Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Trabalhar das 9 às 9, seis dias por semana? Jovens chineses pedem folga

A cultura da dedicação total ao trabalho, que ajudou a impulsionar a explosão econômica da China, começa a mostrar algumas brechas

Por Vilma Gryzinski 6 ago 2021, 08h37

Qualquer chinês entende o significado dos três números: “996”. Eles representam o regime de trabalho das 9 horas da manhã às 9 da noite, de segunda a sábado – algo inconcebível nos países ocidentais onde a semana de 48 horas já parece longa demais (na França, é de 35 horas).

A extrema dedicação ao trabalho é uma característica cultural de países orientais como China, Coreia e Japão, mas a “construção do comunismo” exigiu dos chineses sacrifícios adicionais. 

Quando o capitalismo vigiado substituiu o regime da propriedade coletivizada, as exigências continuaram as mesmas – ou até aumentaram. O trabalho duro passou a dar mais recompensas, o padrão de vida subiu espetacularmente e o país se transformou numa potência industrial, tecnológica e científica capaz de pousar uma nave na Lua ou de fabricar os celulares de praticamente o planeta inteiro.

Fora das fábricas ainda em regime “selvagem”, onde os trabalhadores moram em galpões anexos, como se fossem servos, são justamente as empresas de tecnologia que exigem mais de seus funcionários – ou que alcançam mais repercussão quando acontecem casos abusivos. 

Em janeiro, morreram dois funcionários da Pinduoduo, gigante do comércio via redes sociais, num episódio atribuído ao excesso de trabalho. A ByteDance, “mãe” do TikTok, pede uma semana de seis dias por mês.

Não é um fenômeno recente. A novidade é que surgiu um movimento de inconformismo com a carga horária pesadíssima. Tem até nome, “tang ping”. A melhor tradução seria “de pernas para o ar”.

Continua após a publicidade

A origem do movimento é atribuída a Luo Luazhong, um operário de fábrica que largou o emprego e foi andando de bicicleta até o Tibete. Na volta, passou a escrever sobre o estilo de vida “tang ping”.

“Trabalhando numa fábrica, eu me sentia como um rato. Agora estou bem, relaxado, feliz. Não acho que tenha nada de errado em não querer passar a vida trabalhando como um rato”, foi uma de suas mensagens de maior repercussão.

Não é nada diferente das crises existenciais que tantos jovens, de tantas gerações, viveram no Ocidente. Na China, soou como heresia. A hashtag #TangPing foi banida do Weibo, o Twitter chinês.

A ideia subversiva de que é possível viver “de pernas para o ar” – com pouco, sem maiores ambições materiais, mas também sem a pressão por resultados – tem um certo apelo a muitos jovens da geração de filhos únicos que se sentem espremidos entre a responsabilidade pelos pais, uma das vigas mestras do contrato social chinês, e as demandas de um mercado exigente.

A economia chinesa já se ressente  do declínio na força de trabalho. A política do filho único, essencial para um país ainda beirando a miséria como a China dos anos oitenta do século passado, hoje se reflete numa força de trabalho que já alcançou o pico. Os números têm dimensões chinesas: o encolhimento populacional será de 260 milhões nas próximas três décadas.

Continua após a publicidade

Permitir até três filhos por casal, como foi anunciado no começo do ano, não significa que a população em idade fértil dará ouvidos. Os custos de moradia e educação são os fatores preponderantes nesse tipo de decisão

É possível ter menos gente trabalhando – ou gente trabalhando menos – se a produtividade aumentar, um campo em que a China ainda tem muito a evoluir. Segundo cálculo da Bloomberg, a produtividade chinesa chegará a 70% da americana somente em 2050.

Trabalhar menos é uma demanda de tempos de fartura – e nunca tantos chineses tiveram tanto como nos tempos atuais. 

Viver de pernas para o ar demanda o tipo de liberdade individual que é um artigo raro na China. Que um ex-operário tenha inspirado tantos jovens a, se não seguir, pelo menos admirar seu estilo de vida, mostra que sonhar é para todos. Mas tem um significado especial para quem vive no esquema 996.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.