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Coronavírus e a pandemia política (por Paulo Delgado)

Um presidente que tem mais retórica do que recursos de poder não passa de prego no isopor

Por Paulo Delgado
Atualizado em 30 jul 2020, 19h03 - Publicado em 28 mar 2020, 11h00
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  •  Todos os presidentes da Nova República, de 1985 a 2020, governaram dentro da frigideira da política. Nenhum deles, diante da gordura quente, se comportou com mais serenidade do que José Sarney. Não amaldiçoou a realidade, não botou para quebrar, não convocou passeata, não agravou a crise mundial, não ameaçou a democracia. Antes, encurtou seu mandato.

    Temos certa má tradição de cada presidente eleito que chega ao Palácio mudar a mesa de lugar, o quadro da parede, os heróis nacionais, como se fosse comum, por arbitrárias escolhas, vestir o omofhorion ortodoxo dos seus costumes familiares.

    Abra os olhos e veja. Infelizmente, embora o fenômeno seja mundial, não estamos na crise do mesmo jeito. Basta observar a forma desgraciosa de governar do Presidente da República para poder dizer que vivemos um pesadelo e estamos submetidos a duas leis em cada Estado.

    Um presidente que tem mais retórica do que recursos de poder não passa de prego no isopor. Mas não perde o poder de furar.

    Onde o governador é médico, político experiente, sério e determinado, como Ronaldo Caiado em Goiás, o presidente encontra uma autoridade política e sanitária que o impede de manipular eleitoralmente o povo. Porque diante de uma pandemia é um contrassenso o conflito público entre a autoridade política e a autoridade técnica. E, tempos atuais, foi o Ministro da Saúde que foi posto em quarentena.

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    O governo federal não quer assumir o ônus da crise sanitária porque sabe que a Fazenda não tem respostas para a paralisia econômica brasileira. E, pior, sua equipe não sabe o que fazer porque não aceita o fato e a realidade inexorável que é a parada repentina da vida econômica pela velocidade do contágio humano. É como xingar um terremoto.

    Assim, o presidente, que já é turbulento, entra em combustão: não quer um operador nacional da crise sanitária, pois isto deixaria o governo totalmente em segundo plano, já que sabe que não tem um operador da crise econômica ligada a ela. Ou seja, quer fazer o lockdown da temporalidade. Bloquear o tempo em fevereiro e dizer que dali para cá quem gastar com a calamidade é responsável por tudo de errado que ele fez até agora.

    Se alguém for amigo do presidente é bom dizer rapidamente a ele que sem investimento público emergencial federal o vírus vai, além de adoecer o cidadão ampliar a estagnação, a doença da economia no seu governo.

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    E se alguém conseguir resolver o quebra-cabeça que é pegar um avião e ver se consegue falar com o ministro Paulo Guedes é bom dizer a ele que o coronavirus não está pedindo mudança do modelo econômico liberal, mas mudança no padrão de gestão do presente.

    Conversar com Rodrigo Maia é um bom caminho, pois foi ele o primeiro a entender, e por isso tem sido a voz mais sensata dessa crise.

    O vírus não pode espalhar, senhor Presidente, é porque o Brasil, e o mundo, não tem leitos suficientes para receber todos os pacientes infectados. E ninguém é Deus para na porta do hospital decidir quem vai para o necrotério.

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    Sabemos que a saúde nunca monopolizou a atenção de todos como agora, mas é impressionante não perceber que não há necessidade de mobilização nacional para gerar o discurso que justifique o investimento necessário ao combate da situação.

    Metam a mão no bolso, planejem a solidariedade oficial, protejam o caixa dos milhões de brasileiros que fecharam as portas do seu negócio para colaborarem com o mutirão sanitário do país. É dever do Estado pagar as dívidas de quem se comportou com responsabilidade pública e coletiva. Ou criem uma ala no governo para os incuráveis da insensibilidade.

    Paulo Delgado é professor, sociólogo e consultor de empresas;  https://capitalpolitico.com 

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