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Putin está não só perdendo a guerra, como a paz: ameaça nuclear é fatal

Mobilizar reservistas, fazer referendo fake para anexar territórios ucranianos e insinuar uso de armas nucleares mostram por que até aliados se afastam

Por Vilma Gryzinski 21 set 2022, 07h32

“Não é um blefe”. Vladimir Putin fez aquela cara fria de chefão mafioso ao dizer que a Rússia tem muitos “instrumentos” para responder a uma ameaça nuclear.

Não só é um blefe, como quem faz ameaças nucleares constantes são os russos. É inevitável deduzir que Putin estava falando grosso para acalmar seus partidários mais à direita, os ultranacionalistas que reclamam que ele está sendo brando demais contra a Ucrânia.

Outro gesto em direção à linha dura, este com efeito bomba entre a opinião pública, foi a mobilização de 300 mil reservistas para entrar na guerra, o que mais que dobraria a força inicial que desfechou a invasão, em fevereiro.

A mobilização mostra que as baixas sofridas pela força invasora, que poderiam passar de 70 mil, são realmente brutais.

Um grande número de tropas reforçaria as posições russas, que em vários pontos cedem a contra-ataques ucranianos, na maior derrota dos invasores dos sete meses de guerra. E garantiria a ocupação dos territórios onde serão feitos “referendos” – totalmente ilegítimos – para montar um teatro surreal que justifique a pura e simples anexação dessas regiões à Rússia.

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“Hoje um referendo, amanhã  o reconhecimento de que fazem parte da Federação Russa, depois de amanhã ataques contra território russo se tornam uma guerra total de Ucrânia e Otan contra a Rússia, liberando nossas mãos em todos os aspectos”, resumiu a belicosa Margarita Simonian, diretora de redação de dois braços da propaganda do Kremlin, a televisão RT e o site Sputnik.

Ameaças desse teor, invocando o uso de armas nucleares, só fazem aliados racionais como China, Índia e Turquia se afastarem do poço sem fundo de problemas, envolvendo nada menos que a sobrevivência da humanidade, que a Rússia se tornou.

Antes de discursar na Assembleia Geral da ONU, propondo uma negociação de paz que ninguém vai fazer, o presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, deu uma reveladora entrevista à PBS, o canal pública de televisão dos Estados Unidos.

“A devolução dos territórios invadidos será muito importante”, explicitou em palavras equivalentes a uma cimitarra turca cravada, cuidadosamente, mas sem vacilar, nas costas de Putin.

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Erdogan é um político matreiro, impiedoso quando acha que precisa ser assim, ambíguo quando quer ver para que lado as coisas vão.

E as coisas não estão indo bem para Putin. Ou, nas palavras do líder turco, “estão indo numa direção problemática”, um eufemismo para as perdas russas na região de Luhansk, onde seu controle parecia inexpugnável. 

Até na Crimeia o aperto está aumentando: submarinos russos estão sendo retirados da base naval de Sebastopol. A informação vem do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha e demonstra uma vulnerabilidade quase inacreditável: a frota russa no Mar Negro, único abrigo do congelamento das águas no inverno, está com medo de mais ataques com drones.

Erdogan disse na entrevista que conversou muito com “meu amigo Putin” na conferência de cúpula do Azerbaijão e ele “mostrou que está disposto a acabar com isso o mais rapidamente possível”.

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Putin, claro, não está disposto a nada disso, mas Erdogan está criando uma futura porta de saída. Com condições ruins para Putin. 

Deveria ser permitido à Rússia manter alguma parte do território ucraniano que conquistou a partir da invasão da Ucrânia em fevereiro, perguntou a entrevistadora.

“Não, indubitavelmente não”, cravou Erdogan.“As terras que foram invadidas serão devolvidas à Ucrânia”.

A reunião de Samarcanda, a histórica cidade na Rota da Seda, foi um desastre diplomático para Putin. Não ouviu uma palavra de apoio de Xi Jinping, que manteve a inabalável política chinesa de não comprometimento. Putin, ao contrário, teve que admitir as “questões e preocupações” chinesas em relação à guerra na Ucrânia e prometer que as levaria em conta.

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Do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, teve que ouvir que “não estamos mais no tempo de fazer guerra”.

Só aí já foram os líderes de 2,8 bilhões de pessoas, quase um terço da população mundial.

Para completar, o presidente do Quirguistão, Sadir Japarov, deixou-o plantado por 45 segundos para começar uma reunião conjunta. A tática já havia sido usada por Erdogan, em retribuição nada disfarçada ao mesmo tratamento que Putin lhe havia reservado.

O homem que já deixou a falecida rainha Elizabeth II e até o papa Francisco esperando, sofreu um constrangimento público infligido pelo Quirguistão, uma das cinco ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central. Nenhuma delas votou a favor da Rússia na resolução da ONU em março condenando a invasão da Ucrânia. Não ajudou muito que, no surto ultranacionalista provocado pela guerra, personalidades russas tenham começado a pedir a restauração da “Rússia histórica”. Todo mundo sabe o que isso significa.

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A mobilização de 300 mil reservistas “com experiência de combate” mostra que o maior país do mundo tem falta de mão de obra militar.

O grupo Wagner, uma força paramilitar criada por um ex-dono de restaurante que atendia Putin e virou oligarca das guerras paralelas, está varrendo as prisões e campos do país, em busca de voluntários que aceitem servir na frente de combate durante seis meses, em troca de anistia.

Uma ONG que trata de encarcerados, Rússia Atrás das Grades, disse que está recebendo telefonemas desesperados de presos e familiares, o que mostra que os russos sabem muito bem que a coisa está feia na Ucrânia. E deu um exemplo: num grupo de 66 prisioneiros enviados para a guerra, 60 foram mortos imediatamente.

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