A radicalização política no Brasil, que se intensificou a partir dos protestos de 2013, desencadeou uma série de eventos alarmantes com graves repercussões. As explosões ocorridas no STF são mais um exemplo trágico de um fenômeno alimentado pela polarização extrema. No entanto, é importante ressaltar que, ao que tudo indica, trata-se de um ato isolado, protagonizado por um indivíduo com evidentes sinais de desequilíbrio mental.
Diante de tais acontecimentos, duas respostas são essenciais. A primeira é uma atuação firme e enérgica das autoridades para investigar o caso em profundidade, identificando possíveis ramificações ou instigadores que possam ter contribuído para o ataque. Somente uma resposta rápida e eficaz do Estado pode garantir que atos de violência política não se tornem um padrão. É imperativo também que o Judiciário atue com serenidade e firmeza, demonstrando que, mesmo sob ataque, não cede a pressões nem adota uma postura exibicionista. Exibir a face da Justiça com equilíbrio é essencial para reafirmar a autoridade e evitar a amplificação de sentimentos de revolta e insegurança.
Apesar da clara manifestação de uma inclinação centrista nas urnas durante as últimas eleições municipais, os efeitos remanescentes da polarização radical ainda se fazem sentir. A reação do eleitorado, optando por candidaturas mais moderadas, indica um cansaço diante do discurso de confronto e uma demanda crescente por estabilidade e pragmatismo. Contudo, seria um erro acreditar que isso seja suficiente para dissipar os resquícios de um processo de radicalização.
“A superação desse estado de conflito demanda uma ação coordenada e corajosa das lideranças”
O legado dessa polarização, alimentada tanto pela extrema direita quanto pela extrema esquerda, não desaparecerá automaticamente. Ele permanece enraizado nas instituições, no debate público e, principalmente, na cultura política que se desenvolveu a partir da intensificação das redes sociais e da amplificação de discursos sectários. A superação desse estado de constante conflito exige mais do que uma mudança eleitoral; demanda uma ação coordenada e corajosa das lideranças políticas e dos chefes dos três poderes.
Nesse contexto, impõe-se a necessidade de um pacto pela pacificação institucional que transcenda as diferenças ideológicas e se concentre em compromissos fundamentais com a democracia e o respeito às instituições. Esse pacto deve envolver um esforço consciente para reduzir a temperatura do debate político e promover um ambiente de diálogo, mesmo diante de divergências. Não se trata de apagar as diferenças ou de renunciar às convicções políticas, mas de reconhecer que a convivência democrática depende da aceitação de limites civilizatórios que impeçam a destruição dos avanços democráticos duramente conquistados.
O papel das lideranças políticas, especialmente dos chefes dos poderes, é crucial. A retórica precisa ser de moderação, e o exemplo deve ser de respeito à pluralidade e à divergência. Não haverá pacificação sem um compromisso explícito de combater o uso político do ódio e de desestimular a linguagem beligerante. Apenas com um esforço conjunto e institucional será possível iniciar o longo processo de cura das feridas deixadas pela polarização radical, consolidando um ambiente mais estável e propício para o desenvolvimento de boas políticas públicas.
Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2024, edição nº 2919