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O que realmente aconteceu na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro?

Os vídeos revelados pelo provocador Tucker Carlson mostram o lado pacífico dos manifestantes, o que não elimina os atos destrutivos

Por Vilma Gryzinski 10 mar 2023, 07h37

Nada como ter dois lados antagônicos, competindo para comprovar a validade das respectivas narrativas.

A versão predominante até agora dos acontecimentos do dia 6 de janeiro de 2021 era uma montagem focada na agressividade dos manifestantes trumpistas que invadiram o Capitólio para protestar contra o que acreditavam arrebatadamente ser uma eleição roubada de Joe Biden.

Mesmo quem acompanhou tudo ao vivo, e viu uma multidão majoritariamente pacífica, passou a não duvidar dos abusos que as cenas editadas mostravam, não só em termos de atos agressivos como do simbolismo de uma invasão à sede do Poder Legislativo

Exceto pelo fato de que, no mundo atual, não podemos acreditar nem em nossos olhos.

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O outro lado da realidade tem sido mostrado pelo apresentador Tucker Carlson, um mestre da manipulação que precisa ser assistido com um bocado de informação para não cair em seus truques.

Com a eleição que deu a maioria aos republicanos na Câmara dos Representantes, Carlson conseguiu 44 mil horas de gravações de câmeras de segurança do Congresso, fornecidas pelo novo presidente do legislativo, Kevin McCarthy.

É claro que Carlson editou as cenas mostradas em seu programa na Fox para enfatizar o oposto da versão de violência descontrolada. Mas é impossível negar o que está exposto. 

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As cenas mais definitivas envolvem o personagem mais notório do 6 de janeiro, Jacob Chansley, conhecido como o Xamã do QAnon, um site ultraconspiracionista. Em vez do selvagem sem camisa em temperatura abaixo de zero e um arranjo de cabeça composto por chapéu de pele com chifres, vemos a exótica criatura caminhar calmamente por vários ambientes da sede do legislativo, sempre acompanhado por dois integrantes da polícia do Capitólio que chegam a procurar portas para abrir e lhe dar passagem. Os agentes não o interceptam em momento algum. Num determinado momento, há nove membros da polícia do legislativo em volta dele, sem nenhum incidente de parte a parte.

Outras cenas mostram Brian Sicknick, um policial legislativo que morreu ao chegar em casa depois da invasão do Capitólio, devido a um AVC provocado por causas naturais. A versão de que ele havia sofrido traumatismo craniano ao ser atingido por um extintor de incêndio durante a invasão já havia sido amplamente desmentida, mas vê-lo se deslocar com calma durante os acontecimento acrescenta uma nova dimensão aos fatos.

Apurar os fatos, e entender como são apresentados por campos políticos opostos, é importante para os jornalistas e para a sociedade em geral. Existe também, obviamente, um paralelo entre os acontecimentos de janeiro de 2021 em Washington e os de 2023 em Brasília. Fazer comparações automáticas é um erro, mas também o é ignorar os pontos em comum. Com uma importante diferença: a depredação dentro das sedes dos Três Poderes em Brasília foi muito maior.

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Tucker Carlson mostrou as cenas inéditas num momento de alta volatilidade para a Fox, acusada num processo por difamação pela Dominion Voting Systems, empresa canadense proprietária de urnas usadas na última eleição presidencial e acusada por apresentadores do canal a cabo de “sumir” com 2,7 milhões de votos destinado a Donald Trump. Como tudo acontece nos Estados Unidos, o paraíso das indenizações sem relação com a realidade, a Dominion pede 1,6 bilhão de dólares.

Divulgadas por exigência da justiça, mensagens trocadas entre as principais estrelas da Fox mostram que eles são como todos os jornalistas: falam o que realmente acham quando estão no WhatsApp.

A mensagem mais comentada é a de Tucker Carlson sobre Donald Trump e tem uma natureza surpreendente. “Estamos muito, muito perto de poder ignorar Trump completamente”, escreveu ele em 4 de janeiro de 2021 (ironicamente, dois dias depois seria desmentido pela realidade);

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“Mal posso esperar. Eu o odeio fervorosamente”.

Em outro trecho, ele diz que o verdadeiro talento de Trump “é para destruir coisas. Poderia nos destruir facilmente se fizéssemos o movimento errado”.

A audiência recordista de Carlson pode ficar decepcionada, mas a mensagem mostra camadas de complexidade que já haviam aparecido também em mensagens de Sean Hannity, o outro apresentador linha dura. Durante a invasão do Capitólio, ele apelou a suas fontes no governo para que fizessem Trump mandar o povaréu sair da sede do legislativo, sob pena de se autodestruir.

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Em outra troca de mensagens, Carlson, Hannity e Laura Ingraham se dedicam a uma atividade muito apreciada por jornalistas em geral, falar mal dos patrões.

“Estamos oficialmente trabalhando para uma organização que nos odeia”, escrevem Ingraham, referindo-se à atitude de outro apresentador de sair à frente das outras emissoras e anunciar que Biden tinha ganhado a eleição no estado do Arizona.

“Nós três temos um poder enorme. Temos mais poder do que sabemos ou exercemos”, comenta ela.

Têm mesmo. Dominar a narrativa confere grande poder. É por isso que os jornalistas honestos precisam tentar ser fiéis aos fatos na medida de suas possibilidades, controlar o próprio desejo de desprezar os que são contra suas posições políticas e abrir bem os olhos, principalmente para coisas que prefeririam não ver.

É claro que Tucker Carlson é o oposto disso tudo, mas as cenas que ele está mostrando não podem ser ignoradas. São tão eloquentes que o líder do Senado, o democrata Chuck Schumer, apelou diretamente a Rupert Murdoch para não deixar que Carlson continuasse com seu “desprezo pelos fatos, indiferença aos riscos e plena consciência de que está mentindo para sua audiência”.

Quem está mentindo mais? 

A vida é complicada e nem sempre há respostas simples, mas ver os vídeos apresentados pelos dois lados, inclusive durante a comissão de inquérito da época da maioria democrata, ajuda a entender melhor o que realmente aconteceu naquele dia na sede do Poder Legislativo e desconstrói as visões unilaterais.

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