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Surreal: milhares de iranianas perdem carros por dirigir sem véu na cabeça

Essa é a nova forma de punição do regime teocrático para perseguir as “rebeldes”, segundo investigou a Anistia Internacional

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 7 mar 2024, 06h45 - Publicado em 7 mar 2024, 06h38

Muitas mulheres já sentiram isso: sozinhas em seus carros, com autonomia para ir onde quiserem num espaço protegido, têm uma sensação de liberdade. No Irã, dirigir sem o véu obrigatório na cabeça está criando a reação oposta. As mulheres que se sentem livres para andar como quiserem, vivem com medo de terem os carros apreendidos ou até confiscados definitivamente.

Câmeras, policiais de moto e integrantes de diversos órgãos de segurança do regime denunciam o grave “pecado” cometido por quem dirige com os cabelos aparecendo, segundo um levantamento feito pela Anistia Internacional com base em depoimentos, documentos judiciais e mensagens de texto enviadas pelas autoridades às “infratoras”. O número total, segundo a Anistia, envolve centenas de milhares de motoristas.

“Meu carro quebrou e eu estava chorando. Saí dele e não estava usando a cobertura na cabeça. Um homem em trajes civis ligou para as autoridades e mandaram um agente me pegar”, contou uma das mulheres ouvidas, obviamente em sigilo.

“Achei que eram ladrões, mas eram policiais de moto”, descreveu outra.

Mais um depoimento: “A Polícia da Segurança Moral me enganou, disse que só queria conversar e não iria acontecer nada, mas quando cheguei lá, disseram que todo mundo passaria pela apreensão. Tinha muitas pessoas como eu e até homens que usam cabelo comprido e haviam sido confundidos com mulheres”.

MAQUIAGEM E CABELÃO

A repressão aumentou depois que foi contida, na marra, a onda de protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini, detida em setembro de 2022 pela polícia religiosa por usar o véu com algumas mechas de cabelo aparecendo. A reação foi forte, com inúmeros protestos nas ruas e em escolas onde meninas adolescentes arrancavam o pano transformado em símbolo de opressão.

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O regime teocrático iraniano, dominado por aiatolás xiitas, segue uma interpretação estrita sobre a cobertura na cabeça e o uso de roupas largas e compridas que não marquem o corpo – o rosto fica livre (na foto acima, a cobertura total é uma exceção praticada em épocas de culto).

A imposição do véu e outras restrições, a partir da revolução islâmica, em 1979, esbarra há anos na realidade do mundo digital.

As redes sociais criaram um espaço infinito para adolescentes e mulheres que não querem os controles estritos e gostam do que todo mundo gosta – maquiagem, cabelão bem tratado e mostrado com orgulho, roupas da moda.

Existe, de fato, uma parcela grande da população que se identifica com os valores mais conservadores e, em lugar de permitir que quem quer cobrir a cabeça, que cubra, e quem não quer, vista-se como quiser, o regime considera que as restrições religiosas são uma parte vital da sua ideologia. As penas mais pesadas para as transgressoras podem incluir surras com varas e prisão.

RELIGIÃO E ESTADO

No mês passado, foi vazada para a BBC uma pesquisa feita pelo próprio governo, através do Ministério da Cultura e da Orientação Religiosa, mostrando que 45% dos iranianos são contrários ou extremamente contrários ao uso obrigatório do véu, chamado de hijab em árabe e de chador em persa. Os que são a favor constituem 41%.

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Outro dado interessante: 72,9% são a favor da separação entre religião e estado. Da última vez em que a pesquisa foi feita, em 2015, esse número era de apenas 30,7%.

As bases da legitimidade do regime estão assim sendo colocadas em dúvida, o que explica o aumento da repressão a níveis absurdos, como a condenação a três anos de prisão de Shervin Hagipour, um cantor popular e bonitão que poderia muito bem estar entre os ídolos sertanejos do Brasil. A música é emocionante mesmo para quem não se identifica com o gênero pop persa.

Detalhe cruel: o cantor, que ganhou um Grammy recebido por Jill Biden também terá que compor uma música mostrando os “crimes americanos”.

Com todo o desalento que a situação no Irã provoca, é impossível não ver que prender cantores e perseguir mulheres que dirigem com os cabelos descobertos não pode durar para sempre.

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