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O triunfo do mal? Quase

A inversão dos valores: Putin, Irã e Hamas podem cantar vitória

Por Vilma Gryzinski 2 mar 2024, 08h00

Alexei Navalny está morto e Vladimir Putin está saltitante, tendo não só interrompido os reveses russos na invasão da Ucrânia, como invertido a dinâmica da guerra. Será reeleito com votação consagradora agora em março, podendo se dar ao luxo de escolher qual a proporção de votos terá, uma prerrogativa dos tiranos até quando ganham nas urnas. Quase inacreditavelmente, uma grande corrente da direita americana, identificada com o trumpismo, abraçou com entusiasmo um dos principais argumentos da propaganda russa, o de que vai contra os interesses dos Estados Unidos sustentar a resistência ucraniana. “O errado não deixa de ser errado só porque a maioria concorda e participa”, avisava Tolstói. Gênio, louco, moralista, buscador da verdade, criador de seita, anarcopacifista e tudo o mais de fora do comum e grandioso que possa sair da mitológica Mãe Rússia, o escritor do amor, da guerra e da espiritualidade não deixaria de contemplar com espanto não só o sofrimento infligido por russos a seus irmãos ucranianos como o insensato colaboracionismo do trumpismo iletrado, uma inversão total dos mais elementares valores morais.

Essa inversão desfila diariamente por ruas das grandes capitais ocidentais e de universidades que já foram o foco irradiador do conhecimento e do humanismo e hoje celebram os feitos do Hamas. Não é, obvia­men­te, errado se compungir com o sofrimento da população civil de Gaza e procurar as maneiras corretas de interrompê-lo, mas comemorar os islamistas ultrarradicais e genocidas juramentados é uma abominação. Os que deveriam dar o exemplo de clareza moral fazem o oposto disso: confundem conceitos e ignoram, deliberadamente, os fatos que levaram à atual e terrível situação em Gaza, tão terrível que poderá dar a chance aos líderes do Hamas de sobreviver na rede de túneis, construída para protegê-los. Com eles cantarão vitória outros vultos do eixo do mal, dos teocratas do Irã ao pequeno imperador vermelho da Coreia do Norte.

“ ‘Tudo o que é bom para os Estados Unidos é ruim para nós’, raciocina quem deveria dar o exemplo de clareza”

Os maus comemoram enquanto os postos avançados da civilização ocidental que celebram o Hamas se dedicam à autofagia em nome do que acreditam, equivocadamente, ser o combate ao preconceito racial. Já foram colocadas na lista de instituições racistas a matemática, a física, a lição de casa, as notas de avaliação e, mais recentemente, a escrita e a leitura. Obviamente, isso tudo funciona contra os alunos não brancos e brancos. Diagnosticou Larry Summers, ex-reitor de Harvard e integrante da equipe econômica nos governos Clinton e Obama: “Os valores outrora considerados centrais para as nossas universidades — excelência, verdade, integridade, oportunidade — passaram a ser vistos como subordinados à busca de certos conceitos de justiça social e de identidade, e à primazia do sentimento sobre a análise”.

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No Sul Global, esta ficção inventada pela China e pela Rússia para promover seus interesses, o declínio da civilização ocidental, é saudada como uma vitória. “Tudo o que é ruim para os Estados Unidos, é bom para nós”, raciocinam. Até o corpo de um homem martirizado pelo regime russo é transformado em objeto de ironia e desprezo. “A vida não é uma batalha entre o bem e o mal, mas entre o mau e o pior”, lembrou-nos o poeta Jo­seph Brodsky, outro hóspede involuntário do sistema prisional russo. Os maus triunfam quando o mal é celebrado.

Publicado em VEJA de 1º de março de 2024, edição nº 2882

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