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Tortura chinesa: deixar Hong Kong protestar até arrebentar

Para variar, não existem saídas boas; comunistas chineses sabem que o preço de repressão seria alto e, por isso, esperam os atos ficarem insuportáveis

Por Vilma Gryzinski
14 ago 2019, 10h50
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  • Bandeira americana agitada e o hino nacional que celebra “a terra dos livres e a pátria dos bravos” sendo cantado em pleno território chinês? Por chineses?

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    É inacreditável – inclusive porque os americanos progressistas cada vez mais rejeitam seus próprios símbolos pátrios.

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    Mas os manifestantes de Hong Kong, que já haviam empunhado a bandeira britânica que teoricamente deveriam repudiar por representar a potência colonial que dominou o enclave durante 156 anos, sabem onde a coisa pega com a cúpula comunista.

    E com a base também: o nacionalismo chinês foi uma das forças mais poderosas e habilmente manipuladas para a vitória, a consolidação e a manutenção do regime comunista.

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    Dar corda aos manifestantes de Hong Kong para que cometam sacrilégios como a celebração com as bandeiras estrangeiras, e agora justamente a americana, infernizem a vida da cidade com a paralisação do aeroporto e do trânsito em geral e pratiquem atos de violência contra policiais, é uma tática para preparar o terreno.

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    Os manifestantes de cabeça comparativamente fria sabem disso. Até pediram desculpas pelos dois dias de aeroporto fechado, os transtornos causados à população e atos como a pancadaria que caiu sobre um policial empurrado da escada, interrompida somente quando ele sacou a arma.

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    Assinado: “Um grupo de hongkongueses que anseia por liberdade e democracia”.

    Tradução: o movimento é horizontal e não tem uma liderança unificada capaz de conter os excessos que justifiquem uma eventual intervenção pesada.

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    Note-se também o detalhe de que os protestos começaram por causa de um projeto de lei permitindo a extradição para a China propriamente dita de residentes na cidade, que vivem num regime especial mais livre e parecido com o estado de direito, para ser submetidos às conhecidas gentilezas da justiça chinesa em caso de ações penais

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    Agora, os manifestantes querem liberdade, democracia e, suprema heresia, independência da China comunista.

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    A probabilidade de que isso aconteça é zero.

    Mas isso não significa que a cúpula comunista, extremamente verticalizada sob o comando de Xi Jinping, saiba tudo o que vai fazer e como.

    Do ponto de vista dela, todas as saídas são ruins.

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    PRISIONEIRO DO ESTADO

    É impensável que protestos de grande dimensão, paralisantes, continuem em Hong Kong, inclusive pelo efeito contágio.

    É pensável, mas extremamente custosa, uma intervenção armada, com tropas e tanques, à moda da Praça da Paz Celestial, mesmo que a pedido das autoridades e da parte da população hongkonguesa que não aguentar mais ver o grande ativo local – negócios, negócios, negócios – ser prejudicado.

    A dinâmica dos protestos é parecida. Em 1989, os manifestantes de Tiananmen também começaram, de forma limitada, prestando homenagens ao recém-falecido Hu Yaobang, um companheiro de abertura de Deng Xiaoping, como uma maneira indireta de reivindicar mais liberdade.

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    Foram, naturalmente, cada vez mais pedindo o impossível. O pânico das lideranças atingiu o ápice quando apareceram na praça caminhões levando operários do cinturão fabril de Pequim, com cartazes de apoio aos “nossos estudantes”.

    A decisão de reprimir os protestos, que tiveram na época o mesmo efeito contagiante, não foi fácil nem unânime.

    Protagonista mais importante do racha na cúpula comunista, Zhao Ziyang assim descreveu o desencadear da repressão: “Na noite de 3 de junho, sendo no pátio com a minha família, ouvi um fogo pesado. A tragédia que chocaria o mundo não tinha sido evitada e estava, afinal, acontecendo.”

    Zhao Ziyang ficou confinado em prisão domiciliar até morrer, em 2005. Teve tempo suficiente para rever os conceitos defendidos em uma vida a serviço da Revolução Comunista.

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    Os sistemas democráticos de países socialistas “são todos  puramente superficiais, não são sistemas em que o poder emane do povo, mas sim em que este é dominado por poucos ou até uma única pessoa”, escreveu em Prisioneiro do Estado.

    Muitos antes de ser “devolvida”, Hong Kong já era amplamente usada como entreposto financeiro, bancário e comercial da China comunista.

    Sem contar os prazeres proibidos na era mais puritana, incluindo cavalos, jogatina, joias, ópio, mulheres, mulheres e mulheres. Ou qualquer outra variação desejada.

    Um simples exemplo: o PIB per capita da China é de 9.700 dólares, um prodígio para um país onde uma tigela de arroz por dia durante muitos anos era considerado um benefício.

    O de Hong Kong é de 38.700 dólares.

    Ninguém quer arruinar isso, mas ninguém, nem mesmo Xi Jinping, tem poder sobre tudo.

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