Uma princesa parda para Harry. Agora chega de falar nisso?
Pelos critérios brasileiros, esta seria a designação de Meghan Markle, a atriz americana que vai se casar com o príncipe ruivo
Quanto mais os jornalistas tentam contornar o assunto, mais uma batalha titânica incendeia as redes sociais.
Quem vai ganhar: os autores de comentários abjetamente racistas, os que reclamam de ter que sustentar mais uma boca na família real ou os que, contra todas as evidências, afirmam não ligar a mínima para o anúncio do casamento de Harry, o caçula da princesa Diana, com a atriz americana Meghan Markle?
Até o casamento, em data que pode ir de março a maio do ano que vem, o assunto estará relativamente esgotado.
Exceto pelos que se agarram a preconceitos rejeitados quase unanimemente pela maioria das sociedades civilizadas, ou que aspiram a isso, pode até ser positiva para a família real a presença na cerimônia – e na vida dos noivos – de Doria Radlan, psicoterapeuta e instrutora de ioga negra, a mãe de Meghan.
Em que outro lugar, fora da civilização ocidental, um casamento em condições similares seria recebido com a satisfação anunciada pela avó de Harry, a rainha Elizabeth, e manifestada na expressão do pai dele, o príncipe Charles?
Ao contrário do que acontece na novela O Outro Lado do Paraíso, Rachel Meghan Markle é uma noiva bem-vinda. Não só vai ser tratada como Sua Alteza Real como talvez venha a ser a duquesa de Sussex.
O título de duque de Sussex, extensivo à mulher, só não será dado pela rainha a Harry no dia do casamento, como faz parte da tradição, se ele não quiser.
No mundo dos títulos de nobreza, ser duquesa está acima de uma mera princesa consorte. Kate, a mulher de William, tornou-se duquesa de Cambridge e assim será oficialmente tratada até que o sogro assuma o trono e e ela se torne a princesa de Gales.
Se criticar Kate é um esporte nacional, procurar defeitos em Meghan virou a nova mania dos invejosos. É muito magra e muito velha (36 anos, imaginem!), dizem eles. Usa cabelo postiço. Tem meio-irmãos que querem faturar de carona nela e um ex-marido que vai produzir uma série sobre um sujeito cuja ex-mulher se casa com um príncipe.
A própria Meghan parece ter autoconfiança suficiente para enfrentar as reações negativas. “Sou atriz, escritora e editora-chefe da minha marca de estilo de vida; cozinho bem e acredito firmemente em notas escritas à mão”, definiu-se ela num artigo que escreveu para a revista Elle.
A ideia era apresentar características mais importantes do que a definição “racial” que ela dizia ser a primeira pergunta de todos a quem conhecia pela primeira vez – uma dúvida provavelmente maior nos Estados Unidos do que no Brasil, onde ser “etnicamente ambíguo”, nas palavras dela, é muito mais comum.
De todas as características que se atribuiu, Meghan agora só vai usar a crença nas notas escritas à mão, uma obrigação para membros da realeza.
Meghan largou a carreira de atriz, encerrou o blog onde discorria sobre beleza e saúde e não tem mais marca de estilo de vida. Harry que se prepare para ouvir isso tudo pelo resto da vida. É mais fácil os ressentidos desistirem de falar na origem racial da futura duquesa do que uma mulher esquecer o que abandonou em favor do casamento. Até com um príncipe.