Foi assim quando Temer se viu forçado a demitir ministros encrencados com a Justiça. Ele conhecia o prontuário de cada um deles, mas mesmo assim os nomeou.
Haverá novo desgaste se ele nomear Ministro do Turismo – ou se não nomear – o deputado federal Marx Beltrão (PMDB-AL), indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Beltrão é réu no Supremo Tribunal Federal por crime de falsidade ideológica.
Pouco importa que mais tarde possa ser absolvido. Não é possível que o serviço de inteligência do governo não tenha informado a Temer que Beltrão é réu na mais alta corte de Justiça do país. Então por que Temer deixou vazar a informação de que o nomearia ministro?
Para fritá-lo? Se foi para isso, Temer ficará mal com Renan caso desista da nomeação. Se deixou vazar porque seu propósito é de fato nomeá-lo, ficará mal com grande parcela dos brasileiros revoltada contra políticos com má fama, políticos simplesmente suspeitos, e políticos em geral.
O mais espantoso é que essa não será a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira que Temer se permitirá o desgaste de convocar para servi-lo quem não deveria ser convocado. Se o fez para agradar Renan, o desgaste será só seu. Renan já não se desgasta mais com essas coisas.
Não haverá ninguém ao lado de Temer para em situações como essa adverti-lo sem meias palavras: “Presidente, vai dar merda!” Se Lula teve, não levou em conta as advertências. Dilma não teve. Ninguém teve coragem para exercer tal papel. Ela não escutava ninguém.
Sabe-se que Temer, por elegância e boa educação, não tolera bocas sujas ao seu redor. “Merda”, para ele, ainda soa como um palavrão. Então que alguém pelo menos lhe diga quando necessário: “Presidente, vai dar errado”. Temer tem fama de saber escutar.